Capítulo 10 - Curtindo a vida com estilo

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Chegamos numa extensa estrada, quase saindo do estado que moramos, ou melhor, morávamos. Cansei de dirigir então pedi para André revesar comigo. Encosto minha cabeça no banco, fecho os olhos tentando relaxar, afinal, já estamos bem longe e ricos.

Então me lembro de Daniel. Qual será a sua reação? Aposto que irá me acusar quando perceber que eu sumi de repente. Irá surtar e me xingar quando ver o cofre vazio... Estou com uma cara mega preocupada... Duvido que ele me encontre.

Também me lembro de David. O que será que tanto conversaram enquanto eu enchia a bolsa? Não me aguento e pergunto de repente.

- O que tanto conversou com David?

- Falei sobre minha mãe e a época que ela era viva. Eu disse que a mãe dele é como a minha: continua viva no coração.

- Ah, isso é fofo!

- Afinal de contas, acabei dando uma de psicólogo mesmo... Aí quando acabou o assunto, comecei a falar sobre computadores.

- Você não perde tempo mesmo. - Acrescento rindo.

- Acho que a Dona Ivone fez um download de seu filho e "internet" foi a primeira palavra.

- Nossa, dessa vez você exagerou...

Nós dois rimos.

Acho tão bonito quando André fala de sua mãe, parece que ele fica mais leve. Pena que o pai a abandonou quando soube da gravidez, mesmo assim a guerreira fez de tudo por André.
O falecimento dela o fez se isolar do mundo e ficar ainda mais grudado na tecnologia. Ele nunca teve muitos amigos e nessa época nós dois já nos conhecíamos. Passei a ser sua única amiga, aquela que escuta tudo. Ele me ajudava com a matemática financeira na universidade e eu retribui com minha amizade.

Bom, talvez com outras coisinhas também, mas isso não vem ao caso agora.

Já eu, que vergonha, tenho uma família enorme e abandonei todos na cidadezinha tosca que vivem, nunca me conformei com aquela vida de merda que vivem, por isso estou aqui, rica. Nunca mais vou voltar, pois passe o tempo que passar sei que com certeza ainda continuarão com suas vidas medíocres.

- O que está pensando?

Ele me interrompe sem deixar de olhar para a estrada.

- Nada de importante. - Eu retribuo seu sorriso.

- Qual você acha será a reação de seus pais quando souberem o que você fez e o que está fazendo agora?

- Não me importo com isso, você sabe. Para inicio de conversa, eles sequer aceitaram minha decisão de ir embora, queriam que eu continuasse morando naquela casa que mal tinha o que comer. Meu irmão foi o único que me apoiou e me ajudou.

- Se você não se importa, linda, por que eu irei me importar?

- Sim... - Concordei olhando para o nada pensativa.

Minha mãe dizia que eu nunca iria conseguir sobreviver sozinha numa cidade grande, já meu pai, sempre preferiu meu irmão Jonatam. Talvez deveria voltar um dia somente para esfregar na cara deles.

- Quer se hospedar neste hotel? Já estamos por horas na estrada e preciso descansar e comer alguma coisa urgente.

Olho para a esquerda, percebo que meus pensamentos me fizeram não reparar em um hotel de beira estrada horrível, caindo aos pedaços. É melhor eu concordar, precisamos ser discretos.

 É melhor eu concordar, precisamos ser discretos

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