Capítulo Dois

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Todo os anos, especificamente naquela data, era difícil de respirar. Izuna sentia como se fosse golpeado no estômago sempre que acordava no dia vinte e cinco de dezembro. As lembranças que tinha de todas as noites de Natal voltavam, atiçando ainda mais a fúria do Uchiha.

Ele se lembrava do último Natal que passara ao lado de sua mãe, e por isso era difícil de respirar. A primeira noite natalina sem a risada feminina ecoando pela casa era a lembrança seguinte, e era difícil de respirar.

Ele odiava aquela data e todas as lembranças que ela trazia, porém, havia um dia em especial que fazia o corpo de Izuna tremer e mais de um sentimento surgia para fazer companhia para a raiva que sempre o acompanhava. Foi o dia em que tudo mudou de forma inesperada em sua vida.

Tão ingênuo, triste, assustado e confuso, era como se descrevia no começo daquela noite. Era apenas uma criança, mas ainda assim, não entendia como não havia prestado a atenção em mais detalhes.

Izuna notou o quão furioso Madara parecia ao entrar em casa naquela noite. Ele se lembrava de ouvir o irmão gritar e dizer palavras que jamais havia escutado sair por seus lábios. Madara estava descontrolado, revoltado, e quando seu pai entrou logo atrás, percebeu que o irmão estava prestes a se tornar violento. Ele não sabia o porquê, mas o pai não o repreendeu imediatamente, como costumava ser quando um dos filhos o desobedecia ou as raras vezes em que era desrespeitado. Tajima apenas manteve o olhar sério sobre o filho mais velho enquanto escutava seus gritos.

Assustado e confuso, Izuna se levantou e tentou se aproximar do irmão, porém, Madara não notou o mais novo ou qualquer outra coisa que não fosse seu pai, que atingiu o limite da paciência quando viu o dedo acusador do filho chegar próximo a seu rosto.

— É tudo sua culpa! — Madara elevou ainda mais o tom de voz. Izuna não havia notado, mas a raiva de seu irmão era regada de profunda tristeza e decepção. — Você sabia o que poderia acontecer, e ainda assim...

A acusação de Madara não teve fim, e Izuna não conseguiu tempo de questionar o que era culpa de seu pai ou o que ele sabia. Tajima foi contagiado pela fúria do filho mais velho, e o interrompeu ao segurá-lo pela gola da blusa. Os pés de Madara foram levantados do chão e o mais velho o jogou contra a parede ao lado.

Izuna estava apavorado, sua respiração se tornou difícil de ser controlada, mas ele conseguiu correr assim que o pai deu um passo em direção a Madara. Os pequenos pés descalços bateram desesperados sobre o piso de madeira, e ainda mais assustado, ele levantou o olhar para ver os olhos furiosos do pai, que ao vê-lo entre os que discutiam, deu um passo para trás.

Tajima nada disse a Izuna e muito menos para Madara, e o olhar triste no pequeno foi a última atenção que recebeu de seu pai naquela noite. O mais velho desviou o olhar e deu as costas, saindo de casa com pressa e sem explicação alguma. Izuna se virou, procurando respostas no irmão, mas ele nem ao menos conseguiu encará-lo, e com a mesma pressa que o pai, correu para o seu quarto e fechou a porta com um alto barulho.

Não havia a voz animada e feminina pela casa, nem as risadas dos irmãos mais velhos, e naquele momento, nem mesmo os gritos e discussões dos que restaram; havia apenas o pequeno Izuna e o sufocante silêncio, que sugava seu ar com mais intensidade do que o barulho de minutos atrás.

Ele não se importou em deixar as lágrimas escorrerem por seu rosto quando correu para fora de casa sem um destino ou ideia do que fazer. Seu pai não estava ali para repreendê-lo, ninguém estava, então ele chorou como queria, o mais alto que pôde, tentando assim se livrar do aperto intenso em seu peito.

Do Outro LadoWhere stories live. Discover now