Afonso:
Isso é insano. O que eu fiz? Como eu deixei ele fazer isso comigo? Por quê?
Cheguei em casa correndo. Joguei-me na bacia com água fria de roupa e tudo, eu queria chorar de raiva. Medo. Tristeza. Nós não viveríamos aquilo. Por que ele me chama de amor? Por que justo agora ele. . . por quê?
-Quer ajuda sinhôzinho?-Perguntou a escrava que me criou. Minha mãe preta.
-Não Zuri, quero ficar só!
-Está bem!
-Zuri?
-Sim sinhô?-Ela hesitou a porta de meu aposento e eu me virei para olha-la.
-Consegue . . . ver algo pra mim?
-Não quero mexer nisso sinhôzinho, num é bão!
-Já viu algo não foi?
Ela entrou e fechou a porta, abaixou-se ao lado da bacia me encarando.
-Não vorte sinhôzinho, algo grande e ruim vai acontecê, vozsuncê tem que fica longe disso sinhôzinho, se quise ser filiz ao lado dele.
-Há uma chance disso acontecer?
- Vassuncê é teimoso sinhôzinho, eu vejo três caminho prucê!
-Quais são?
-Não volte, volte ou vá pro outro lado do mar sinhôzinho.
-O que tem do outro lado do mar?
-Liberdade sinhôzinho, vai pode se livre como um dia fui.
-Mas minha família. . .
-Sangue. . . -disse ela.-Sua família o deixá-ra sangrando sinhôzinho, não seja descoberto.
-Obrigado Zuri.
-Gosto de vassuncê sinhôzinho como si fosse meu bacuri, mamou em meu peito filho de alma, não quero ver seu sangue derramado em vão.
Sorri fraco apertando sua mão.
-Também gosto de ti como se fosse minha mãe Zuri e se meu pai não fosse ficar só te levaria comigo.
-Iria feliz com vassuncê.
-Eu volto pra te buscar assim que eu me formar. . .
-Zuri não vai estar mais aqui sinhôzinho.
-Onde vai estar Zuri, vai fugir?
-Não sinhôzinho, vou pro lar eterno, estarei olhando vassuncê de lá.
-Por que acha que vai morrer?
-Como lhe disse sinhôzinho alguma coisa muito ruim vai tingir esta terra de vermelho.
-Então vou levá-la comigo!
-Seu pai não vai deixar sinhôzinho.
-Vou tentar.
-Agradeço sinhô, mas sei o meu destino, e não importa pra onde eu vá, minha sina está traçada desde que nasci.
Beijei sua cabeça e ela ficou sem jeito.
-Obrigado por tudo minha mãe!-sussurrei.
-Cuidado sinhôzinho as parede tem ouvido!
-Não se preocupe.
Sorri e ela se foi, tirei a roupa e terminei de me banhar. Minha despedida foi breve, fria por parte de meus familiares. Meu pai mesmo frio me deu um abraço de quebrar as paletas.
-Volte como um doutor Afonso, me orgulhe guri!
-Cuide . . . de minha égua.
Montei em um cavalo que domei a pouco mais de um ano, era forte e corria como o vento, o venderia em volta do porto. Depois de dois dias e uma noite cheguei ao porto, consegui um bom valor pelo cavalo, lhe desejei sorte com seu novo dono e subi na embarcação, rezando para Ferrus não viajar na mesma embarcação que eu. Fui pra minha cabine, joguei minha mala de garupa na maca de cima, vou ter de dividir a cabine com alguém, espero que não seja nenhum bagual brutamonte. Pulei me jogando cansado na maca cuja as molas rangeram. Cubri meu corpo com o meu poncho, não tirei nem as botas de tão cansado que eu estava. Deixei minha consciência se esvair acontecendo em segundos.
-//-
Ferrus:
Podre, era assim que me sentia, eu queria mais que tudo encontrar Afonso e sentir seus lábios.
-Quer um cavalo de presente garoto?-perguntei a um piá que olhava meu zaino.
-O quê tenho que fazer?-perguntou ele.
Desci do cavalo e lhe entreguei as rédeas, tirei a mala de garupa jogando-a sob meus ombros.
-Apenas tem que me prometer que vai cuidar dele!
-Prometo senhor!
Seus olhos brilharam.
-Ele esta com fome e sede, tome uns trocados e compre milho pra ele.
O garoto pegou o dinheiro com a boca escancarada, agitei seu cabelos e subi na embarcação.
-Nome senhor?
-Ferrus Cortez.-olhei sua lista tirei um tostão do bolso.-Pode me dizer se Afonso Terra está nesta embarcação?
Ele guardou o dinheiro e afirmou.
-Está numa cabine perto da sua. . .
Tirei mais um tostão colocando em cima de sua lista.
-Posso ficar na mesma cabine?
-Claro senhor, cabine 13 a última do corredor.
-Obrigado!
Caminhei com um sorriso de lado, cansado porém feliz. Temos mais de uma semana juntos. Ao entrar vejo Afonso dormindo na maca de cima, coberto com o poncho. Eu poderia lhe tirar as botas, mas o acordaria. Tirei as minhas desejando uma tina d'água para me lavar. Joguei meu corpo cansado fazendo a maca gemer. Fechei os olhos e dormi com um sorriso tolo.
-//-
Afonso:
A luz da manhã clareou a cabine e espreguicei me esquecendo o tamanho da maca, cai de costas no chão.
-Au!
-Se machucou?-perguntou aquela voz que fazia meu coração corcoviar, não de medo, mas de. . .
-Ferrus?-me sobressaltei levantando o corpo calçado nos cotovelos.
-Bom dia meu amor!-disse ele passando a mão por meu rosto ainda deitado em sua maca, ganhei um sorriso lindo. Como alguém consegue ter dentes tão perfeitos.-Diga algo, se machucou?
Seu olhar ficou preocupado.
-Estou bem, mas como. . .?
-Destino!-brincou ele.
Alguém bateu na porta, levantei rápido e abri a porta.
-Café da manhã senhores!-disse uma guria negra, mulata, deveria ter nossa idade se não menos.
-Obrigado!-falei pegando a bandeja e fechando a porta com o pé.
A coloquei sobre um aparador pregado a parede. Agora percebi o balanço da embarcação. Olhei pela janela e apenas uma imensidão de água me agraciou. Ferrus passou os braços por minha volta colando o corpo ao meu. Tentei me desvencilhar, mas ele me apertou mais contra sua ereção. Beijou meu pescoço, estendi a mão pegando uma maçã e a enfiando na minha boca antes que ele me beija-se. Ferrus me virou pra ele, e mordeu minha maçã, o líquido correu por seu queixo e eu contive a vontade de lambe-lo.
Por que eu cedo dessa forma, somos homens isso não condiz ao. . . sua boca silênciou meus pensamentos ao sugar meus lábios, sua mão desceu até minhas nádegas, me apertando contra ele novamente.
-Preciso . . . ir ao quarto de banho!-falei o soltando.
-Há um balde debaixo da maca. . .
-Não vou mijar na sua frente!-falei tentando fugir dele.
-Prefere entrar naquela latrina fétida?
-Por supuesto!-falei abrindo a porta e sai para aquele corredor escuro, atrás de uma latrina.
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Quando seus olhos me encontram
RomanceAqueles olhos quando me encontram eu consigo sentir, consigo ver mesmo de olhos fechados que ele me encara, e não entendo por que luto contra isso. . . É como se já nos conhecêssemos de outras vidas. Está história arco-íris conta sobre uma vida pass...