Capítulo 28

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Elisabeth roía as unhas das mãos. Quando sentiu um gostinho de sangue na boca, viu que o indicador estava sangrando. Deus! Já fazia umas três horas que ouviu o último tiro. Será que Jericho estaria bem? Ele não atendeu nenhuma das ligações dela. A caixa postal dele estava repleta de mensagens dela, implorando que ele fizesse contato.
Mas o telefone dela continuava mudo.
Ela tentara ir ao complexo central, mas o prédio dela estava sendo vigiado e um Nova Espécie que ela já tinha visto e era conhecido por Moon, estava de guarda impedindo todos de sair do prédio. Ela então se postou no saguão, mas não tinham tido nenhuma notícia.
Uma das moradoras era técnica de enfermagem e tinha sido chamada. Isso levou a apreensão dela às alturas.
O Nova Espécie, que estava do lado de fora das portas de vidro do prédio, recebeu uma ligação e a olhou enquanto falava.
Era isso, ou Jericho não estava bem, e ela iria para o hospital, ou esses tiros tinham alguma coisa a ver com ela tirando fotos da agenda de Slade.
Por mais que ela temesse ir para a cadeia deles, ela preferia que fosse isso a ficar sabendo que Jericho não estava bem. Ela suportaria tudo, menos saber que  tinha, mesmo que indiretamente, ajudado a ferí-lo.
Lágrimas caíram pelo rosto dela. E se outros Novas Espécies tivessem sido feridos? Ela tinha ajudado a prejudicá-los. Meu Deus! Era o fim.
O Nova Espécie acenou chamando-a.
Ela veio e se postou a frente da porta de vidro trancada. Ele abriu e disse com a voz rouca.
"Querem você no complexo, na área da segurança. Snow te levará.
Ela já tinha visto o felino de cabelos brancos. Ele era o equivalente Nova Espécie de um homem albino. Seus olhos eram violetas. Ele era lindo e único. Mas não haveria nenhum homem bonito que pudesse ser comparado à beleza de Jericho para ela. Beleza essa que nunca mais veria na cadeia.
Ela se lembrou das vezes que ficava na rua, esperando algum homem aparecer e requisitar os serviços dela. Toda a tristeza, todo o sentimento de humilhação, que a inundava nesses momentos não foram páreos para a dor que sentia.
A dor de ver a decepção nos olhos avermelhados que ela aprendeu a amar.
E Sophia? E Kit, que ela ajudara de alguma forma? Todos com os rostos virados para ela. Todos que um dia chegaram a querer ter algum tipo de amizade com ela, todos a odiariam.
Será que o fato dela estar sendo chantageada pesaria na decisão deles?
Mas ela tinha que ter pedido ajuda. E ela não confiou nele, agora não havia mais o que fazer.
O jipe parou e ela respirou fundo e ergueu o queixo. Será que filmaram quando ela tirou a agenda, ou quando a recolocou? Ela tinha ouvido dizerem que não haviam câmeras na sala de Slade. Mas deveria haver, e ela, burra que era, não pensou nisso.
Ele saiu, e foi andando, certo de que ela o seguia.
Entraram numa sala com um monitor gigante, onde se via todas as áreas comuns da Reserva.
E o homem que estava de pé com os braços cruzados a frente dela, não parecia Jericho. Não, Jericho sorria, esse estava tão sério, que a alegria em vê-lo bem, se desvaneceu. Ele sabia. Ela não sabia exatamente o que ele sabia, mas não adiantava esconder mais. Ela só podia querer que seu avô fosse polpado. Mas seu avô não estava em poder dele. O diretor também não respondeu às ligações dela. Era o fim, ponto final. Mas ela enfrentaria de cabeça erguida.
"Você os ajudou de alguma forma?"
Os olhos dele estavam vermelhos. Ela teve medo.
"Jericho"
Slade também estava na sala, mas ela só tinha olhos para Jericho. Talvez fosse a última vez que ficaria frente a frente com ele.
"Sim." Ela falou com a garganta arranhando. Implorar não adiantava, não quando ela era culpada.
"Como?"
Ele estava implacável. Ela ficou triste, no fundo pensou que ele fosse perguntar porquê. E aí ela poderia falar sobre o avô, mas ele já devia achar que ela era uma falsa e fingida ou que ela tinha recebido dinheiro para ferrar com eles. Ela só responderia o que ele perguntasse.
"Eu tirei fotos das páginas da agenda de Slade, e enviei para um homem chamado Michael Mars."
Pronto. Se fosse para pensar mal dela, que pensasse.
"Veja, tio! Esse é o Michael Mars, segundo o FBI. Ele não é parecido com o doutor Gabriel?"
Ela olhou em direção da voz e no canto esquerdo, quase escondido estavam dois Novas Espécies, que ela podia jurar que eram réplicas daquele grande que era como um leão. Eles tinham os cabelos ruivos, mais para o laranja, com várias mechas louras, exatamente como o tal de...
"Sim, são filhos de Valiant. Agora não é necessário esconder de você o nosso maior segredo. Podemos nos reproduzir. Você vai daqui direto para Fuller."
O choque foi tal que ela deu uns passos para trás. Fuller! Apodrecer naquela cadeia, sendo torturada. Ela precisava organizar os pensamentos. Mas a palavra Fuller, ficava martelando na mente dela. Ela olhou para o monitor e viu uma imagem do diretor. Era uma foto de documento, provavelmente de passaporte. Ele estava com os cabelos bem negros, mas tirando isso, era realmente muito parecido com o doutor Gabriel.
"Vocês sabem que foi o doutor Gabriel que me indicou a Casa de Repouso, onde meu avô está. Ele e o diretor devem ser irmãos, ou talvez a mesma pessoa!"Disse.
Sim, eram a mesma pessoa! A primeira impressão que teve do diretor foi que ele estava de peruca. E nunca vira o doutor por muito tempo. Ele, na maioria das vezes, lhe dava ordens e só.
"Sim, é possível, tio." Um dos gêmeos disse. Eles eram  menores que Jericho e Slade, mas  deveriam crescer muito ainda. E eram fortes. Ela podia ver os músculos dos braços apertados na  camiseta. Um deles olhou para ela e os olhos dele eram dourados, lindos, era como olhar para o sol. Ele parecia ingênuo, inclusive a olhou cheio de pena. Ela sorriu trêmula. Ele esboçou a vontade de retribuir, mas o irmão, mais frio, o olhou e ele voltou o olhar para o computador. Se eles não estivessem manuseando o teclado com tanta maestria e não tivesse acessado o documento do diretor direto do FBI, ela diria que eles eram crianças.
"O que diz aí?" Slade perguntou.
"Ele já foi fichado. Extorsão, estelionato, e não foram poucas queixas." O mais frio deles, com voz mais grave disse.
"Como Gabriel Marshall, ele tem ficha limpa." Era a voz do que quase sorriu para ela, a voz dele era diferente, infantil. Quantos anos eles teriam? Pelo menos uns dezessete, pelo físico, mas a voz do mais afetuoso, pareceu a voz de uma criança de menos de dez.
Slade fez um sinal e os gêmeos saíram. O do olhar frio, olhou bem na cara dela e disse, causando um arrepio nela: "Sorte sua que meu irmão não morreu. Pois ninguém nos impediria de vingá-lo." Disse olhando para Jericho, que não sustentou o olhar dele. Talvez todos os filhos dos Novas Espécies fossem parecidos, pois eles não tinham a mesma idade, não podia ser. Ele a olhou sem nenhuma piedade, até com um pouco de crueldade. Já o outro estava triste, muito triste pelo irmão, e também por ela. Um mostrou compaixão, o outro não.
"Você vai fazer uma coisa pra nós. Mas eu quero que você pense, antes de decidir, pois se nos trair de novo, irá morrer."
Ele, pelo menos, desviou o olhar vermelho quando disse a parte sobre ela morrer. Mas o adolescente fez mais medo nela, pois quando falou, mostrou as presas, enormes e brancas. Ela foi tentando focar a vista, mas pontos pretos foram surgindo na borda da visão dela. E os olhos vermelhos e raivosos dele foram a última coisa que ela viu.










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