Capítulo 40

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O idioma berset soava demasiado estranho. Continha pouquíssimos fonemas, e as palavras eram demasiadamente curtas. Era diferente de tudo que Vanessa já houvia ouvido.

– Aparentemente, nos enganamos quanto aos bersets – disse Adriano – Eles não são tão primitivos assim. Nem querem guerra.

– Bobagem – respondeu o Comandante – Isso deve ser um tipo de armadilha.

Todos ficaram bastante surpresos com o pedido dos invasores. Ninguém imaginava que nenhum sangue seria derramado. Como pôde um povo tão guerreiro como os bersets recusar alguma batalha? Talvez os terráqueos tenham se enganado sobre eles.

Vanessa cogitou a possibilidade de que todo seu treinamento com as crianças houvera sido em vão. Se deu conta de que, talvez, os bersets não fossem nada daquilo que pensavam sobre eles. Muito provavelmente a imagem que a garota tinha dos nativos de Marte tinha sido construída na base de muitas mentiras e preconceitos.

– Acho que ninguém vai querer se candidatar – disse Mariana – Isso seria suicídio.

Mas Vanessa mal ouviu o que lhe disse a sua amada. Estava absorta demais em seus próprios pensamentos para notar qualquer coisa que estava acontecendo ao seu redor. Desde que chegara na República Socialista de Marte, só ouvia reclamações sobre os bersets. Ninguém dissera uma palavra positiva quanto a eles. Será que eles eram tão horríveis assim?

– Os romanos chamavam todos que não falavam latim de bárbaros – disse Mariana – Bárbaros eram todos que não pensavam como eles. O mesmo acontece aqui, minha cara amiga. Os ex soviéticos se creem mais civilizados do que os bersets por conhecerem a escrita e terem um sistema político estruturado.

Vanessa respondeu-lhe com algum monossílabo. Só podia notar que um garoto jovem e franzino, quase da idade da Vanessa, se levantou e disse:

– Eu me candidato para ir viver com os bersets.

Era Vinicius.

Uma passagem para MarteOnde histórias criam vida. Descubra agora