12 - Frio da alma

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***

Maria percebeu a tensão de Esteban enquanto os dois se vestiam para receber à Juliana. Ele era bastante reservado quanto à sua família. Não falava deles e eles não haviam ido à sua casa nenhuma vez após o casamento. Parte dessas reservas se devia às circunstâncias atípicas daquele matrimônio. Por mais que estivessem em um momento de proximidade no instante em que foram surpreendidos pela visita de Juliana, normalmente, se comportavam como adversários em uma constante disputa. Especialmente no que se referia às defesas de Maria e a todas às mágoas que só mesmo um intenso amor poderiam curar.

_ O que será que sua irmã quer, a essa hora? – Maria se mostrou preocupada.

_ Não se preocupe. Eu vou pedir a ela que não volte a incomodar em sua casa. – Esteban recordou sua situação naquela casa.

_ Não há nenhum problema que sua família frequente essa casa. É tua também. – Maria sentiu-se atingida.

_ Não, Maria. É tua casa. – disse Esteban de cabeça baixa enquanto colocava os sapatos. – Foi adquirida com seu dinheiro, não? O dinheiro que você herdou do seu avô.

_ Mas você vive aqui. E sua família sempre será bem recebida. – ponderou Maria.

_ Não acho que minha mãe e minha irmã se sentirão à vontade aqui. – justificou-se Esteban. – Elas não estão acostumadas com todo esse luxo.

_ Além disso, seguramente sua irmã veio te dizer algo importante, ainda mais com você colocando as coisas assim. – baixou os olhos triste por sentir-se cair da nuvem de união que sentia com Esteban momentos antes.

_ Você tem razão. Disse Esteban aproximando-se e notando a tristeza dela em seus olhos tristes. Perdoa-me, querida, eu só estou nervoso por essa surpresa. – disse acariciando levemente o queixo dela. – Na verdade... Eu não queria que tivéssemos sido interrompidos. – sorriu pícaro beijando de leve o canto da boca dela.

Maria retribuiu ao beijo sorrindo. Não respondeu nada, sentiu-se tímida com as palavras dele. Custava lhe crer que havia se comportado daquela maneira, é que ele lhe despertava tanto desejo, tantos sentimentos que não podia resistir ao impulso de entregar-se a ele. Não depois de ele ter se declarado de maneira tão bonita mesmo após ela havê-lo humilhado. Suas palavras naquele poema permaneceriam sempre em seu coração. Estaria Esteban conseguindo vencer a barreira construída por tantas perdas e mágoas?

_ Eu vou ver o que minha irmã quer. Não se mova daqui! – Disse ele sorrindo dando-lhe mais um beijo terno.

_ Nada disso! – contestou Maria – Eu te acompanho.

_ Como queira minha senhora... Não! Como queira, meu amor!

Maria tomou-lhe o braço e seguiram como um verdadeiro casal até a sala para receber Juliana.

***

A jovem estava claramente aflita, notava-se que tinha chorado e a impaciência pela espera a deixou mais nervosa. Ao ver Esteban ela correu até ele chorando. Não conseguiu dizer nada de início.

_ Juliana, acalme-se, o que aconteceu minha princesa? – preocupou-se Esteban ao ver o estado da irmã.

_ Venha, Juliana. Sente-se aqui, você precisa se acalmar. – observou Maria. – Dona Úrsula, peça para alguma das criadas preparar um chá para minha cunhada. – dirigiu-se à viúva que acompanhava a jovem até a chegada do casal.

_ Não se preocupe, Maria. Eu já fiz isso. – disse a viúva.

_ Não precisa! – Juliana finalmente reagiu – Eu estou com pressa. Precisava falar com você ainda hoje, Esteban.

Em Busca de Teu PerdãoWhere stories live. Discover now