Nossos pedaços

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Sinto quando penso, penso o que escrevo, escrevo o que penso no meu momento, sendo somente eu, e eu. Despojados sobre aquelas finas folhas brancas de caderno em linhas vermelhas, toda a minha culpa, o meu ódio, as minhas angústias, e as lágrimas, tornaram-se palavras agressivas, outras harmoniosas e carregadas de tensões as quais minhas mãos sentem o peso, e meus ombros de certa forma, pareceram-me mais leves, prontos a deleitar-se em macias nuvens.

Ao redor, percebo os sons retornarem aos meus ouvidos certamente com determinada lentidão, passei a ter um zumbido abafado contra os tímpanos desde então. A respiração estava em declínio, e a palpitação ligeiramente pesada. Estalaram-se os dedos ao estarem livres da caneta em tinta negra, ao lado da rosa branca acima de minha mesa envernizada, a mesma era minha companhia nas noites de caladas frias, lembrando-me dos dias que nunca voltarão.

Ao todo foram treze folhas, as treze folhas mais intuitivas de minha vida. Estas estão em minhas próprias mãos, sendo postas dentro de um cartão vermelho, envolto por um laço branco com minúsculos corações vermelhos. As mãos estão trêmulas, mas era o único jeito de me expôr verdadeiramente, expôr quem eu realmente sou, expôr meu eu interior que se recusa a aceitar quem és.

A culpa és de Hitoshi, claro, por tuas mansas palavras hoje irei visitar minha mãe, e como não posso lhe direcionar falas, escrever tornou-se meu modo de o fazer. Esta que fora ideia do garoto sonolento do outro lado de minha porta, aguardando-me enquanto cantarola uma canção de tua própria escolha.

Mas pensas talvez, por que estes sentimentos estão sendo dados a mãe que tanto temi em rever, ao invés de estar falando com Shoto, quem sabe?

Abrir-se para quem quer estar ao teu lado és a melhor maneira de tentar se auto compreender. Shinsou me fez perceber que eu não posso me concertar sozinha, pois eu não tenho todas estas peças, mas que posso tentar encontrá-las a partir de hoje com os resquícios do passado enclausurado de péssimas memórias, os quais me ajudarão, remoldando o meu presente, mantendo à mim somente aqueles que me fazem bem aparente.

Amaciando o tecido, levei meus finos dedos, cobertos por luvas negras, pelas mangas do vestido azulado, levando os fios de cabelo da mesma cor altos e presos, afinal, a cor entrega minha preocupação em estados diversificados. Sigo-me adiante da porta, abrindo-a calmamente, e sem olhar para o rapaz alto, encostado próximo à mim, segurei-o na barra de tua jaqueta de couro negro, o que o fez olhar-me de canto, quando a canção proferida se calou.

- Então você conseguiu, gatinha?- perguntou-me e um sorriso formou-se em teus secos lábios assim que acenti positivamente- Sendo assim, devemos ir antes que encerre o horário de visitas.

Logo, deixei-me ser guiada a sombra de tuas costas, vagando por entre os corredores, adelante adentrando ruas. No entanto, aquele cartão me dominava, ele trazia cócegas a palma de minha mão, prontamente para saltar de tamanho desespero em se ter em aberto. O de fios púrpuras moveu seu bico novamente a cantarolar, quando minha vista achegou-se aos olhos esmeraldas de um garoto que desconhecido não era, mas que não acenei do outro lado das passagens. Sucumbi aos pensamentos que fazem acalmar-me, os fios azuis regressaram ao vermelho comum, e em um suspiro Shinsou dispôs a me parar, afinal eu estava sem saber onde estar por igual.

- Escuta, quando liguei para o hospital mais cedo, eles disseram que você poderia entrar sem problemas, mas terá de mostrar este crachá á eles.- disse colocando em volta de meu pescoço um cordão- Eu vou te esperar por aqui, boa sorte.

"Você ainda não me disse o porquê de estar fazendo isso. É tudo por causa da aula de me ter sobre seu controle?", sinalizei com a mão canhota, o fazendo virar-se de costas para mim, onde não pudera ver sua expressão.

Garota Arco-íris - Imagine ShinsouWhere stories live. Discover now