vinte e dois

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Três meses atrás.

Senti meu corpo indo pra frente e pra trás, como se estivesse jogado no mar, senti uma superfície dura e alguém segurando um pano contra minha testa, meu corpo estava mole, eu só consegui abrir os olhos por segundos, pois a claridade afetou minha visão. Tente levantar mas estava fraca, então senti uma mão me segurar.

- Melinda, calma...- era a voz de Juliene, então abri meus olhos lembrando dos acontecimentos - Você está perdendo sangue, está com febre fique deitada, quando chegarmos em Atlantic City vamos te levar para um hospital.

E então eu dormi, acordei brevemente quando senti meu corpo sendo carregado, eu não conseguia ver ou ouvir pra onde estávamos indo então desmaiei. Acordei sentindo um cheiro forte de álcool, senti que estava em uma cama, não muito confortável. Abri meus olhos e vi que Juliene estava segurando minha mão e rezando, chorando baixinho.

- Onde e...- tentei falar mas minha garganta estava seca, então seu olhar assustado veio até mim.

- Você acordou, graças a Deus.-suas lágrimas se intensificaram e ela colocou a mão na boca surpresa.- Eu rezei tanto.

- O que aconteceu?- consegui perguntar

- Você dormiu por dois dias, quando chegamos tivemos que fazer tudo sozinhos, retiramos a bala e te costuramos.- senti a pontada no meu braço, lembrando do tiro que Grace me deu, que ela descanse em paz. - Esperamos mas você não acordou e só estava com febre, então eu comecei a rezar, pra você permanecer viva.- ela me abraçou chorando e eu retribui.

- Onde estamos?- pergunto olhando o quarto em volta, parecia uma casa antiga, de madeira o frio da noite era tanto que estava gelada mesmo com duas cobertas em cima de mim.

- Estamos na América, vamos ficar escondidos aqui.- ela diz e Adam entra no quarto segurando uma bandeja com comida, ela pega das mãos dele e coloca no meu colo e me ajuda a sentar para comer. - Aqui coma, você está dois dias sem nada no estômago - ela pega a colher e me dá na boca uma sopa de legumes, Adam me encarava triste e assustado também, talvez por no plano dele não estar incluso mais uma pessoa.

- Eu queria...- ele começa a falar sem graça - Pedir perdão pelas minhas palavras a você antes, eu não tinha ideia pelo que você estava passando.- assinto mastigando a comida. - Sofie nos contou tudo, mas precisamos saber do seu lado.

- Agora não é hora Adam, ela está debilitada.- Juliene diz terminando de me dar sopa.

- Tudo bem, vocês tem que saber do meu lado.- eu digo e eles me escutam, conto cada detalhe do meu plano com Thomas para derrubar meu pai.

- Então o casamento foi falso?- Juliene pergunta e eu assinto

- Você sabe que tem a probabilidade de Thomas saber sobre a sua herança desde muito antes e ter usado isso de casamento só pra se aproximar de você não?- Adam pergunta e sinto minha cabeça gritar, ele não faria isso, eu acreditei que Thomas queria mesmo me ajudar.

- Antes do nosso navio sair da Inglaterra, recebemos a informação de que os Peaky Blinders mataram o Billy Kimber.- Juliene me diz, eu não consigo dizer nenhuma palavra, mas sinto meus olhos marejados.

- O que querem que eu diga?- sinto minhas lágrimas descerem, mas eu não sei se era de dor pelo meu braço, eu não sei se era felicidade pela morte de alguém que me queria morte, ou meu coração quebrado por Thomas. - A morte dele não é nada comparado a um mês de tortura que eu passei, a vida toda eu achei que ele me protegia, e ele mesmo me colocava naquelas situações ruins...

- Melinda, antes de te deixarmos sozinha para descansar, é bom que pense no que tem nas mãos agora, você tem a herança Morelli, e tem o legado de Billy Kimber...- Adam diz meticuloso com as palavras

- Eu não quero nada que venha daquele homem.- rosto com raiva

- O que estou dizendo é que você pode ser dona da gangue, os homens são movidos pelo dinheiro, e você pode pegar pra si tudo o que era dele, você não vê o poder que tem em mãos?

- E onde esse poder me levará? Ao mesmo lugar que ele!- sinto a fúria dominar meu corpo - Eu não preciso do sobrenome dele, não preciso disto, eu não quero o legado dele.

- Vamos deixar ela descansar.- Juliene diz e o puxa - Qualquer coisa estamos aqui, é só chamar. - eles saem do quarto e então meu choro entalado na garganta sai todo.

Senti minha cabeça latejar, era tanta coisa pra pensar, tanto pra três dias, eu não conseguia tirar da cabeça que Thomas pode ter me usado, me colocado ao seu lado de propósito, e quando eu estivesse caidinha de paixão ele diria sobre a herança, eu senti ódio naquele momento e com certeza queria que ele pagasse por me fazer de boba, não só ele, eu queria caçar todos que um dia me fizeram mal. Eu não queria o legado do Kimber, mas como Adam disse este sobrenome me daria poder, eu precisava pensar bem nos meus próximos passos, seria difícil me tornar chefe de uma gangue pois as mulheres não são muito levadas a sério, mas isso também poderia ajudar Adam e Juliene, eu poderia proteger eles, e acho que foi nisso que Adam pensou quando me deu a ideia, a possibilidade de dar segurança para que os dois pudessem viver em segurança, se protegendo.



- Você só pode ter ficado maluca.- Juliene diz nervosa, depois de ouvir todo meu plano.

- Espera, você quer mesmo fazer isso?- Adam pergunta com um pingo de esperança no olhar.

- Vamos fazer isso, já me decidi.- demorou duas semanas para que eu pensasse direito e realmente eu não podia estar me escondendo, eu não tinha motivo nenhum para me envergonhar - Você será meu braço direito, e juntos vamos esconder Juliene, para que os italianos não a achem.

- Isso é genial.- Adam diz animado.

- Não, não é... Melinda, você vai colocar sua vida em perigo, não só com a minha família mas com todas as gangues de Londres, isso é muito mais do que você imagina.- Juliene diz nervosa - Fora que nosso país é totalmente machista, eles não aceitarão.

- É aí que Adam entra, ele estará a frente das negociações e do recrutamento de início, e depois eu me revelarei, vai ser um caminho longo então vamos começar por etapas.- Adam assente ansioso e eu recebo o olhar de reprovação da minha amiga. - Vamos voltar a Inglaterra, vou reinvindicar minha herança.


Falling - Thomas ShelbyWhere stories live. Discover now