Nada será como antes

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Os sons dos flashs eram a única coisa ouvida naquele momento. Não haviam mais lágrimas nos olhos da jovem que encarava o vazio em sua frente.

Era o fim.

Tinha plena certeza que havia chegado ao fim do caminho, que tudo que fizera fora em vão. Não havia esperança, não havia salvação. A maldade de ambas as famílias levaram a vida de seus herdeiros a ruína.
Adeline respirou fundo, secando as lágrimas lentamente enquanto se levantava, sentindo os membros tensos pelas horas em que passou sentada na mesma posição.
Tinha medo, da realidade que a receberia fora de sua bolha, temia pelo que viria pela frente. Todavia, precisa ser mais forte que nunca, não podia se dar ao luxo de fraquejar.

Num gesto tomado de coragem súbita, caminhou confiante até a porta, se jogando sem medo aos leões.





Helena James jogou pela terceira vez, um exemplar de sua revista favorita no lixo, olhar a manchete da capa lhe deixava completamente fora de si. Como seu sobrenome havia virado motivo de vergonha e depravação? Lutara tanto para ser uma mulher exemplar, uma James a altura de sua hierarquia. Sabia que não era fácil, nunca seria, entretanto nunca deixou se abalar pelos problemas em seu casamento. Afinal, seu enlace era apenas um acordo, uma jogada bem pensanda de seu pai. Ousava acreditar que em algum momento amou Hugh, sonhou em ter uma família grande e feliz.

As letras garrafais exibiam com um toque quase cruel, a realidade que sempre tentou esconder:

"Herdeira dos Matteos abre o jogo sobre seu casamento, família e acordo com os James. Uma reviravolta, a poucas semanas da eleição presidencial leva os grandes favoritos a sarjeta.

Pág. 15"

- Aquela garota é completamente inconsequente, como ela ousou nos desafiar desta forma Ava? - A James inquiriu de forma fria, os lábios torcidos em uma careta estranha.

- Eu sempre soube que Ella arruinaria o sobrenome da família, ainda mais quando começou aquele relacionamento patético com o filho dos Humpfrey. - Ava Matteo deixou as palavras escaparem de sua boca, enquanto servia uma dose generosa de conhaque em seu chá calmante. - E quanto a você, minha querida, está pronta para o funeral?

Ava estendeu suas mãos bem cuidadas, ostensivamente adornada por joias, a mulher a sua frente compadecida de sua dor. Apesar da máscara inflexível em seu rosto, Ava sabia que a amiga estava sofrendo com sua perda.

- Preciso ser forte, por Hugh. Não posso me abater diante desta situação terrível. - respondeu simplesmente, levantando-se num átimo, pondo se fronte ao grandioso espelho marfim, vestindo por fim um chapéu preto cujo véu negro lhe cobria o rosto. - Vamos Ava, não posso me atrasar.





O tom de cinza escuro que cobria o céu nova iorquino, trazia o prenúncio de que uma tempestade estava por vir. O outono se aproximava sorrateiro, o vento forte agitava os cabelos longos da jovem, que em passos fortes caminhava pelo cemitério. O coração palpitava fora de compasso e ela tentava equilibrar-se sobre os saltos altos. Correu seus olhos ao redor, encontrando sua mãe ao lado se Helena James, que pelo leve balançar de seus ombros, chorava silenciosamente por sua perda. A garota não quis aproximar-se demais dos outros, que assistiam o sermão do padre em silêncio, as cabeças baixas e alguns fungares de narizes. Estava tudo acabado, talvez agora pudesse ter paz. Muito embora, fosse esse o final esperado pela menina. Ella em momento algum pensou que a morte fosse o desfecho daquela mal fadada história. Josh e Adeline não estavam presentes ali, a garota sabia que a amiga estava perdida com tudo que havia acontecido, com as fofocas, a culpa e agradeceu por Josh estar ao seu lado, lhe amparando. Recolocou seus óculos escuros e fez uma pequena prece, dando as costas ao caixão que agora era engolido pela terra.
Encarou o céu, no segundo em que um raio o cortou, pensando em como tudo mudou em apenas setenta e duas horas.

Alex e Adeline Onde as histórias ganham vida. Descobre agora