Capítulo Seis

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— Tem certeza?

Tobirama revirou os olhos ao ouvir a pergunta pela décima vez naquela manhã. Izuna ainda insistia que o Senju não estava bem, ignorando as palavras do próprio de que estava recuperado o suficiente para andar.

— Mesmo se eu estivesse mal, não teríamos como ficar por mais tempo, sabe disso — Tobirama o lembrou enquanto fechava a porta da cabana e sentia o corpo estremecer pelo frio intenso do lado de fora.

Já faz algum tempo que não respiro ar fresco, pensou o Senju. Mas o frio não me anima muito a andar.

Há dois dias Izuna havia avisado sobre a comida de ambos estar acabando, e não demorou para que tomassem a decisão de partir, ainda que o Uchiha insistisse para que Tobirama tentasse se recuperar por mais alguns dias. Ele pensou em questioná-lo sobre o motivo que querer tanto adiar a partida de ambos, porém, se manteve calado, observando o que havia jurado vingança contra sua família cuidar dele como se fizesse parte dela.

Tobirama se sentiu incomodado nos primeiros dias em que conseguia se manter acordado por mais que alguns minutos. Os movimentos do outro sempre pareciam suspeitos através de seu olhar desconfiado, e não conseguia relaxar pela preocupação em ser atacado em um momento vulnerável, mas aos poucos ele passou a sentir-se diferente. Quando notou que Izuna realmente estava cuidando dele, que o havia salvo dos ataques de Tadao com real intenção de fazer o que fez, ele sentiu uma estranha sensação em seu interior. No começo fora algo pequeno, que o incomodava levemente, mas à medida que os dias passaram, os cuidados de Izuna se tornaram mais constantes, e a sensação se intensificou em um nível que não podia mais ignorar.

Ele começou a se recuperar, porém, às vezes, desejava internamente que sua febre retornasse apenas para que pudesse sentir o toque dos dedos longos de Izuna sobre sua pele. Na primeira vez que tivera tal pensamento, Tobirama se assustou consigo mesmo, mas não tanto quando seu coração bateu em disparada ao ter uma visão do Uchiha que jamais havia tido. Os cabelos soltos, o olhar que o esquentava tanto quanto a mão em suas costas; a face corada como os lábios cheios e entreabertos...

Tão belo, pensou Tobirama mais uma vez enquanto caminhava devagar sobre as camadas de gelo. Ele não conseguia tirar a imagem de Izuna de tal forma da cabeça, e tudo piorava quando o próprio fazia questão de andar ao seu lado, com os olhos curiosos presos em seus passos, a procura de qualquer expressão que indicasse que sentia dor.

— Vai fazer um buraco em meu rosto, se continuar me encarando assim — brincou Tobirama, sabendo que Izuna ficaria nervoso e antecipadamente rindo internamente.

— Não seja idiota — o Uchiha gaguejou, voltando a olhar para a frente com nervosismo. — Se pegar outra febre, não venha me pedir ajuda. Apesar de que seria divertido — Izuna de repente abriu um largo sorriso, o qual fez Tobirama sentir o peito se agitar. — Das últimas vezes disse tantas coisas vergonhosas.

O Uchiha riu com deboche enquanto Tobirama sentia as bochechas esquentarem, mesmo duvidando que o outro falava a verdade.

Izuna aumentou o tom, imitando a voz de Tobirama de forma exagerada, mas contando tudo o que havia escutado sem nenhum adendo.

— Está inventando — disse o Senju com toda a certeza. — Me lembro de nada disso.

Izuna deu de ombros.

— Não precisa acreditar, se quiser. Ainda assim, guardarei estes momentos para mim com muito gosto.

O irmão de Madara riu em tom alto ao ver a expressão emburrada de Tobirama, sem notar a discreta reação deslumbrada do outro por ouvi-lo rir tão abertamente.

Do Outro LadoWhere stories live. Discover now