Capítulo 10

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Nas semanas seguintes, Vinicius recebeu muitas encomendas de Adriano. Conseguia um envelope com informações sobre cada pessoa com seu nome e sua idade. Não diziam sua profissão nem a razão pela qual foram chamados para Marte. Mas ao contrário de Vanessa e sua mãe, todas as outras encomendas eram feitas para pessoas que ele não conhecia. Isso fazia sentido, porque havia mais de 50 mil pessoas na Torre e, dessas, uma boa parte iria para Marte. Assim, ele se questionava sobre como era possível manter segredo sobre um assunto tão recorrente. Será que apenas ele não sabia o que estava acontecendo?

Diversas etnias iriam para Marte; brancos, negros, amarelos e mestiços. Sabendo que cada um era convocado por um motivo diferente, Vinicius se questionava por qual motivo ele não poderia participar. Mas rebelde como era, decidiu: "eu irei para Marte nem que seja escondido". Assim, se arrependeu do começo de sua jornada quando queria ser um simples mensageiro, tomando a decisão de que seria protagonista da sua própria história, sem deixar Adriano tratá-lo como se fosse um objeto.

Mas o mundo ainda guardava segredos sobre os quais ele não fazia a menor ideia. Quem era Adriano? Que organização era aquela? Vinicius decidiu que iria desvendar aquele mistério, pois era um ladrão. Sabia fazer isso muito bem. Tudo que precisava era traçar um plano.

Por bastante tempo Vinicius pensou no que poderia fazer. Mas trabalhando constantemente, não tinha tempo para pensar em nada. Assim, todos os dias enviava desconhecidos para Marte e, conforme lhe fora pedido, não contava a razão para tal. Inventava uma mentira. Como um bom ladrão, sabia mentir. Fazia isso melhor do que ninguém. Mas agora a questão era a seguinte: mentiria para alguém ou para beneficiar a si mesmo?

O pagamento era mil dólares para cada encomenda. Nem mais nem menos do que isso. Caso a pessoa desistisse ou não aceitasse, o dinheiro tinha de ser devolvido, assim como ocorreu com a sua mãe. Era possível, na verdade, que Vinicius se endividasse caso suas encomendas não dessem certo.

Mas não era possível continuar assim. Vinicius precisava de um plano. Mas, na realidade, o plano veio até ele. Tudo começou em uma linda manhã de sol.

Good morning – disse um lindo rapaz de cabelos loiros e olhos azuis. – Você poderia me dizer onde fica o floor 59?

– Não sei – disse Vinicius, que não sabia muito bem inglês – mas posso ir procurar com você.

– Não é necessário – desconversou o rapaz – thanks.

– Não – disse Vinicius – eu insisto.

Please, me deixe em paz por favor – terminou a conversa.

Mas Vinicius, curioso, quis se intrometer onde não fora chamado. Além de estar entediado, não tinha nenhum medo do perigo, já que, como membro das classes baixas, precisava se virar sempre e, assim, não fugia de nenhuma aventura, por menor que fosse. A sua intuição lhe dizia, apesar de tudo, que aqueles rapazes tinham algo a lhe acrescentar.

Sorrateiramente, seguiu o rapaz loiro de olhos azuis mais seus companheiros (eram dois, além dele). Não entendia o que diziam, é claro, pois conversavam em inglês. Mas notava que o tom de voz deles parecia ser preocupado e um pouco agressivo. O que estava acontecendo?

Vinicius se escondeu atrás de uma pilastra e tentava "pescar" as poucas palavras que sabia de inglês. Escutou os termos 'danger', 'travel', 'Adriano'. Isso mesmo; perigo. Viagem. Adriano. Nesse momento Vinicius saiu de seu esconderijo para ouvir melhor o que estava acontecendo, ainda que entendesse pouco. Nesse momento foi pego.

– O que esse garçon está fazendo aqui? – disse um rapaz alto de cabelos escuros com um sotaque francês.

Creo que ele estava nos oyendo! – disse uma moça em portunhol.

– Calma, gente – se desculpou Vinicius – eu só estava passando.

– Só me diga até onde você ouviu – disse o primeiro rapaz loiro de olhos azuis que falava inglês.

– Eu ouvi as palavras 'danger', 'travel' e Adriano.

Shit – gritaram todos eles em uníssono.

Escúchame, você não vai poder contar para ninguém o que ouviu, ok? – disse a moça com sotaque espanhol.

– Espera. Esse assunto diz respeito a mim também – exclamou Vinicius.

– Como assim? – perguntou um deles.

– Eu conheço o Adriano.

Mon dieu – disse o rapaz alto de cabelos escuros – você também trabalha para ele?

– Sim.

– Ufa – respiraram os três aliviados.

– Meu nome é Brian – disse o rapaz que falava inglês.

– Me chamo Oliver – disse aquele que se expressava em francês.

Mi nombre é Luna – disse a moça de língua materna espanhola.

– Prazer, meu nome é Vinicius

– Nós vamos te contar toda a verdade sobre a viagem para Marte – disse Brian.

Uma passagem para MarteWhere stories live. Discover now