Fragmentos

28.1K 1.6K 159
                                    

Meus lábios se abriram em um largo sorriso ao vê-lo, mas Victor permanecia me olhando fixamente, sem entender o que estava acontecendo. O cenho franzido e os olhos verdes fixos nos meus, até que eles tomaram a coloração extremamente clara e tremi. Olhei para Sean e para Amira e os olhos deles também adquiriram o tom típico. Não podia ser. As raças se reconhecem, é o instinto. Temi ao pensar que algo havia dado errado, mas pela expressão dos três naquele quarto, eu sabia. Não era uma comum.

Soltei a mão de Sean e me afastei o máximo que consegui. Encostei em uma parede, mais ao fundo, e passei a observá-los.

Victor levantou-se da cama e caminhou devagar até mim. Tocou em meu rosto e fechei os olhos ao sentir a pele dele. Continuava fria. Aquilo não poderia estar acontecendo. Me puxou pela mão e me abraçou com toda a força que tinha.

— Vai ficar tudo bem. — Beijou minha cabeça e não consegui evitar uma crise de choro.

— O que houve, Victor? — perguntei sentindo a dificuldade em falar, por causa do meu novo par de presas duplas. Victor olhou para Sean e ele seguiu rapidamente até o banheiro. Quando voltou, trouxe um espelho pequeno em suas mãos. Agradeceu com um aceno de cabeça e me encarou, antes de me entregar o espelho para que visse o que eles viam.

Respirei fundo antes de me colocar em foco e gelei ao ver meu reflexo, deixando o espelho espatifar no chão. Havia um par de olhos negros em mim, mas aquilo foi o de menos. O pior era perceber que a minha íris estava bem delineada pelo mesmo tom de olhos claros que Victor possuía. Não havia me tornado uma modificada, como achava, me tornei uma mistura dos dois. Uma híbrida.

— Não se preocupe, Alice — falou Sean. — Nós vamos dar um jeito.

— Que jeito seria esse? Não há volta — respirei profundamente. — Deveriam ter me deixado morrer.

— Não — Victor segurou meu rosto com as duas mãos. — A gente vai procurar entender o que está acontecendo com você. Está bem? — Assenti e ele me beijou. O simples toque era diferente agora, senti-lo era uma coisa incrivelmente mais intensa. Tudo era aumentado vinte vezes. O tato do vampiro é muito mais forte e aprofundado, como se tocasse a essência daquela pessoa que era merecedora de seu afeto. Naquele momento, passei a sentir isso. Acho que deve ser por essa razão que a maioria dos humanos pintam os vampiros como portadores da sensualidade e da luxuria. Somos mais intensos em absolutamente tudo e não só na parte sexual, mas também nos sentimentos.

Quando sentimos raiva, não é apenas a cólera. Beiramos a irracionalidade. Quando amamos é da mesma forma. Passei a compreender Victor quando meus olhos se abriram para o novo mundo. Se já o amava antes, agora não tinha mais retorno.

Os lábios separaram-se dos meus e Victor segurou minha mão, me puxando gentilmente para fora do quarto.

— Para onde vamos? — perguntei.

— A maioria dos recém-nascidos, quando retornam da transformação, estão famintos. Por isso vou te levar para se alimentar. — Puxei a mão e isso fez com que virasse e me encarasse.

— Não vou matar ninguém — respondi prontamente. Ele aproximou-se, segurou os lados da minha cabeça, e olhou em meus olhos. Sorria.

— Não precisa matar para se alimentar. Como médica, você sabe que existe uma quantidade de perda de sangue que o corpo humano aguenta. Sem gerar danos ao indivíduo.

— O problema é que também sei que os novos não têm controle. Não quero matar ninguém.

— E não vai — Victor me beijou rapidamente e voltou a me puxar. Paramos em frente a uma porta e comecei a ficar nervosa com o que poderia ter ali atrás. Ele não me colocaria frente a frente com um humano. Eu tinha certeza disso. Automaticamente lembrei das minhas cirurgias e da quantidade enorme de sangue que via ao operar um coração. Minha garganta começou a queimar de uma forma quase desesperadora, enquanto recordava as minhas mãos ensopadas naquele mel vermelho. Além da sensação de secura na boca, tinha também uma dor no estômago forte o suficiente para me fazer encolher. Victor me olhou e percebeu o que se passava comigo. Ele sabia que estava faminta. — Venha, eu te ajudo.

ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora