Capítulo 32

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Vanessa saiu da sala de Elena e passou a pensar no que acabara de ouvir. Então a profecia era real? Não era simplesmente uma invenção de Adriano? Por todo esse tempo, ela pensava que ou Adriano estava mentindo ou que sua mãe lhe contara alguma história. Mas aparentemente nada daquilo tinha sido inventado.

Elena dissera com palavras claras: você é a escolhida. Escolhida para quê? Escolhida por quem? O que ela estava destinada a fazer?

De qualquer maneira, Vanessa sabia que sua vida em Marte seria diferente da que tinha na Terra. Ela se tornaria alguém completamente distinto do que era, de modo que, talvez, não se reconhecesse mais em si mesma. Era possível que, no futuro, olhasse para seu antigo eu e não vesse nada familiar. Era provável que nunca voltasse a ser ela mesma.

Mas nada disso importava. Agora Vanessa era professora. Professora de quê? Elena não dissera nada. Foi dormir.

No dia seguinte, Vanessa foi acordada por Elena. Disse:

– Acorde. É hora de se preparar para sua missão.

Vanessa, surpreendentemente, entendeu seu russo. Àquela altura, já conseguia se expressar bem nesse idioma. Ainda bocejando, se espreguiçou e se levantou tentando não fazer barulho.

– Hoje será um grande dia.

Caminharam pelos túneis debaixo do solo. Os ex soviéticos tinham uma grande capacidade de cavar buracos, algo que, aparentemente, aprenderam com seus ancestrais nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial. Quando menos esperavam, chegaram em uma pequena sala com dezenas de crianças.

– Vanessa, essa é a sua primeira turma – disse Elena – O seu trabalho será preparar as crianças para a guerra.

– Que guerra?

– Ora... Você não sabe?

– Não.

– A guerra com os marcianos. Com os nativos de Marte.

– Vocês não são os únicos aqui?

– Não. Somos os únicos terráqueos. Por isso, ajudamos vocês. Só por serem da Terra, já são nossos amigos.

– Como são os marcianos?

– Depende. Eles são heterogêneos. Mas em geral, são uns vândalos e bárbaros. Completamente primitivos. Mas não temos muito tempo, Vanessa. A guerra começará logo. Logo direi à tripulação.

– O que eu farei aqui?

– Você irá ensinar as crianças a lutar no campo de batalha. Sei que você é capaz, Vanessa. Você é a escolhida.

Nota do autor: para efeitos de simplificação, os diálogos em russo serão transcritos em português. Mas você, leitor, deve saber que essas frases foram pronunciadas originalmente em russo. Em um russo cheio de erros gramaticais e com um forte sotaque.

Uma passagem para MarteOnde histórias criam vida. Descubra agora