Capítulo 9

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HARRY D'EVILL

-Deseja que eu saia para que tenha privacidade? - Pergunto ao vê-la abrir a carta ali mesmo, sem cerimônias.

-Não! São suas irmãs, de qualquer maneira não há nada a esconder.

Observo intrigado enquanto Luise lê o conteúdo escrito e a cor foge de seu rosto. Sua mão tapa a boca, seus olhos se arregalam e suas pernas fraquejam com por um instante. Sou rápido em alcançar e ajudá-la e sentar em uma cadeira.

-O que passa? Sente-se bem? - Ela não me responde, simplesmente estende o papel para que eu leia. Confuso, pego o escrito e começo uma leitura silenciosa, sem levantar ou afastar-me.

Querida lady Luise,

Imagino que não saiba quem eu sou, pois bem, quem lhe escreve é Elizabeth Crane, condessa de Lawfort. Espero que não  se irrite por minha irmã ter compartilhado comigo vossa história. Bem, tenho algumas habilidades em reunir informações - na dúvida pergunte ao meu irmão, estou certa que Harry desfrutou de todas as oportunidades possíveis para falar mal de nós - e as notícias que tenho para ti não são boas. Seu tio hospedou-se em Green Hall e o magistrado foi visitá-los. O que soube é que entrará com um pedido judicial reclamando a guarda do barão. Querida Luise, sei que és uma senhorita solteira e lhe alerto para os riscos de manter-se afastada de Green Hall sem justificativa plausível. Na pior das hipóteses seu tio pode acionar a Guarda Nacional e passarás a ser classificada como uma fugitiva. A julgar por minhas descobertas sobre o caráter desse homem não duvido que seja perigoso.

Minha agregou uma carta para ti neste mesmo envelope, ela já a considera como uma amiga e tomo liberdade para fazer o mesmo.

Encarecidamente, Condessa de Lawfort.

-Eu o socaria neste momento se pudesse. - As palavras saem de minha boca antes que eu perceba. Luise solta uma risada nervosa, todos os músculos de seu corpo tensos.

-Eu não posso voltar. Colocaria Edmund em perigo.

-E o que fará? Continuar fugindo?

-Tenho escolha? Se o caso for para julgamento meu tio terá a preferência, sou uma moça solteira, que direitos eu tenho? A vontade de meu irmão será ignorada, venho dando o meu melhor na criação de Edmund e na administração de seus bens, porém meu tio é um homem. Odeio tamanha injustiça e adoraria mudanças, mas lutar contra isso é inútil, não disponibilizo de todo esse tempo. É da vida de meu sobrinho que estamos falando. - Solta um suspiro e inclina o tronco para frente, como se um enorme peso caísse sobre seus ombros - Preciso arrumar nossas coisas, partiremos em breve. Poderia disponibilizar-me um coche, milorde?

-Ninguém sabe que estão aqui. Não há pressa em sair.

-Eu não colocaria milorde em problemas. Logo serei considerada um fugitiva da Coroa.  É melhor que partamos o mais breve possível.

-É Harry, maldição. - Passo as mãos por meus cabelos, incerto sobre o próximo passo a tomar - Procuraste ajuda dos D'Evill e é isto que faremos. Meu pai é um marquês, meu cunhado e eu somos condes, meu irmão é um visconde e nosso outro cunhado é um duque. Temos influência mais que necessária.

-E o que alegarão? Que uma jovem solteira sem pai ou sem irmão é capaz de assegurar uma educação plena e administrar os negócios de meu sobrinho quando há um tio disposto a fazer o mesmo? Soa tolice até mesmo para os meus ouvidos.

Sinto meus ombros encolherem. Anseio por responder que está errada, mas ambos sabemos que seria uma mentira. Luise não tem muitos direitos como uma mulher solteira, será jogada para escanteio na primeira oportunidade, seu tio conseguirá a guarda de Edmund e tudo pelo que ela vem lutando nos últimos terá sido em vão. Seu sobrinho estará sob risco de vida.

-Case-se comigo.

-O que? - Seu rosto assume uma expressão assombrada e ela põe-se de pé - Não pode estar falando sério. Não há necessidade de propor-me algo assim para me ajudar. Não se coloque em uma confusão como a que estou vivendo, Harry.

-Seria útil para ambos, Luise. Casada comigo ninguém ousaria contestar sua guarda e eu vivo recluso aqui, sem a menor pretensão para ir até a capital encontrar uma esposa.

-Não posso casar-me contigo, Harry.

-Sou tão tenebroso assim? Seria útil para os dois.

-Você não entende. - Anda apressadamente até a porta, fechando-a antes de voltar a me olhar - Eu não sou elegível para o casamento. Eu não sou mais pura.

-Realmente acreditas que meu ego é tão frágil ao ponto de exigir que minha esposa seja virgem?!

Luise parece ainda mais assombrada - se é que seja possível - encarando-me como se estivesse nascendo uma segunda cabeça ou chifres. Eu deveria ser o assombrado aqui. Que tipo de homem ela pensou que eu seria? Maldição eu pareço alguém tão frágil para exigir algo tão frívolo?

-C-como? P-por quê?

-Não me interessa se já esteve  com outro homem ou com dez. Minhas habilidades na cama não precisam ser comprovadas por uma maldita mancha de sangue.

-De onde você veio?

-De um lar com o mínimo de racionalidade.

-Ainda quer se casar comigo mesmo eu tendo lhe dito que já estive com outro?

-Desde quando o fato de ter estado com outro lhe define em suas habilidade de esposa? Nossa relação matrimonial seria entre você e eu, não com nosso passado. De qualquer maneira seria a forma perfeita de evitar riscos maiores a Edmund.

-Eu não sei o que dizer.

-Pense e dê-me a resposta depois. - Dou de ombros - De qualquer forma, pode ser tudo de fachada. Não precisa consumar o casamento se não desejar.

-Suas amantes? - Sei que não é proposital, mas a mulher consegue ofender-me a cada poucas perguntas. Não pude evitar o recuo, como se ela tivesse me estapeado no rosto.

-Acaso viste alguma mulher comigo desde que está aqui, Luise? Estou celibatário desde que herdei o título do meu avô.

-Eu...

-Pense na proposta e responda-me quando decidir. Lhe darei espaço para que pense melhor a respeito. - Inspiro fundo, tentando relaxar os músculos .

-E se eu não aceitar sua proposta?- Sua voz é um mero sussurro.

-Então saberei que fiz minha parte ao lhe oferecer a melhor proposta que poderia, se ainda quiser fugir providenciarei um coche e se preferirem permanecer como meus hóspedes são bem-vindos também.

-Certo.

-Agora eu gostaria de trancar o estúdio. É meu lugar pessoal, não gosto de tê-lo aberto.

Conde Tentador - Os D'Evill 04Where stories live. Discover now