Capítulo 8 - Não preciso de sentimentos

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— Que susto, Dani! — Dou risada baixinho.

— O que estava fazendo ai no escuro? — Ele pergunta sussurrando para não acordar o filho.

— Sabe, fizemos tanto barulho no quarto, que fiquei preocupada de David ter escutado. — Sussurro de volta.

— E o que estava mexendo na estante?

Ele se aproxima de mim com o cenho franzido, eu tento disfarçar o quanto estou desesperada, levanto a gola da camisa e me aproximo da cama da criança.

— Percebi que deixei jogado o livro que li e guardei... — Dou uma olhadinha para David, ainda dorme profundamente. Quando viro meu pescoço, Daniel está encarando a estante muito desconfiado.

Viro-me novamente esperando que tenha conseguido convencê-lo, mas sinto o calor do seu corpo colando no meu e sua mão mexendo na gola da camisa, paraliso amedrontada. 

— O que é essa mancha?

Faço uma careta, o que mais temia aconteceu. Viro-me bruscamente fingindo surpresa.

— Que mancha? — Direciono-me até o espelho do guarda-roupas e olho o pescoço — O que você fez Daniel?

— Eu?? Eu não fiz nada!

— Claro que fez! Olha isso!

David se mexe e resmunga em sua cama.

— Eu não me lembro de ter feito isso, mas desculpa. — Ele volta a sussurrar, eu nego com a cabeça indignada.

— E agora? Vou andar por ai marcada assim? — Sussurro de volta.

— Quer passar um gelo? Talvez dê tempo de fazer isso sumir.

— Não, quero ir embora! — Caminho apressada para fora do quarto. Procuro então minhas roupas, elas estão jogadas na sala e começo a me vestir. Quando olho para frente, percebo ele parado de braços cruzados me observando. Não sei decifrar seu olhar, mas foi o suficiente para me causar um frio na espinha. Espero que tenha conseguido enganá-lo.

Daniel parece não se importar que eu vá embora, pois não fez nada para impedir, isso me preocupa. Termino de me arrumar e sem dizer nada, vou embora rapidamente direto para casa.
Lá encontro André de cara feia, sentado no sofá, bebendo algo numa xícara de plástico e seu notebook no colo. Devo ser a pior pessoa do mundo para precisar aguentar tudo isso.

— Nossa, pelo jeito estava muito bom lá...

Ele ironiza sem olhar na minha cara, e sim para o computador.

— Não, estava péssimo! — Jogo minha bolsa no chão e me sento ao seu lado, no monitor tem uma tela preta com números verdes.

— Defina péssimo. — Finalmente ele olha para mim, mas com um ar severo.

— Queria fazer amizade com o filho dele, para tentar fazê-lo confiar em mim como antes, mas o menino gostou tanto de mim, que me deixou exausta. Tanto que quando fui contar história para ele dormir, dormi junto.

— Ah, agora está explicado o porquê você está chegando 2 horas da manhã... — Ironiza mais uma vez e volta a olhar o monitor, deixando-me cada vez mais irritada, mas ignoro.

— Preciso finalizar meu plano o mais rápido possível, tenho a sensação que tudo está prestes a desmoronar.

— Aham...

— Quer conversar comigo direito? Eu estou falando sério!

—Eu estou conversando.

— O que está fazendo?

A gatunaWhere stories live. Discover now