capítulo 9

2.8K 322 4
                                    

Elisabeth estava esgotada. Ela só queria esquecer todo o horror que tinha passado desde que acordou com o belo Nova Espécie, a sacudindo e dizendo que tinham que ir.
Meu Deus! Ela olhou os braços enfaixados. Ele a cortara com as garras. Ele enlouqueceu. Mas ela ainda tinha pena dele. Ele não era louco, ela não conseguia acreditar que aquele cara que a tratou com tanta gentileza e carinho quisesse matá-la, ou matar seu próprio povo.
Pelo que o cara alto, com aparência de anjo, explicou a ela, existia toda uma indústria de fabricação de drogas relacionada aos experimentos que deram origem aos Novas Espécies.
Uma indústria milionária que só precisava de confirmação dos efeitos, para patentear e daí começar a nadar no rio de dinheiro que viria a seguir.
Diversas curas, aprimoramento físico, procedimentos estéticos, as possibilidades eram infinitas. Mas era necessário a matéria prima, que no caso eram os genes dos Novas Espécies.
Daí a tentativa de capturarem Jericho.
Elisabeth nunca pensou muito nos Novas Espécies. Para ela, eles eram pessoas um pouco diferentes, que sofreram muito, mas que tinham conquistado sua liberdade e o direito a viverem como quisessem.
Ela, com todos os seus problemas, não tinha nem tempo para pensar nos outros. E eles tinham sorte, pois além de estarem livres, ainda tinham todo o apoio do governo. Ela, se não trabalhasse, nem teria o que comer.
A porta abriu e ela se viu em frente a uma mulher muito bonita. Era loira, pequena, com lindos olhos azuis.
"Oi, sou a doutora Trisha. Eu gostaria de dar uma olhada nos seus braços, tudo bem?"
Elisabeth se lembrou da dor de quando ele enterrou as garras nós antebraços dela. Ela deve ter contraído o rosto, pois a doutora pegou uma das mãos dela com carinho.
"Eu queria muito que você soubesse que Jericho não estava em seu juízo quando machucou você. Ele é calmo, calado, mas tem um coração muito bom. Acredite em mim. Quando ele recobrar a consciência, ele sofrerá demais."
Havia tanto pesar nos olhos da médica! Elisabeth nunca imaginou que alguém pudesse realmente lamentar o fato de ela ter sido machucada.
A médica retirou as bandagens e olhou o curativo. Seus braços estavam  costurados nos buracos feitos pelas garras dele. Ficaram marcados, com cicatrizes, mas ela não se importou. Ela poderia estar morta, o que eram algumas cicatrizes nós braços?
"Como se sente?" A doutora perguntou, enquanto, depois de limpar os ferimentos, e passar uma espécie de pomada, enfaixava os braços dela novamente." Bem, não estou sentindo dor alguma."
"Isso é bom. Depois o doutor Gabriel virá te ver também."
"Quando poderei ir embora?" Ela precisava voltar ao seu ponto, ainda não tinha o dinheiro da mensalidade do asilo toda.
"Quanto a isso, temos de conversar."
Uau! A própria Jessie North, em seu quarto? Ao mesmo tempo que ficou surpresa, Elisabeth ficou preocupada.
"Olá, sou Jessie, queria conversar um pouco com você, tudo bem?" Trisha aproveitou para sair.
Como se ela tivesse escolha! Ela sairia dali e ponto. Não iria ficar mais nem um minuto naquele lugar!
Seu rosto deve ter transparecido sua decisão, pois ela sorriu com determinação.
" Primeiro de tudo: você não é uma prisioneira aqui, ok? Mas você deve concordar comigo de que sair daqui agora pode ser perigoso pra você."
Ela deixou de dizer sair e voltar a se prostituir, mas ficou implícito.
Será? Ela era uma Maria-Ninguem. Porque se preocupariam com ela?
"Não consigo imaginar qual perigo eu, uma simples prostituta, poderia correr."
À menção da palavra "prostituta", Jessie franziu as sobrancelhas. Ela não se chocou como sempre acontecia. Isso despertou um certo respeito em Elisabeth. As pessoas não diziam essa palavra. Como se a sujeira que suas mentes impunham à palavra pudesse passar para elas.
"Aqueles caras devem pertencer a um grupo, mas não um grupo de fanáticos religiosos, mas um grupo com motivação financeira. Eles não querem um Nova Espécie para empalhar e pendurar na parece, eles os querem para experiências. Doutor Gabriel disse que falou umas coisas para você." Elisabeth acenou com a cabeça."Então você não acha que irão atrás de você?"
"Porque?"
Jessie suspirou como se estivesse lidando com uma criança, ou alguém com um tipo de doença mental. Ela não gostou disso, mas reconheceu que estava sendo teimosa. Talvez devesse falar porque tinha que ir.
"Meu avô está num asilo. Eu tenho que pagar, se não o colocam pra fora. Eu ainda tenho que trabalhar para juntar o dinheiro. A menos que..."
Ela ficou indecisa sobre falar do dinheiro que foi oferecido a ela para passar o dia com Jericho.
"A menos que você receba o dinheiro que te ofereceram para 'ficar' com Jericho?" Quando disse "ficar" ela fez aspas com os dedos." É isso que iria dizer?"
Ela baixou os olhos. Não por ter vergonha do que fazia, ela não tinha. Mas por ter de cobrar pelo melhor sexo da vida dela. E também porque pensar nele despertava um monte de sensações que ela não queria considerar agora. Talvez nunca.
"Como ele está?" Ela estava preocupada. Se ele não voltasse ao normal...
"Ainda sedado. O doutor diz que só quando as drogas saírem do organismo dele, é que poderemos saber se haverá alguma sequela. Fisicamente ele está ótimo. O buraco da bala já está curado."
Ela sentiu uma lágrima descendo por seu rosto. Jessie também tinha o semblante triste.
"Ele é um ótimo macho, Elisabeth. Ele também é muito forte, vai sair dessa."
Ela se endireitou.
"Mas vamos voltar ao assunto que me trouxe aqui. Veja, nós não podemos pagar os cinco mil dólares, pois esse dinheiro nunca existiu. " Ela começou a se levantar." Calma, vou explicar. Não foi Jericho quem fez o contato com você ou te prometeu o dinheiro."
Como assim? Se não foi ele quem foi? E como ele apareceu no quarto combinado? Jessie não mentiria, ou sim?
"Eu estou te falando a verdade. Foram dois adolescentes que temos aqui na Reserva. Eles fizeram contato com você e ofereceram o dinheiro, já para Jericho, eles disseram que tinham desviado o dinheiro do fundo dos Novas Espécies, e ele foi até o quarto tentar fazer você devolver o dinheiro. Mas ele deve ter mudado de ideia. Novas Espécies tem um enorme apetite sexual e não têm nosso senso moral, são livres, e, pelo que sei Jericho estava celibatário a anos já."
Deus! Ele chegou e a encontrou nua e se tocando. Não deve ter resistido. Ele nem parecia saber beijar direito.
"Mas ele é tão bonito. Como pode não ter uma namorada?
"É um pouco diferente para eles. As fêmeas não têm parceiros fixos, elas gostam de liberdade, e os machos são muito possessivos, então eles não namoram, alguns até ficam um pouco de tempo juntos, mas eles preferem sexo sem exclusividade."
Mas isso não explicava por que Jericho era quase um monge. Novamente não precisou falar, Jessie sorriu e explicou:
" Jericho sempre quis uma parceira. Uma companheira, melhor dizendo. Acasalar, para eles é pra sempre. Só que as fêmeas não estão interessadas. Então ele resolveu ficar sozinho."
Ela sentiu tanta pena dele. Era por isso que ele foi tão carinhoso. Ele queria amar e ser amado, mas parecia que nenhuma das fêmeas do povo dele queria amá-lo, e ser amada por ele. Se ela pudesse...
"Mas nós podemos dar um jeito. Pagamos uns dois meses do asilo do seu avô. Você fica esse tempo aqui, nós te oferecemos um apartamento no alojamento feminino e forneceremos alimentação e algo mais que você precisar. Você pode encarar como férias!" Jessie parecia animada." Só exigimos que você não ofereça seus serviços para os machos. " Ela estava séria agora.
"Eu não tenho outra alternativa. Se puderem pagar o asilo já estará bom. E eu não vou oferecer nada, pode ficar tranquila."
"Vou dizer a Justice. Ele estava preocupado que você recusasse e se pusesse em perigo." Ela sorriu e saiu, fechando a porta sem fazer barulho. Alguém se preocupando com ela. Essa era nova.
Férias! Ela nem acreditava. Seria bom ficar dois meses longe do trabalho. Dois meses sem ninguém ofendendo-a, tocando-a, machucando-a,dois meses sem homens suados e bêbados também. Só esperava não estar sonhando.


JerichoWhere stories live. Discover now