3 - [café]

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- O que houve com seu rosto, garoto? - Susan pergunta a Tim assim que ele passa pela porta do departamento.

O garoto abaixa a cabeça. Os cadarços velhos dos sapatos pareciam mais interessantes do que um segundo atrás.

- Não foi nada demais.

A colega de trabalho cruzou os braços. Pelo olhar que lançou a ele, Timmothy sabia que ela não iria deixar esse assunto para trás.

- Imagino que esse nada demais tenha um nome e um endereço.

- Minha irmã me atacou com uma frigideira, pensando que eu era um ladrão invadindo a casa.

Susan franziu o cenho.

- E o que você estava fazendo na casa dos seus pais? Pensei que eles moravam do outro lado da cidade.

Timmothy levou uma das mão a nuca. Podia sentir o calor corando a ponta das suas orelhas.

- Queria pegar alguns cadernos de anotações antigos e um livro da Ophelie emprestado.

Ah, céus. Ele quase conseguia sentir o peso do olhar inquisidor de Susan em suas costas. Guardou seus pertences o mais lentamente possível. Era uma tentativa falha de se preparar para bombardeio de perguntas que viria a seguir.

- Ophelie tem a mesma idade que a minha filha - a colega afirmou, os olhos semicerrados em suspeita - O que diabos te interessaria em literatura para garotas de 13 anos?

Tim fez uma careta, mas parou logo em seguida. O nariz ainda sensível por causa da pancada com a frigideira.

- Eu estava entediado, ok? Eu já estava lá, então pensei que não seria uma má ideia pegar algo para me distrair.

A mulher balançou a cabeça, em compreensão fingida. Um sorriso zombeteiro decorava seus lábios.

- Claro, claro. Qual livro você pegou mesmo?

- Divergente - ele resmungou - A trilogia inteira.

Susan riu, ao mesmo tempo em que as bochechas de Tim o tornavam oficialmente um primo distante dos tomates. Não havia nada de errado em ler os mesmos livros que uma garota de 13 anos, mas ainda era um pouco constrangedor admitir isso a Susan.

Ele simplesmente não conseguira conter o impulso, as palavras da carta fazendo da sua mente um emaranhado de emoções. Desde que lera a carta, queria saber mais. Sobre o remetente desconhecido, assinalado apenas como xxsa. Sobre Matt. Sobre o que diabos aconteceu entre os dois. Pesquisara todas os livros e os filmes mencionados. Passara a noite inteira lendo Divergente. Céus. Até pesquisara sobre a função das lágrimas.

No entanto, não havia como responder aos suas perguntas. Tudo o que tinha a carta roubada do departamento. Um pedaço dos sentimentos de um desconhecido perdido. De propósito.

A voz de Susan o tirou dos devaneios.

- Eu lembro desses livros. Minha Hanna chorou uma tarde inteira depois que terminou o último livro. Ela só ficava repetindo "Por que a Tris tinha que morrer?" e "O que vai acontecer com o Quatro?". Não entendi nada do que ela estava falando.

Timmothy sorriu. Havia algo de fascinante na forma como os olhos azuis de Susan cintilavam quando mencionava a filha.

A rotina da "hora de abrir" caiu sobre eles depois de algum tempo. Eles entraram em piloto automático. O movimento de limpar a bancada, verificar o inventário e atender as poucas pessoas que vinham buscar ou entregar pertences gravados em sua alma.

O velho relógio marcava quase 8 horas da manhã quando Susan finalmente perdeu a paciência com os bocejos constantes de Timmothy

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O velho relógio marcava quase 8 horas da manhã quando Susan finalmente perdeu a paciência com os bocejos constantes de Timmothy.

- Vá comprar um café, garoto - a colega o encarou por cima dos óculos. -Se eu tiver que ouvir mais um bocejo seu, vou acabar te matando.

Timmothy levou as mãos ao ar, em rendimento.

- Vai querer um latte com bastante creme, certo?

- Descafeinado.

- Seu desejo é uma ordem, madame. - ele disse, fazendo uma reverência exagerada no caminho para do departamento.

O cheiro de café invadiu o sistema de Timmothy assim que entrou na pequena cafeteria ao lado do departamento. Respirou fundo aquele aroma, ainda que brevemente. Não queria que Earl, o barista, dizia que ele parecia um viciado novamente.

- Deixe-me adivinhar - Levi, o outro barista da pequena cafeteria, disse antes que Tim pudesse fazer o pedido - Um americano e um latte descafeinado com bastante creme para viagem.

Timmothy concordou com a cabeça e entregou as notas amassadas em sua mão. Não sabia por que Levi estava tentando prever os pedidos, mas o sorriso convencido que lançou a Earl foi a pista final para a resolução do mistério. Os amigos provavelmente estavam apostando quem teria que ficar até mais tarde para fechar a loja.

- Mais uma aposta idiota? - Tim perguntou quando Levi deslizou os copos pelo balcão.

- Mais uma aposta idiota - o outro respondeu, com um sorriso tímido. - Earl tem um ensaio e eu tenho um encontro com Helena.

E nenhum deles queria lavar a louça.

Tim notou o leve brilho nos olhos de Levi com a menção da já conhecida garota da aula de escrita criativa. Ele sorriu. Havia acompanhado o desenrolar do relacionamento dos dois há vários meses, pelos relatos de Levi e alguns de Earl.

- Espero que dê tudo certo - Tim disse, envolvendo os dois nas mãos. - Até semana que vem.

Ele mal saiu do refúgio da pequena cafeteria quando Earl o alcançou.

- Levi é um cabeça de vento - o barista resmungou, passando a mão pelos cabelos cor de mel - Ele achou uma carta mais cedo. Normalmente, nós esperamos um ou dois dias antes de passar para vocês, no caso de alguém vir buscar imediatamente, mas pode ser da mesma pessoa que deixou a carta semanas atrás.

O coração de Timmothy pulou uma batida. Nas mãos de Earl, havia um envelope pardo idêntico àquele que ele discretamente colocara de volta no lugar apenas algumas horas atrás. Sem remete. Sem destinatário. Apenas Matt escrito no verso.

O garoto conseguiu balbuciar algo a Earl, pegando o envelope em suas mãos. Sentia como se estivesse em transe. A mente girando e girando em círculos. Os dedos pareciam formigar. Misturada com a culpa, a ânsia de devorar mais palavras daquele remetente desconhecido revirava seu estômago. Antes de pudesse se impedir, sentado num banco da estação, já tinha o quase familiar papel de caderno nas mãos.

[ROMANCE] Achados & PerdidosNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ