Eu Escolho a Eternidade - Parte Um

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Eu me vi na entrada de uma casa velha, completamente escura e com um odor fétido que invadia a narina impiedosamente. Era o cheiro de morte. Eu não sabia o que fazia ali e demorou um pouco até eu perceber que se tratava de um sonho, mas saber aquilo não me ajudou em absolutamente nada. Eu estava apavorada da mesma forma.

Mesmo tremendo bastante, resolvi entrar na casa e tentar descobrir o que estava acontecendo e porque eu estava tendo aquele pesadelo. Dei alguns passos para dentro e a porta se fechou atrás de mim. Só então reconheci o lugar. Era a minha casa.

O desespero tomou conta de uma forma que eu não conseguia explicar. Eu sabia de onde vinha o odor forte, eu sabia. Era dos corpos da minha família que estavam espalhados pela casa.

Minha mãe estava debruçada em cima da mesa de centro, com um rasgo imenso no pescoço. Quem quer que tenha feito aquilo, quase decepou a sua cabeça. Me afastei do corpo rapidamente, assustada com a maldade que havia acontecido e principalmente porque a crise de pânico começou a me tomar. Ao me virar, dei de cara com as gêmeas caídas, uma ao lado da outra. Os olhos de espanto de Meredith e os de Dianne me fizeram perder o compasso da respiração. Eu queria sair dali, correr para o lugar mais longe possível e acordar. Deus, como eu desejava acordar.

Segui para fora da sala e, no corredor, estava meu pai caído no chão. Eu petrifiquei completamente ao vê-lo partido ao meio, assim como o Alex.

Levei minhas mãos até a boca e me encostei na parede atrás de mim. Eu queria morrer junto com eles. Eu não estava preparada para ver nada daquilo. Parecia real demais e, por isso, comecei a chorar de uma forma inconsolável. Até que ouvi alguém suspirar na cozinha. Corri para lá e a vi. Estava sentada no chão e encostada no balcão. As mãos, roupas e rosto completamente vermelhos, de cima a baixo. Sangue escorria de sua boca e a cabeça se mantinha tombada. Eu sabia que aquela mulher estava viva, mesmo que a situação se mostrasse diferente. Parei de frente para a loira e ela ergueu as vistas até mim. O rosto estava lavado em lágrimas, mas a expressão era fria como a morte.

— Olha só o que fizemos — falou quase em um sussurro. Minha imagem ali sentada, chorosa e devastada, fez meu coração acelerar de uma forma que pareceu que não aguentaria e pararia a qualquer momento. Ela sorriu, deixando que eu visse todos os dentes melados de sangue, mas imediatamente voltou a chorar. — Eu ainda sinto o gosto deles em minha boca, Alice. A carne deles em meus dentes — eu entrei em completo desespero enquanto a ouvia falar. A minha versão macabra me olhava seriamente até que se apoiou e ficou completamente de pé. — Eles gritaram, mas eu não parei. Eu não conseguia parar. Eu sou um mostro — os olhos dela tornaram-se inteiramente negros. — O que fizemos, Alice? — Me perguntou e antes que eu pudesse tomar qualquer atitude, ela pulou em cima de mim, com as presas duplas a mostra.

Um grito deixou minha garganta antes que eu pudesse me dar conta de que eu havia acordado ou que o celular tocava desesperadamente na penteadeira. Parou segundos depois. Passei a mão em meu rosto, sentindo meus dedos grudarem em minha pele ainda suada e aquilo nada tinha a ver com o pesadelo. Prendi o cabelo de qualquer jeito e olhei o quarto envolta. As minhas roupas ainda estavam no chão, mas nem sinal das de Victor. Só então percebi que o sol já entrava pela janela do quarto, porque eu havia esquecido de fechar as cortinas a noite. Também, eu jamais me lembraria da janela com tudo o que aconteceu.

Tornei a me deitar e me estiquei na cama, tentando relaxar todos os meus músculos que doíam. Abdome, pernas e braços, eram só dor. Victor era intenso e eu não estava preparada para essa intensidade. Meu corpo não reclamou na hora, justamente porque meu sangue fervia em minhas veias, mas depois de dormir foi que eu percebi o estrago.

Sentei na cama, com o corpo coberto apenas pelo lençol, e tornei a examinar o quarto. Victor não iria sem me deixar um bilhete. Olhei para o lado da cama, onde ele dormiu, e vi o papel em cima do seu travesseiro.

ImortalWhere stories live. Discover now