Capítulo 20 - Bônus - André

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Meus longínquos pensamentos são interrompidos com um susto, o telefone da recepção do pronto socorro toca de repente, logo meu olhar volta para a grande porta branca da UTI onde Joyce foi levada às pressas, eu preciso de notícias, preciso saber se ela irá sobreviver ou não, não consigo pensar em mais nada, eu só quero ela.

Em um estado deplorável, encosto minha cabeça na parede onde estou sentado de olhos fechados cheio de preocupação, um filme passa em minha mente: Nele estou com a mulher que mais amo nesse mundo em meus braços correndo para fora do aeroporto, sob olhares assustados das pessoas em direção ao portão mais próximo, onde está a ambulância e rapidamente eles a atendem, então reparo que meu moletom está sujo de sangue, tive que tirá-lo para vir até o hospital.

Essa cena não quer sair da minha mente, isso só pode ser um pesadelo! Mas pelo menos alguém chamou a polícia e aqueles homens foram presos.
Abro os olhos novamente. Vejo o irmão de Joyce sentado com as pernas abertas e seus cotovelos apoiados em sua perna olhando para o chão, enquanto sua mãe passa a mão em suas costas, ambos visivelmente preocupados, enquanto o pai está de pé olhando a janela. Eu estou com as coisas da Joyce e lá estava o telefone de seu irmão, então telefonei.
Logo meu olhar corre até a porta novamente, que angústia! Quando alguém irá trazer notícias de meu amor?
Um jovem médico sai pela a porta justamente quando a observava e procura pela família de minha noiva, eu me levanto aflito para escutar melhor o que ele irá falar, mas permaneço um pouco distante.
— Minha filha irá ficar boa doutor? — Pergunta a mãe desesperada.
— Talvez, não posso dar a certeza absoluta.
— Por quê? O que ela tem? — Agora é o irmão que pergunta.
— Bom, o tiro no peito não atingiu por um tris órgãos importantes e a cirurgia foi um sucesso, mas da cabeça, que foi de raspão, causou uma hemorragia muito grande e resultou em um edema cerebral, ela poderá se recuperar logo, mas também pode ficar em coma ou ir a óbito.

Óbito? Minha Joyce não vai morrer!

Neste momento, Jonatan olha para mim com um olhar matador e se aproxima rapidamente com passos violentos.

— Tudo isso é culpa sua, seu filho da puta!
O rapaz me golpeia na boca do estômago com muita agressividade, uno meus braços numa forma de tentar suportar a dor, porém, não aguento e caio sentado no chão. Ele se prepara para me golpear mais uma vez e para meu alívio, o médico o segura pelos braços pedindo para ele se acalmar, em seguida, o segurança do hospital também se aproxima rapidamente para contê-lo.
— Tudo o que eu fiz foi tentar ajudar! — digo ainda me recuperando do soco — Eu não tive culpa de nada!
— Esse safado estava indo embora com a minha irmã!
— Acalme-se meu filho! Acalme-se! — A mãe tenta apaziguar.
— Se ela morrer, eu juro que mato você também!

Ele se afasta e todos que estavam presentes não tiram os olhos de mim, certamente me acusando, então me levanto, caminho até o jardim e me sento em um banco qualquer. Para tentar me acalmar do baque, observo a paisagem verde e florida, há várias folhas secas pela calçada e sinto a brisa serena tocar meus cabelos, olho para frente e vejo algumas pessoas sentadas e caminhando com semblantes tristes como eu. Fecho os olhos e torço para que Joyce fique bem, já fiquei sem ela uma vez e só eu sei o quanto sofri longe dela, não aguentaria ficar sem ela de novo, o que vou fazer sem você, Joyce? Abaixo minha cabeça e passo os dedos entre meus cabelos bastante agoniado e então escuto um barulho de alguém se aproximar, ergo a cabeça e vejo o pai dela.

— Então você é o noivo de minha filha? — Pergunta num tom seco, eu respondo balançando a cabeça.
— Conte-me tudo o que aconteceu. — Ele exige sentando do outro lado do banco, eu solto um longo suspiro antes de responder, vai ser difícil...
Devagar conto sobre a dívida e de onde ela surgiu, também conto sobre os cobradores e da ameaça de morte, para então chegar na parte da fuga. Não tive coragem de dizer que a ideia foi minha, ele poderia querer me matar também. Acho que o Jonatan tem razão, se eu não tivesse convidado a Joyce para fugir, aquilo poderia não ter acontecido. Por outro lado, onde iríamos conseguir o dinheiro?
— Então por isso vocês estavam fugindo? Vocês não aprendem nunca? Fugir dos problemas não é a solução. De quem foi a ideia? Sua?
Levanto meu olhar timidamente para observá-lo e balanço a cabeça rapidamente.
— Por que não a levou para o sítio? Lá ela estaria segura! — Como imaginei, ele fica incrédulo.
— Só queria ajudar... — Envergonhado abaixo meu olhar novamente, só consigo dizer isso.
— Bom, não se pode chorar pelo leite derramado, o pior já aconteceu. — Aparentemente chateado, ele se levanta e me deixa sozinho novamente. Menos mal, pensei que eu seria ameaçado de morte mais uma vez, pelo jeito meu sogro é mais calmo.
A noite já está chegando e eu permaneço sentado no jardim sozinho pensando em Joyce. Acho que a família dela a essas horas já deve ter ido embora, então decido entrar e pedir permissão para vê-la.
— Ela precisa descansar para se recuperar, portanto, permitirei que a veja somente por alguns minutos. — Diz o médico a mim.
Ele me orienta até o quarto dela na UTI e eu abro a porta devagar já me preparando para o que vou encontrar, e vejo o amor da minha vida deitada na cama inconsciente, aproximo-me devagar e observo seu rosto e seu braço esquerdo ralados pelo asfalto e seu lado direito da cabeça está tampado por curativos. Pego sua mão, faria qualquer coisa para vê-la abrindo seus olhinhos e sorrindo pra mim. Meu coração está completamente partido.
— Você vai sair dessa, linda... — Digo em um sussurro, depois deposito um beijo suave em sua testa.

Como não tenho para onde ir, saio do quarto direto para a recepção e passo a noite sentado em uma dessas cadeiras de plástico, na verdade pegar no sono não foi difícil, tendo em vista o cansaço que estou. 

Com o passar dos dias continuo no hospital perambulando pelos jardins ou sentado em algum canto, sobrevivendo de lanches das máquinas utilizando as moedas do fundo da bolsa. Bem que eu poderia usar o dinheiro que sobrou das joias para me proporcionar mais conforto, mas prefiro deixá-las guardadas, vai que os caras saem da cadeia e voltem atrás dela assim que souberem que ela não morreu? O que eu posso fazer para juntar o resto da grana?

Depois de três dias, entro no quarto de Joyce mais uma vez, ela está bem melhor e ainda inconsciente. Só queria minha linda de volta... Não tenho mais ninguém nesse mundo, somente ela. Ao lado da cama tem um sofá branco e me sento confortavelmente nele e a observo. A dívida dela não sai da minha cabeça, eu deveria arrumar esse dinheiro, aqueles caras vão voltar, eu sei... 

Fecho os olhos elaborando um plano e acabo adormecendo.

De repente, alguém me acorda com agressividade segurando a gola da minha camisa: 

— Você anda passando a noite aqui? Seu filho da puta! 

É o idiota do Jonatan, e pelo jeito veio sozinho. 

— Não pense que se você dar um de bonzinho eu irei gostar de você! — Ele me joga no sofá com brutalidade. — Caia fora daqui, deixe minha irmã em paz, quando ela acordar, irei levá-la embora e você nunca mais irá vê-la!

Ele se afasta de mim para se achegar na cama de Joyce, eu arrumo minha camisa sem dizer nada. Você é que pensa, otário... A sua irmã virá correndo atrás de mim porque eu sei que ela me ama, e principalmente, depois que souber que tenho o dinheiro que ela precisa, pois tenho um plano.

 A sua irmã virá correndo atrás de mim porque eu sei que ela me ama, e principalmente, depois que souber que tenho o dinheiro que ela precisa, pois tenho um plano

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A gatunaWhere stories live. Discover now