1 - [dilema]

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Era um dia particularmente entediante, quando a primeira carta apareceu. Timmothy encarava o fino pedaço de guardanapo na sua frente como se ele contivesse os segredos do Universo. Em sua mente, um impasse se desenrolava.

- Susan - ele chamou, levantando o olhar dos rabiscos - Preciso da sua ajuda.

Sua colega de trabalho desviou a atenção do inventário, o qual conferia pela segunda vez no dia. Olhos azuis acinzentados o fitaram por cima dos óculos.

- Outro dilema, garoto? O que foi dessa vez?

- Ainda estou preso na questão de Sung.

Susan continuou o encarando. Era como se ele estivesse falando em outra língua. É claro que ela não se lembrava. Deu-se um tapa na testa mentalmente.

- A princesa do Reino Azul.

Um brilho de reconhecimento passou pelos olhos da colega.

- Ah, sim. Ainda não decidiu para onde ela vai fugir depois da rebelião?

Tim assentiu, soprando uma mecha de cabelo do rosto em irritação. Os fios haviam chegado em um comprimento incômodo, atrapalhando sua visão e cutucando sua nuca. Precisava logo de um corte de cabelo.

- Sair do país seria o natural a se fazer, mas é exatamente o que os rebeldes esperam. Todas as fronteiras seriam fortemente vigiadas.

Susan apoiou o queixo sobre as mãos, acompanhando ao seu raciocínio.

- Não teriam passagens secretas no palácio? Lugares onde a família real pudesse buscar refúgio em situações como essa?

O garoto assentiu. Já havia pensado nisso, mas...

- Há espiões por todos os reinos. Eles sabem a localização da maioria desses lugares. Seria como jogar Roleta Russa com os rebeldes.

Ela batucou as unhas pintadas de vermelho na madeira. Timmothy quase conseguia ver as engrenagens rodando na mente dela. Um pequeno sorriso rompeu-se dos seus lábios. Era bom ter alguém que levasse a sério suas histórias.

- E se a garota se escondesse entre os rebeldes? Eles não devem esperar que princesa se esconda debaixo dos próprios narizes.

- É uma possibilidade - o garoto ponderou, inclinando a cabeça levemente - No entanto, seria muito difícil disfarçar os cabelos prateados, as orelhas pontudas e os maneirismos nobres.

A colega fez uma careta. Antes de pudesse fazer outra sugestão, porém, a porta de departamento de Achados e Perdidos se abriu.

Uma menina de 5 ou 6 anos entrou saltitando ao lado da mãe.

Tim e Susan trocaram olhares silenciosamente. Um arquear de sobrancelhas dela indicou que era a vez dele de lidar com as crianças.

- Bom dia - Timmothy esboçou seu melhor "sorriso de trabalho" - Em que posso ajudar?

Pequenas mãos se apoiaram no balcão. Um par de maria chiquinhas despontou também, na medida em que a menina se colocava nas pontas dos pés. Um envelope pardo deslizou pela madeira ao lado dos dedinhos.

- Minha filha encontrou essa carta em dos bancos da estação - disse a mãe da criança a Timmothy. - Eu disse para deixar para lá, mas ela insistiu que a pessoa que perdeu a carta ficaria muito triste se não a devolvêssemos.

O garoto desviou a atenção da fitinhas cor de rosa e do brilho curioso no olhar da menina. Crianças sempre o deixavam um pouco desconcertado.

Ele sorriu novamente para a mulher. Ela parecia cansada, como as olheiras em seus olhos bem indicavam. No fundo de sua mente, Tim se perguntou se a mãe tivera as mesmas bolsas escuras enquanto cuidava de uma versão mais jovem e travessa dele.

[ROMANCE] Achados & PerdidosWo Geschichten leben. Entdecke jetzt