5 - [encontro]

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Os ponteiros do velho relógio no departamento de Achados e Perdidos pareciam não ter pressa de chegar às tão desejadas 11 horas, em ponto. Tornavam, assim, cada vez mais torturante a espera de Timmothy. O jovem tamborilava os dedos no balcão de madeira, impaciente, como todos na sua idade pareciam ser.

- Os minutos não vão passar mais rápido se ficar encarando o relógio, Tim - Susan, sua colega de trabalho, falou.

Ela não havia desviado os olhos por um instante sequer dos papéis a sua frente, mas parecia saber exatamente o que ele estava fazendo. Timmothy se perguntou se as mães de todo o Universo adquiriam algum tipo de habilidade especial junto ao primeiro filho.

Levou as mãos ao ar, rendendo-se.

- Certo, certo. Só estou... - sentiu as feições formarem uma careta - preocupado.

Susan arqueou uma das sombrancelhas.

- Por quê? Deixou os trabalhos aculmularem de novo?

Timmothy bufou. Ela nunca iria deixá-lo esquecer daquele incidente no ano passado.

- Não, Susan. Não vou cometer esse erro novamente. Não quero passar mais um verão com a sua versão espartana.

A mulher ao seu lado soltou um riso debochado.

- Ah, Tim, não foi tão mal assim.

- Claro que não. Você só me forçou a passar 8 horas sentado em um canto do departamento, sem pausas para o banheiro, até que eu terminasse toda a lição de casa atrasada.

Susan desviou os olhos das papéis,  bagunçando os cabelos de Timmothy no caminho até os arquivos.

- Da próxima vez, tente não se esquecer de fazê-las antes de se enfiar no seu mundinho de fantasias.

Ele abriu a boca, pronto para mais um discurso sobre como não estava no seu "mundinho de fantasias", mas tentando construir um universo com bases concretas para seu livro. O relógio, no entanto, decidiu contrariar seus planos. Finalmente, a tão desejada hora de ir para casa chegou.

O silêncio caiu entre eles, enquanto o rotina familiar da "hora de fechar" tomava conta dos seus membros. Susan esticou-se no seu suéter azul bebê, deixando a papelada de lado, em uma pilha perfeitamente organizada. Timmothy conferiu o registro de todos os objetivos perdidos e encontrados no dia. Portas e armários foram fechados. Luzes apagadas. O departamento de Achados & Perdidos da rua Fulton finalmente adormecia depois de mais um longo dia.

- Até amanhã, garoto. - Susan se despediu ao bagunçar os cabelos de Tim uma última vez.

- Até amanhã - resmungou ele de volta.

O ar quente e abafado de verão havia dado lugar a uma brisa fresca. O jovem ajeitou a alça da mochila no ombros antes de caminhar até uma das linhas amarelas marcadas no chão da estação de trem. O silêncio e a quietude do lugar eram certamente reconfortantes depois da hora do rush.

Timmothy viu alguns rostos conhecidos e outros completamente novos. Havia homens de negócios teclando furiosamente em seus notebooks, revisando contratos ou gritando com alguém no telefone. Em outros cantos, espalhavam-se rostos de estudantes saindo de mais uma noite de estudos na biblioteca. Alec, um dos tantos músicos talentosos que tocavam pelas estações, dedilhava uma doce melodia em seu violão. Cindy, a mais nova atriz da companhia de teatro do outro lado da rua, acenou timidamente em sua direção. A garota tivera um senhor primeiro dia na cidade grande ao perder sua bolsa na estação de trem. Ainda se lembrava do furacão de faces molhadas de lágrimas e máscara preta que Cindy fora quando finalmente encontrou seus pertences.

[ROMANCE] Achados & PerdidosWhere stories live. Discover now