Capítulo Cinco

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Uma semana atrás, se perguntassem a ele o que faria se visse um Senju vivo, mas perdendo sangue em abundancia, a resposta seria direta, óbvia e sincera. Eu teria dito que o deixaria sangrar até a morte e estaria ao lado dele para ver seus olhos se fecharem para sempre. E ele realmente falaria sério, sem camuflar seus desejos ou por fingir que não se importava. Izuna realmente não se importava. Mas isso fora há uma semana, quando o máximo de contato que já havia tido com um Senju fora em batalhas, e muitos anos atrás, quando nem ao menos sabia o que aquele clã significava ou que sequer existia.

Há uma semana, um Senju não havia arriscado sua vida para salvar a dele.

Izuna ficou ao lado de seu salvador, o viu fechar os olhos, mas acabou esperando ansiosamente para rever as írises vermelhas de novo. Ele não o deixou sangrar até a morte. Sem pensar em seu ódio pelo clã de Tobirama, o arrastou pela neve, se abrigou na velha cabana e o aqueceu ao lado da lareira que há muito não sentia o calor do fogo. Seu conhecimento em medicina não era vasto, mas bastou para costurar a ferida e limpá-la com as condições que tinha em um lugar como aquele.

E Izuna esperou.

O Senju acordou de maneira brusca, horas depois. Olhou assustado para Izuna, como se não soubesse o que o outro fazia ali, ou o que ele mesmo estava fazendo em um lugar como aquele. Seus olhos correram pela cabana, a procura de algo familiar, mas não achando e também não se importando no fim. A ferida em suas costas doeu como quando foi feita, e ele não reclamou quando Izuna o obrigou a se deitar de bruços novamente.

Aos poucos a memória de Tobirama se organizou, e ao se acalmar, Izuna explicou o que havia causado seu desmaio e como fora parar ali. O Senju o ouviu em silêncio e nenhum comentário ou pergunta veio depois.

— É melhor se manter imóvel. Os pontos podem se romper — o Uchiha aconselhou. Mesmo sabendo que receberia nenhuma palavra em troca, esperava que ao menos estivesse sendo ouvido.

Tobirama o obedeceu, porém, Izuna desconfiava que era mais pela exaustão e dor do que por tê-lo realmente escutado. O Senju dormiu pelo resto do dia, resmungando entre os sonhos e tentativas de mudar a posição do corpo que não davam muito certo por conta da dor. Izuna apenas o observou por aquelas horas, se afundando em perguntas que não conseguia achar respostas. Ele tentou achar motivos maiores, respostas que fossem convincentes, mas nada veio, mesmo quando uma das perguntas saíram de sua mente e foram ditas em voz alta por Tobirama.

Izuna despertou de seus pensamentos, e confuso olhou para o Senju, ainda deitado, mas completamente acordado no começo da noite.

— Por que me salvou? — Tobirama refez a pergunta, vendo que Izuna não parecia ter escutado na primeira vez.

O Uchiha ficou algum tempo em silêncio, sem desviar a atenção dos olhos sérios do outro, que naquele momento mostravam um pouco mais de sentimentos do que era costume.

Eu não sei.

— Eu não quero ter dividas com você ou qualquer outro Senju — ele jogou a primeira coisa que pensou.

É uma desculpa plausível? Pensou Izuna. Eu espero que sim, pois é a única que tenho no momento.

Izuna ficou parcialmente satisfeito por enfim ter pensado em algo para preencher o buraco que fazia daquele momento completamente sem sentido, mas Tobirama voltou a abri-lo com sua fraca risada desgostosa.

— Seu idiota — o Senju o xingou, virando o rosto para o lado oposto de Izuna. — Eu fiz isso para pagar a minha dívida.

Do Outro LadoWhere stories live. Discover now