Bônus - Christine

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A casa acordou, de repente, na última hora. Os criados corriam de um lado a outro levando consigo bandejas, toalhas, taças, vinhos e comida. Muita comida. Aquele lugar parecia um verdadeiro pandemônio e tudo o que eu mais almejava era desaparecer.

Caminhei distraidamente até o parapeito da janela e sentei ali mesmo. Me pus a observar a movimentação na propriedade, quando o sol se foi e os coches começaram a chegar. Devo confessar que sempre gostei de bailes e festas, mas não queria estar ali. Não naquela noite.

— Christine! — chamou uma de minhas primas, que estava passando uns dias em minha casa. Virei para a porta a tempo de vê-la de braços cruzados. Estava ao lado de sua irmã, Pauline. Já estavam devidamente trajadas para aquele evento e me olhavam com cara de espanto. — O baile está prestes a começar e ainda estás assim, parecendo uma gata borralheira? Não pretende ir com essas vestes, pretende?

— Não estou com vontade de ir a esse baile, Mariette — respondi voltando minha atenção para o lado de fora da casa outra vez.

— Que mal há de acontecer? — perguntou Pauline.

— Não é questão de acontecer ou não algum mal. É que apenas não quero estar presente em festas e aglomerações hoje. Quero apenas a quietude de meu quarto.

— Não eres de minha família. Definitivamente não. — Mariette sentou-se em minha cama, fazendo careta. Parecia mesmo indignada com o fato de não querer participar daquilo. Isso me fez rir. — Olha só que lindo vestido a tia Luana mandou fazer para você. A renda é fina e o tecido deve ter sido caríssimo.

— Os sapatos e as jóias também são perfeitos — concluiu a minha outra prima, enquanto tocava no meu colar de esmeraldas.

— O que mais queres, Christine? — pediu Mariette e finalmente levantei do parapeito da janela.

— Sabes o que realmente quero? — perguntei me jogando na minha cama, com os braços abertos e pouco me importando em olhá-las. Fechei os olhos e sorri. — Quero paz, quero um dia de folga da minha vida. Quero ir a um lugar onde não conheça ninguém e que eu possa apenas caminhar sem rumo, com os pés descalços no chão.

— Enlouquecestes de uma vez — concluiu minha prima, tocando em minha testa para se certificar de que não estava febril. Eu ri até que a porta do meu quarto se abriu.

— Ainda não estás pronta, menina? — levei minhas vistas até a pessoa que falava e vi Tricia na porta. Devido a minha posição, a vi de ponta cabeça.

— Não e provavelmente não estará — Pauline respondeu por mim e apenas a encarei. — Christine não quer ir ao baile.

— Porque não?

— Porque sinto, em meu coração, que não devo ir.

— Mas que besteira. É um baile em honra a tua família, Christine. O mínimo que o senhor Cezar espera é que você esteja lá. — Tricia me puxou pelo braço, gentilmente, e me colocou de pé. Mesmo eu me fazendo de boneca e sem querer me firmar no chão. Me conduziu até a penteadeira e me colocou sentada na cadeira, passando a arrumar os meus cabelos em um penteado próprio de festa. — E vocês duas, podem descer. Christine logo estará com vocês — apontou para minhas primas, que se levantaram e deixaram o quarto. Tricia poderia ser considerada apenas como minha dama de companhia, mas era respeitada por todos. Era assim que eu queria que fosse, porque além de tudo ela era minha amiga. Era o mínimo que eu exigia.

Me fez um penteado, com cachos soltos, e colocou o colar em meu pescoço. Me ajudou com o vestido e o ajustou em meu corpo, enquanto eu calçava os sapatos. Depois me colocou sentada outra vez, para fazer uma maquiagem leve.

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