Paraíso e ruinas

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As luzes esbranquiçadas cobriam tudo com um ar quase fantasmagórico. Ali não havia frio, dor ou quaisquer sensações que não fossem o vazio.

Não havia nada.

Tentou inalar um pouco de ar e olhar ao redor para entender onde estava. As paredes brancas, o cheiro de éter, o bip irritante dos aparelhos ligados a ele. Alex James completava quatro dias em coma, totalmente alheio ao caos externo. Ao emaranhado de jornalistas esperando más notícias como abutres sobre a carniça, o desespero de seus amigos e de sua amada. Testou se mexer, movendo lentamente os dedos e pode sentir algo como um fio invisível lhe puxar para o alto. Assustado, fechou os olhos esperando o impacto que nunca veio.
Um grito morreu em sua garganta, quando viu seu corpo machucado e coberto por curativos deitado sobre a cama hospitalar, a pele assumindo um tom amarelado e diversos fios o mantendo vivo.

Estaria morto?

Lembrava-se de estar no carro junto de seu pai, do estado alterado em que se encontrava, de um forte impacto e da escuridão. De pé frente ao seu corpo, Alex sentia algo semelhante a uma paz, uma tranquilidade que lhe possuía cada parte de seu corpo ou sua alma, não soube dizer exatamente. Seria está a sensação de ir? De deixar toda aquela vida miserável para trás, de nunca mais sentir agonia ou desespero por estar preso em mentiras.
Deixou sua mente vagar por aqueles instantes de calmaria, quando a porta fora aberta de forma cautelosa.

Alex sorriu levemente quando a passos trêmulos, Martha adentrou o quarto. Os olhos inchados da mulher, pesavam sua idade mais que o normal. Seu sofrimento em ver seu menino lutando por sua vida, lhe doia a própria carne. Ela temera cada dia de sua vida que tudo eclodisse aquele ponto, onde a negligência e crueldade de seus patrões lhe tirassem toda essência. A senhora caminhou até a cama, tocando a mão de Alex com cuidado e afeto.

- Oi meu menino, como você está? - Martha ensaiou uma voz mais animada do que seu rosto demonstrava.

Alex que caminhava de um lado pro outro, agora agoniado por estar compreendo seu estado. Aquilo era sua própria consciência, sua alma, uma projeção?

- Alex, quero que me escute se puder. Aurora está bem, está em minha casa e estou cuidando dela como cuidei de você. - a mulher suspirou, imaginando se ele poderia ouvi-la naquele estado. - Seu pai se foi Alex, tudo vai melhorar agora. Você está livre, meu filho.

Seu pai estava morto. Morto.

Se fosse possível, ele gritaria e dançaria pelo hospital. Mas nem sequer sabia se aquilo era real, ou alguma fuga de sua mente que finalmente quebrara.

- O que está fazendo aqui Martha? - A voz de Helena James ricochetiou pelo quarto, atraindo a atenção de ambos. A governanta esticou os ombros e virou calmamente para a mulher.

- Apenas vim ver meu menino, senhora.

Helena deixou um resmungo escapar e bateu os saltos muito finos e muito altos, para uma mulher em sua situação.

- Seu menino? Como se atreve a chamá-lo assim? - a mulher loira, franziu o nariz alinhado cirurgicamente, com a forma esnobe típica dos James. - Alex. É. Meu. Filho.

Pontuou cada palavra, afastando a mão da mulher de seu herdeiro. Alex que assistia a cena horrorizado, quis tirar sua mãe de perto da sua querida Martha. Ela sim, fora uma mãe para si. Havia sido ela que lhe ensinou as primeiras palavras, os primeiros passos. Que cuidou de sua febre, limpou os machucados que seu pai fazia questão de deixar em sua pele quando agia como uma criança normal.

"Somos James, garoto. Não brincamos de casinha e estas bobagens infantis. Nós crescemos para sermos líderes." Alex podia sentir ainda em sua mente, a frieza na voz de seu genitor. Martha encarava Helena com uma expressão que nunca vira em seu rosto.

Alex e Adeline Onde as histórias ganham vida. Descobre agora