14 - Verdade Ofuscada

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Esteban entrou em casa apreensivo. Não sabia o que fazer, como se comportar, como se dirigiria à Maria. E essa impressão se intensificou mais quando viu que ela não estava na sala e nem no jardim. Apenas uma vez se havia atrevido a bater à porta do seu quarto. Ela, seguramente, havia feito isso com intenção de evitá-lo. E agora? O que fazer? Depois de ouvir de dona Úrsula que ela havia se recolhido por estar indisposta se sentiu ainda mais inquieto e ansioso por estar com ela. Não podia deixar que um simples desentendido destruísse todos os avanços que ele havia construído com tanto esforço. No seu íntimo sentia que Maria estava cedendo e o próprio fato de ela haver ido procura-lo no seu trabalho era um sinal.

Aproximou-se da porta de seu quarto e, algumas vezes, fez menção de bater. Andava de um lado para o outro na câmara nupcial sem decidir o que fazer. Algumas vezes colocou o ouvido na porta tentando ouvir algum ruído de lá. Esse impasse durou um longo tempo, Esteban estava tomado pela impaciência. Aproximou-se e fez algo que sempre havia ansiado, mas, até aquele momento jamais havia tido coragem. Abaixou-se e observou pela fresta da fechadura. De lá viu Maria deitada em um sofá que decorava seu quarto iluminada por um feixe de luz que entrava pela janela. Estava magnificamente linda, a verdadeira diva que ela era para ele, a personificação da perfeição.

A imagem não era clara, mas, parecia que Maria estava chorando. Porque não tomava coragem e entrava para falar com ela, por quê? Do outro lado Maria teve uma sensação estranha. Sensação de estar sendo observada. Levantou-se assustando a Esteban que, se afastou. Não saiu do quarto para jantar. Dona Úrsula desejou a Esteban que Maria melhorasse de seu mal estar. "Como se eu fosse ter contato com ela", murmurou para si.

Pouco dormiram naquela noite, os dois. Passaram toda a noite pensando neles e em o que havia sido e estava sendo aquela história que cada dia se mostrava mais complicada. Pela manhã, Esteban saiu cedo do quarto e ficou esperando Maria na sala. Precisava falar com ela antes que ela encontrasse uma maneira de escapar para aquele destino misterioso que o estava enlouquecendo. Maria demorou a aparecer. Eram quase 9 da manhã quando ela saiu de seu quarto já arrumada para sair de casa. Quando viu Esteban na sala o olhou com desprezo.

_ Não sabia que você estava em casa.

_ Estava lhe esperando, minha senhora. Quero falar contigo. Como não esteve ontem no jantar...

_ Eu estava indisposta. – limitou-se a dizer Maria. Queria evitar a conversa e, ao mesmo tempo queria enfrentá-lo, sentia-se confusa.

_ Sim, foi o que eu soube. Mas soube também que você esteve na repartição e não chegou a falar comigo. – Disse Esteban com uma pontinha de satisfação na voz apesar da gravidade da situação.

_ É que de repente, fui tomada pela pressa e quis voltar logo para casa. E, além disso, não era nada importante. – Desdenhou Maria procurando ferir a Esteban.

Ela falou sem, em nenhum momento, perder o ar de superioridade. Jamais daria à Esteban o gosto de perceber seus ciúmes, não voltaria a se humilhar frente à ele, estava decidida. Perigosamente decidida.

_ Não será que você ficou assim porque viu que Ana Rosa estava lá? – Esteban a inquiriu sem discrição de ir direto ao ponto.

_ A mim pouco importa a falta de dignidade de Ana Rosa. Apenas me alegra saber que não sou como ela. – disse levantando o queixo, sustentando a cabeça para o alto como que afirmando sua condição.

_ A mim também. – Disse Esteban galante.

_ Não me venha com galanteios que não estamos para isso, Esteban! Eu não confio em você, não vou voltar a confiar, nossa história não tem solução! – Maria reclamou decidida.

Em Busca de Teu PerdãoWhere stories live. Discover now