CAPÍTULO 4

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O dia amanheceu cinza, como meu humor

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O dia amanheceu cinza, como meu humor. Às vezes acordava me sentindo mumificada, e aquele foi um desses dias. Nenhum sinal de vida, muito menos em meu quarto. Ventos assustadores assopravam do lado de fora fazendo as janelas estilo guilhotina tremerem, suas brechas liberavam uma quantidade menor de ar, que balançava levemente as persianas, assim como o tilintar do furin na porta de entrada, que ecoava fervoroso.

Nuvens carregadas permaneceram cobrindo a cidade durante a tarde até às cinco horas, quando começou a anoitecer. Restou aos cidadãos uma rápida chuva para lembrar de que os próximos dias seriam relativos quanto à previsão do tempo.

Apesar de ter ido ao Gadbois pela tarde, não fiquei para treinar. Atlas havia me enviado uma mensagem no início da manhã para avisar que teria um compromisso de aniversário que se estenderia pelo resto do dia; é o primeiro que não saímos juntos. Outrora, apenas fui ao clube para uma consulta rápida com o ortopedista e depois retornei para casa.

- Eu não tenho a noite inteira! - resmunguei para Alice, ao pé da escada.

- Será que não podia esperar mais dez minutos? - Logo, ela desceu, enquanto prendia o cabelo.

- Será que não podia ser mais rápida? - reclamei, revirando os olhos. - Vou trabalhar, não sair para dançar.

- Ei, não briguem! - repreendeu Willow, da cozinha.

- Eu não vou sair para dançar - Alice me deu um empurrãozinho para abrir passagem. - Vou ao cinema com o meu namorado.

- Que seja.

- Se está passando na minha cara que pedi uma carona, avise, assim eu tenho tempo para pedir um Uber

- Você demora, mas o Tim Hortons está no meio do caminho, não custa nada eu te deixar lá - acabei me rendendo.

A Hortons era uma rede de cafeterias fundada por Tim Horton, um cara que era jogador de hóquei no gelo. Os canadenses amam tudo o que tem lá e ela está por toda a parte.

- Então pare de reclamar. Ou eu te expulso do quarto.

- Nunca gostei de dividi-lo com você - confessei.

- Alice, juízo! - meu pai surgiu com as mãos sujas de graxa, apenas para repreender minha irmã.

Apesar de seu inglês ser perfeito, meu pai sempre dava uma afrancesada no nome de Alice e isso soava mais ou menos como "Alíss". Eu achava engraçado, mas Willow se derretia achando fofo.

Alice e eu nos dirigimos para a garagem e entramos no Nissan Sentra de cor preta. Quando Susie morreu, papai não se desfez do carro dela e, como na época eu ainda não era habilitada, ele deixou o automóvel para mim. E aqui estamos nós.

As ruas estavam tranquilas por ser início da semana. Deixei Alice em seu ponto de encontro com o namorado e em poucos minutos já estava estacionando do outro lado da rua, de frente para a academia.

O Melhor de NósWhere stories live. Discover now