𝟎𝟏𝟕 ➭ 𝐏𝐋𝐄𝐀𝐒𝐄, 𝐓𝐎𝐌𝐌𝐘.

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   Newt estava com uma aparência horrível. Arranhões e ferimentos lhe cobriam o rosto; a camisa estava rasgada, apenas um trapo sobre a estrutura de ossos quase cadavérica, a calça era uma mescla de imundice e sangue; também havia uma mochila. Era como se enfim houvesse se rendido ao fato de ser um verdadeiro Crank.
Gally estivera falando havia algum tempo, mas só agora eu processava as palavras.

— Vamos ficar bem. A van está bastante avariada, mas espero que consiga andar mais alguns quilômetros para nos levar até o hangar. Não estávamos muito longe.

   Gally engatou a ré, e a van manobrou, afastando-se da parede, o ruído de plástico quebrado e metal retorcido. Então começou a se afastar, Thomas e eu nos entreolhamos.

"Ele também viu".

Foi como se um clique se acionasse, Thomas então gritou:

— Pare! Pare a van! Agora!

— O quê?— replicou Gally.— Do que está falando?!

— Pare a droga da van!

   Gally pisou no freio, Thomas se levantou e se dirigiu à porta. Fez menção de abri-la, mas o outro agarrou sua camisa pelas costas e o deteve.

— O que diabos acha que está fazendo, seu trolho?— Gally berrou.

   Thomas tirou um revólver da cintura e apontou para Gally.

— Tire as mãos de cima de mim. Tire as mãos de cima de mim!

   Gally obedeceu, erguendo as mãos para o ar.

— Ei, cara. Acalme-se!— gritou Minho, abaixando a mão de Thomas.— O que há de errado com você?

— Vimos o Newt lá fora. Quero ver se ele está bem.— respondeu Thomas.

— Acha que aquela coisa ainda é o Newt?— perguntou Gally com frieza.— Esses Cranks já atingiram a Insanidade há muito tempo. Newt também era meu amigo, mas infelizmente, agora ele não passa de mais um Insano no mundo.

— Então será uma despedida breve. Tenho de fazer isso. Fiquem de olho. Se virem algo, me deem cobertura.

— Vou é lhe dar um belo chute no traseiro antes mesmo de chegarmos àquele Berg.— grunhiu Gally.— Apresse-se.

— Certo.— assentiu Thomas, saindo para rua.

Quando eu iria descer, Thomas me impediu.

— Bobbie, fique aqui.

— O quê?— franzi a testa.— Não!

— Fique aqui.— repetiu.

— Não. Você não vai lá fora sozinho, está louco?

— Roberta, não é hora para ser teimosa.

— Eu vou.— insisti pausadamente. Dei dois passos à frente, prestes a sair da van.

— Minho... por favor.— Thomas olhou para o garoto, olhou para mim, e voltou o olhar para Minho, como se pedisse algo.

   Antes que eu pudesse fazer algo, Minho já tinha me puxado para trás, segurando meu braço. Thomas fechou a porta da van, a travando.

— Qual é.— expirei, meus olhos ardiam.

— Thomas tem que resolver isso sozinho.— falou Minho, me soltando.— Pelo contrário, eu e Gally estaríamos lá também.

    Nos aproximamos da janela, de lá, vimos Thomas conversando com Newt. Ele não havia chegado na Insanidade ainda. Não podíamos ouvi-los.
   Vimos Thomas e Newt conversando por alguns minutos, e cada vez mais, ambos recuavam para longe da nossa visão da pequena janela, até não conseguirmos mais vê-los.

— Como você está se sentindo? — perguntei a Minho, quebrando o silêncio.

— Que nem mértila.

— Sinto muito... sei que vocês são próximos...

Minho suspirou.

— De todos nós, ele é o que mais merecia essa imunidade.

   A voz do garoto era dolorosa, mas ainda sim com um tom conformista. Como se em parte já tivesse aceitado. Em seguida mudou de assunto:

— Ei, Gally. Acho bom esse seu plano mertilento dar certo, viu? Não vamos perder mais ninguém.

Antes que Gally pudesse responder, um som alto de tiro soou. Ninguém se mexeu na van. Temendo que o pior pudesse ter acontecido...
  
  

𝗘𝗦𝗖𝗔𝗣𝗘 ;𝙢𝙖𝙯𝙚 𝙧𝙪𝙣𝙣𝙚𝙧Onde histórias criam vida. Descubra agora