Knockout

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Entrei em casa e levei as compras até o balcão da cozinha. Sentia uma tontura forte e enjoos, mas acreditava que aquilo era por causa da noite estressante ou o veneno. Lembrar-se da dor e a sensação do ácido sulfúrico correndo pelas suas veias é apavorante. Se Ethan não chegasse a tempo, eu seria a próxima entrada no necrotério, tal qual Gabriel. Me arrepiei ao lembrar daquela cena, do buraco que ficou no peito do meu paciente depois que seu coração explodiu.

Tremi ao trazer aquelas memórias à tona.

Tricia disse que havia sangue de vampiro em mim. Ethan me deu o sangue dele para beber e me salvou de perder o coração. Assim que voltasse a vê-lo, trataria de agradecer.

Espreitei a sala e sorri ao ver a cena da minha família junta, assistindo televisão. As gêmeas dormiam com as cabeças apoiadas nos colos de meus pais e Alex permanecia jogado em uma das poltronas. Estava de castigo.

— Só vim desejar boa noite — sussurrei.

— Durma bem, querida — disse meu pai. Dei as costas para eles, mas fui chamada outra vez.

— Alice, tem alguma chance de você viajar para o lago conosco?

— Quantos dias vão ficar dessa vez? — indaguei baixinho.

— Uma semana, no máximo — respondeu ele. — É só porque a sua mãe volta d as férias em dez dias e nem passamos uma tarde lá. Ela quer ir — olhei para minha mãe que dormia encostada no sofá.

— Preciso falar com Steve antes. Uma semana não garanto, mas uns três dias consigo.

— Fale com ele então. Ela está querendo fazer o aniversário das gêmeas lá e você tem trabalhado demais, merece um descanso.

— Está tão evidente assim?

— Pode apostar que sim! Vá dormir.

— Boa noite, pai.

— Boa noite, Lice — ele piscou para mim e voltou a assistir ao programa que passava na TV.

Subi as escadas devagar e logo cheguei ao quarto. Não me demorei muito antes de ir ao banheiro, tomar um banho demorado e me jogar na cama. Adormeci tão logo quando deitei, mas nem de longe descansei. Os sonhos me perseguiam mais e mais nas últimas noites. Christine queria me mostrar algo que precisava saber, mas a questão era: Realmente queria saber?

Estava em uma cozinha antiga, ainda com um fogão a lenha e bastante rústica. Um dos cômodos da casa da mulher que costumava ser. Estava apoiada em uma das mesas e respirava de maneira pausada. Não a vi de frente, no primeiro momento, apenas as costas.

— A senhora está bem? — perguntou uma das mulheres que trabalhavam para ela.

— Sim, estou sim — respondeu retomando a postura ereta. — Esqueci que no final da gravidez, as costas doem.

— Seu garoto já é um menino crescido, senhora. É natural que tenha esquecido — falou a mulher e Christine levou seus olhos até onde estava o filho, seu primogênito. Tinha pouco mais de cinco anos de idade e aprendia a escrever, sentado em uma das mesas, na companhia de uma mulher bem vestida. Uma professora, talvez.

A loira andou até uma das panelas e mexeu com uma colher.

— Está pronto — informou. — Me consiga um prato, Acelie — a mulher lhe entregou uma travessa e Christine colocou o conteúdo nele. Saiu da cozinha com aquilo nas mãos e a segui. Ela colocou o prato no meio de uma mesa, onde estavam jantando cinco homens. Um deles era o Frederico, seu marido. Não sei como identifiquei, mas tinha certeza de que era ele. Os olhos azuis intensos observavam Christine de uma forma séria, repreendendo-a por ter levado a comida até lá. Era trabalho das servas fazerem isso e, sem contar, que a mesa estava cheia de homens.

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