Capitulo 3 - Benjamin Foster

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 ~ Benjamin.

O futuro era algo tão distante, mas tão perto ao mesmo tempo. Estar andando pelas ruas de Nova York carregando os primeiros exemplares do meu livro nas mãos, vendo cartazes e pôsteres com a minha foto e meu nome bem grande estampado pelas ruas da cidade, pessoas me reconheciam e pediam foto, era maneiro demais. Se existia vida melhor que aquela, não conhecia. Eu era o escritor mais novo e famoso que tinha entrado no mercado, todos faziam matéria sobre mim, todos queriam conhecer minhas historias. Foi quando de repente começou um barulho muito alto, alguém chamava o meu nome...

– SR.FOSTER! ACORDE AGORA!

Abri os olhos e o que era um sonho tinha virado um pesadelo completo. A primeira coisa com que me deparei, foi com a maior narina que eu já tinha visto em toda a minha vida. Estava bom demais para ser verdade. Olhares e risinhos voltados para mim me despertaram e me colocaram em estado de alerta.

– Ará! Vejo que a nossa bela adormecida finalmente acordou – Debochou o treinador James – Vejo que estava tendo bons sonhos Sr. Foster. O treinamento anda muito cansativo para você?

– Não senhor! – Respondi me levantando ficando frente a frente dele – Prometo que não ira acontecer de novo.

– Acho bom – Ele se afastou – Vá ao banheiro lavar o rosto, garoto. Vocês estão dispensados por dez minutos.

Fui o primeiro a juntar minhas coisas e sair o mais depressa em direção ao banheiro. Olhei-me no espelho e vi minha cara toda marcada de um lado graças a minha soneca. Tinha olheiras enormes embaixo dos olhos graças às noites mal dormidas que passei escrevendo. O rabo de cavalo no qual tinha prendido meu cabelo já estava frouxo. Minha vida tem sido assim pelos últimos cinco anos, dês que eu entrei para a base 89. Por um momento minha mente volta para o dia em que minha vida mudaria por completo.

Com onze anos perdi meu pai para um câncer do coração. Dês de então só ficou eu, minha mãe e minhas duas irmãs mais novas, Sophia e Yasmin. Meu pai era o sustento da casa, então quando ele começou o tratamento minha mãe teve que começar a trabalhar para bancar com os custos do hospital e da casa. Ela trabalhava como enfermeira em dois períodos, e eu tive que deixar a escola e estudar em casa para cuidar das minhas irmãs.

Um ano depois da morte do papai, mamãe também adoeceu pelo trabalho em excesso. Foram dias difíceis, dependíamos de doações e ajudas de parentes para sobrevivermos. Até que uma proposta apareceu, que poderia mudar toda a nossa situação para melhor sem que ela precisasse mais trabalhar.

– Treinamento da NASA? – Ela me perguntou quando mostrei o papel que o diretor da minha antiga escola tinha me enviado. O porquê de ele ter me escolhido eu não sei, mas era uma oportunidade que não poderia recusar na época.

– É mamãe – Tirei o papel da mão dela e ajeitei o travesseiro em suas costas – Parece que eles estão com um novo protejo, algo sobre treinar jovens para virarem futuros astronautas. Eles vão dar todo o suporte que você e as meninas irão precisar enquanto eu estiver fora, sem a senhora precisar trabalhar.

– O meu filho... – Ela levou a mão até meu cabelo comprido e colocou uma mecha atrás da minha orelha – Não posso deixar que se sacrifique tanto por nós. Você é tão jovem ainda... E o seu sonho de ser escritor igual o papai?

– Isso não importa agora – Me afastei da mão dela e virei para o lado para que ela não pudesse ver meus olhos cheios de agua – Isso não vai ser para sempre né? É só até ter eu idade o suficiente para trabalhar com o que eu quero – Eu não tinha certeza do que estava afirmando, mas torcia para estar certo.

Antes que minha mãe pudesse argumentar, minha irmã entrou correndo no quarto com Sophia no colo e veio ao meu encontro.

– Você vai deixar a gente também Ben? – Perguntou Yasmin – Não quero ficar longe de você.

– Vai ser necessário Min – Acariciei seus cabelos e depois segurei Sophia no colo, ela ainda não sabia falar, mas fazia bico de choro – A não chore pequena, sempre vou estar aqui nos feriados esta bem? – Minha mãe observava tudo com uma tristeza no olhar, mas no fundo ela sabia que aquela era nossa melhor alternativa – Contem a historia que lemos ontem para a mamãe. Vou começar a arrumar minhas coisas, eles vem me buscar amanhã.

Sim, era tudo uma completa loucura. A única certeza que tínhamos era as palavras vinda do diretor que ligou para a minha mãe algumas horas depois, e o contrato que enviaram para assinarmos. Eu estava com medo, morrendo de medo, mas precisava me mostrar forte para minha mãe.

E como combinado no outro dia, logo depois do almoço, um carro preto me esperava do lado de fora de casa. Pediram para eu não levar muita coisa, pois tudo que eu precisava já estava lá, então estava apenas com minha mochila nas costas com alguns livros e algumas roupas. Mesmo falando para minha mãe continuar na cama, ela insistiu em levantar e vir se despedir de mim. Deu-me um beijo na testa e sussurrou um "Eu te amo, nunca vou conseguir te agradecer o suficiente por todo o esforço que está fazendo por nós". Eu tinha conseguido segurar meu choro até aquele momento, mas quando ela completou com a frase "seu pai estaria orgulhoso de você" chorei em seus braços feito um bebê. Me despedi das minhas irmãs, que também choravam, e entrei no carro.

– Cuidem do meu filho – Disse minha mãe para o motorista e a mulher sentada do seu lado – Por favor.

– Pode deixar senhora – A mulher de preto respondeu – Seu filho vai ser muito importante para a humanidade algum dia.

E com essa frase ligaram o carro e partimos. Olhei para trás e vi tudo que eu mais amava sendo deixado ali, minha família, minha cidade, minha casa. Agora me encontrava indo em direção a um futuro que eu não tinha planejado e muito menos desejado. 

Meu Futuro está em MarteOnde histórias criam vida. Descubra agora