Epílogo

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— Atrasou apenas um minuto — continuei quando percebi que a porta estava fechada.

— Acredite, quando se quer estar com uma pessoa, um minuto é uma eternidade — olhei para o chão rapidamente, mas não antes de ver Arthur retirar a jaqueta de couro preta, que vestia, e colocar estendida no assento da cadeira. Precisava secar. Por baixo usava uma camisa de botões, da mesma cor da jaqueta e calças Jeans escura.

— Estava muito longe? — tentei mudar o foco da conversa.

— Filadélfia — respondeu sentando na cadeira em seguida.

— Você ainda se desculpa? — perguntei e ele ergueu uma sobrancelha. — Eu passei as férias na casa de uns tios na Filadélfia. Daqui para lá são duas horas, Arthur. Você fez um milagre chegando aqui em uma hora.

— Uma hora e um minuto — concluiu ele me fazendo rir. — Eu corri. Acho que devo ter sido pego pelos radares umas quinhentas vezes — me encarou por um tempo. — Que se dane os radares.

— Obrigada por isso — sorri mais ainda ao perceber que ele tentava me animar. — Divide as multas comigo.

— Que espécie de cavalheiro eu seria, se deixasse a dama dividir as contas?

— Igualdade é a palavra-chave, meu caro senhor do século quinze — tentei fazer humor e percebi que tive êxito quando deixou uma gargalhada, alta e gostosa de ouvir, sair de seus lábios. Sentei na cama respirando fundo enquanto meu sorriso ia desaparecendo gradativamente.

— Essa foi briga foi séria? — perguntou depois de alguns minutos em silêncio. O encarei e percebi que sua feição estava rígida agora.

— Eu pedi um tempo para ele. Não estamos mais juntos — respondi voltando minha atenção para minhas próprias mãos.

— Se sabia que ia ficar mal, não deveria ter feito.

— Vocês mentiram e tomaram uma decisão que só cabia a mim. Isso é traição.

— Eu amo você, Alice, e contei isso a ele. Não quero mais mentiras, mais dúvidas e mais inimigos. Quero minha família de volta. Victor e Andrei é tudo o que me restou, mas enquanto eu estiver perto não vou ter nenhum dos dois de volta. Especialmente meu irmão. Ele nunca será o mesmo outra vez, sabendo que desejo a mulher com quem ele dorme. Você entende isso?

— Você tem a mim também — respondi sem pensar e Arthur soltou um suspiro. — Vale a pena me machucar?

— Está enganada. Você é a única que não posso ter e isso me frustra de uma forma que não conseguiria mensurar — abaixei a cabeça e passei a olhar para minhas mãos, que estavam juntas em meu colo. Arthur levantou-se da cadeira e sentou ao meu lado na cama. — Por tudo que é de mais sagrado, não fique assim — ele segurou minhas mãos e me fez olhar para ele. — Eu não suporto te ver assim. Parte meu coração em mil pedaços — alisou minhas bochechas, fazendo um carinho tão bom que me permiti fechar os olhos. — Com sorte daqui a algum tempo, talvez em duzentos ou trezentos anos, isso tudo vai ter passado. Vamos nos ver apenas como ótimos amigos, mas até lá eu preciso ficar longe de você.

— E se eu não te quiser longe? — perguntei abrindo meus olhos e encontrando os dele examinando meu rosto.

— Vai ter que se acostumar com a ideia — respondeu sussurrando. Não queria dizer aquilo, era mentira. Tudo o que saiu de sua boca, desde que chegou era uma sórdida mentira. Ele não queria estar longe, não me esqueceria em duzentos ou trezentos anos e Victor e Andrei não era tudo o que ele tinha. Eu também estava ali para ele.

Confesso que eu estava confusa. Arthur, nos últimos dias, se tornou uma pessoa muito importante para mim. Foi ele que me deu suporte, mesmo com toda essa loucura de ser controlado pelo pai. Eu sentia algo por ele, só não sabia o que era ainda. E ter aquela dúvida estava me matando. Eu amo Victor, e talvez nunca vou deixar de amar, mas essa ideia de ter duas pessoas como maker não é a melhor coisa do mundo.

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