Capítulo 3

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LUÍSE THOPERTON

-Titia, vamos mesmo ficar aqui?

-Vamos, meu amor. Gostou do lugar? – O cubro com a coberta e beijando sua testa.

-Gostei, é uma casa bem grandona e o conde é bem legal.

-Você acha? – Pergunto tentando parecer desinteressada.

-Eu acho. – Sorri – A senhora até podia casar-se com ele.

-Me casar? Com o conde? Não, meu amor, acho isso muito difícil.

-A senhora não gostou dele?

-Gostei, o conde foi muito bondoso em nos deixar ficar, mas é só por um tempo e logo vamos embora.

-O que vamos fazer amanhã?

-Ainda não sei, vou pensar e depois te digo, tudo bem? – Ele concorda e eu sorrio – Ótimo, agora é melhor você dormir e descansar.

-Boa noite, tia.

-Boa noite, meu amor. – Dou-lhe mais um beijo antes de apagar as velas e sair do quarto, deixando apenas a luz da lareira iluminar o ambiente.

Fecho a porta atrás de mim e sigo para o meu quarto. Fecho a porta e caminho até a cama, me sentando e encostando na cabeceira da cama para finalmente me permitir chorar. Todas as lágrimas que contive ao longo dos dias, de medo, frustração, raiva, apreensão.

Cuide dele, Luíse.

Eu vou cuidar, John, vou cuidar nem que seja a última coisa que eu faça na vida. Edmund está a salvo comigo e não vou deixar que aquele homem faça nenhum mal a ele. Caminho até o lavabo do quarto e jogo um pouco de água no rosto, respiro fundo e saio do quarto. A essa hora, de acordo com as informações que a gentil governanta me deu, o senhor D'Evill está trabalhando no escritório, onde costuma passar o tempo quando não está trabalhando ao ar livre.

E ele trabalha bastante, pude perceber. A pele bronzeada faz os olhos brilharem como duas estrelas, a cor verde do mesmo tom de esmeralda contém um brilho diferente, como se estivesse sempre desconfiado de tudo e tentando desvendar os segredos de todos. Certamente é errado pensar isso do nosso caridoso anfitrião, mas que o homem é obscenamente bonito, é. O mais inusitado de tudo é que ele parece não ter noção da beleza que tem.

Oh céus.

Os cabelos loiros e escuros, grandes demais para os padrões de beleza já que passam de seu queixo. Quando ele entrou na sala de visitas não pude deixar de notar seu porte atlético, alto e musculoso, com os primeiros botões da camisa abertos e as mangas dobradas até os cotovelos. Parecia um trabalhador braçal. E a barba por fazer? Céus, como o deixa ainda mais lindo, preenchendo aquele rostinho lindo e a boca carnuda e bem desenhada.

-A senhorita não deveria estar recolhida? – A voz da senhora Watson traz-me de volta a realidade e paro no meio da escadaria.

-Estou sem sono. – Sorrio sem graça – Meu corpo está cansado, mas a cabeça não desliga.

-Quer que eu prepare um chá? – Ela estende a bandeja e finalmente percebo que ela estava a caminho de servir alguém, certamente o patrão.

-Não precisa, vou respirar um pouco lá fora, mas muito obrigada pela gentileza senhora Watson.

-Não há motivo para agradecer, senhorita Thoperton.

-Me chame de Luíse, por favor.

-Como quiser. – Sorri docemente – Mas sugiro que não vá muito longe, sim?

-Não irei, ficarei sentada na escadaria da entrada.

-Tudo bem, qualquer coisa me grite. Oh! Não, não, ladies não gritam. Se precisar pode me chamar.

-Não são exatamente uma lady, senhora Watson. – Sorrio – Se precisar eu grito.

Abro a porta da casa e meu corpo sofre o choque térmico do vento gélido. Fecho a porta com cuidado e me sento na escadaria, observando a paisagem tão limitada pela noite. As luzes que escapavam pelos vitrais da casa iluminam a grama até certo ponto, depois disso limita-se apenas à escuridão.

Preciso começar a pensar no que farei agora. Estamos abrigados, mas não podemos viver nas asas do Conde para sempre. Talvez nos mudar para Elbênia e esperar até Edmund completar doze anos e ir para o colégio, então terei de cuidar conta dos negócios e dos interesses de meu sobrinho até que ele mesmo tenha idade para cuidar de tudo sozinho. Minha responsabilidade é impedir meu tio de fazer qualquer mal a Edmund.

-Nunca conheci ninguém que gostasse de olhar o escuro.

-Não é o escuro que estou olhando. – Sorrio e vejo meu anfitrião se sentar ao meu lado na escadaria – Estou olhando o privilégio que só o campo proporciona.

-A grama? No campo tem realmente muita grama.

-Não. – Dei uma risadinha e aponto para o céu – Estou falando das estrelas. Na cidade não se consegue apreciá-las.

-É um hábito seu observar as estrelas? – Pergunta me entregando uma xícara de chá e finalmente reparo na bandeja que ele trouxe, com duas xícaras e uma manta dobrada.

-Sim. Meu irmão e eu costumávamos fazer isso quando éramos mais novos. Então ele se casou e comecei a observar sozinha. – Tomo um gole da bebida fumegante – A senhora Watson me delatou?

-Talvez. – Ele sorri e sinto minhas pernas ficarem bambas.

Não vi o conde sorrir uma única vez desde que chegamos e nossa, ele fica ainda mais bonito. Como é possível? Como é humanamente possível?

-Não precisava vir até aqui. Eu disse para a senhora Watson que não se incomodasse.

-Margot sempre se incomoda. – Sorri outra vez e eu já estou pedindo ajuda divina para não derreter e virar uma poça líquida no chão – Não é por acaso que ela sempre me xinga quando volto para casa, porque estou sempre sujo e consequentemente sujando alguma coisa. Isso já faz três anos.

-Se ela briga tanto, deve gostar muito do senhor.

-Ou planeja se livrar de mim na primeira oportunidade possível. – Diz antes de tomar um gole de seu próprio chá.

-Ou isso. – Sorrio – Sinto falta de pessoas brigando comigo. Depois de alguns anos as pessoas passam a te bajular apenas, somente pela ligação que você tem com um título idiota.

-Posso levá-la para passar um dia na terra comigo, aposto que a senhora Watson vai brigar muito. – Não consegui conter a risada.

-É uma oferta tentadora, mas preciso pensar em uma atividade que entretenha um garoto de dez anos que acha que estamos em uma aventura como nas histórias que conto para ele antes de dormir.

-Inteligente. – Me cobre com a manta – Não acho que seria bom para o garoto saber que tem a cabeça a prêmio.

-Eu também. – Levanto metade da manta e consigo cobrir uma de suas pernas, agora envolta por calças limpas, devido à distância – Recuso-me a ser a única aquecida aqui quando a manta acomoda perfeitamente os dois.

Consentindo com minha explicação, o Conde se aproxima mais, encostando sua coxa na minha e se cobre com a manta também.

-Estou falando sério, vocês podem ir comigo amanhã dar uma volta pela propriedade. Se Edmund gosta de aventuras vai enlouquecer com os cavalos em treinamento.

-Você adestra cavalos?

-Mais é claro. Cavalos são uma paixão antiga da minha família.

-Sendo assim, pode considerar sua oferta aceita, milorde.

Conde Tentador - Os D'Evill 04Where stories live. Discover now