Você é o melhor de nós dois

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      Clarke acredita que momentos difíceis exigem decisões difíceis. Ela mesma já teve que tomar várias delas sem hesitar. Mas com o passar dos anos no Shallow Valley essas coisas acabaram perdendo o sentido.

     Viver como uma mulher a qual a única preocupação era fazer de sua filha uma criança feliz, sem guerras ou vilões a serem impedidos, sem lutas pela sobrevivência de seu povo, fez dela alguém melhor...pelo menos é isso que ela diz a si mesmo todos os dias após acordar.

     Apesar de sua dor recente, ela fazia questão de não deixar transparecer o quanto isso ainda lhe doía. Bellamy por outro lado parecia notar isso e tentava compensar de todas as formas possíveis. Era engraçado ver ele pedindo para lavar a louça nos dias que essa responsabilidade era de Clarke, ou trazendo para ela arranjos de flores. Lhe fazendo elogios como "seu cozido melhorou muito, meu bem." mesmo estando tão horrível como sempre. Madi ria e tentava entender o porquê dele estar tentando agradá-la a todo custo.

     Hoje é um dia ensolarado de verão e eles decidiram ir para a casa da árvore, o lugar preferido de Madi. Não ficava muito longe de sua casa habitual, só um pouco a leste. Era uma espécie de espaço sagrado para toda a família, onde eles iam sempre que estavam de "férias" para colher e dar nome a novas frutas e flores, para fazer jogos de resistência e adivinhação. No fundo era apenas uma maneira diferente de ensinar a Madi sobre defesa pessoal, artes, histórias que vinham antes das deles e também para divertir-lá um pouco.

— Acho que poderíamos começar com a corrida hoje, o que vocês acham? — Clarke diz animada. Ela havia inventado essa modalidade, era basicamente uma corrida com obstáculos e caminhos alternativos, Bellamy dizia que eles estavam tão acostumados a fugir de algo ou alguém que Clarke queria que Madi fosse a melhor nisso. E bem, era verdade. Se um dia o mundo voltar a ser o que era antes, Madi seria a melhor sobrevivente de todas, pois estava aprendendo desde sempre a se virar da melhor maneira possível.

— Não vejo porque não. — Bellamy fala pondo as mochilas no elevador improvisado que ele montou, onde só cabiam Madi de as bolsas, ele e Clarke subiam pela escada.

     O dia prometia ser maravilhoso, Clarke não estava disposta a facilitar para a filha e isso só fazia tudo ser mais interessante. Quando toda a brincadeira estava prestes a começar Bellamy subiu para o alto da casa da árvore ficando na torre de vigia. Assim poderia ver todo o trajeto - ou quase isso - e assim avaliar o desempenho da filha.

— Estou em posição. Câmbio. — diz através do rádio.

— É só dar o sinal, meu bem.

— "Meu bem"? Ok, você deve estar mesmo com sangue nos olhos. — Sorri.

— Eu não tenho medo. — Dessa vez foi Madi quem falou.

— Tenham cuidado meus amores e lembrem-se: Eu vejo tudo! — Disse, logo em seguida soou o sino dando o sinal para que elas começassem a corrida de obstáculos.

Bellamy as observava com o binóculo atentamente, mas outra coisa logo chamou sua atenção.

— Tem alguém aí? Câmbio. — Aquela voz que saía do rádio. Era quase impossível. — Aqui é Raven Reyes e eu estou entrando em órbita. — Bellamy voou até o rádio como se tudo dependesse disso.

— Raven? —

— Bellamy? —

     Ele sorriu, mas logo em seguida o rádio começou a chiar. Bellamy pegou o binóculo e começou a procurar a nave, tudo o que ele queria era ver aquela coisa cortando o céu, ver seus amigos voltando pra casa.

— Raven, eu posso ver você. — Antes que a felicidade o consumisse por completo ele viu uma enorme explosão. — Raven? Puta que pariu!

— Bellamy? — Dessa vez era a voz de Clarke no rádio. — Você ouviu essa explosão?

— Eu ouvi muito mais do que isso. Acho melhor vocês voltarem pra casa. —

— Ok. Madi e eu estamos voltando.

      Clarke mal havia chegado e Bellamy despejou sobre ela que a explosão que ouviu foram seus amigos que haviam tentado pousar em solo. Era algo que nenhum dos dois pensava que aconteceria tão cedo, a terra ainda não era segura, mas agora tudo o que podiam fazer era pegar o rover, os quites improvisados que Clarke usava para curar, alimentos e água e então ir na direção daquela explosão na esperança de encontrá-los respirando.

— Será que eles vão gostar de mim? — A voz inocente de Madi corta o silêncio que estava no rover. Sua única preocupação era o que eles pensariam dela, como se ela nunca tivesse cogitado que ao chegar lá poderia não ter restado nada. Bellamy e Clarke se encararam e sabiam exatamente o que se passava pela cabeça um do outro, a pergunta que passou a atormentá-los naquele momento: "Será que deveríamos ter trazido ela?" Mas já era tarde para isso.

— Eles vão amar você. — Diz Clarke tentando sorrir.

— Como tem tanta certeza?

— Porque apesar de tudo eles se importam com a gente e você é o melhor de nós dois. — Madi parecia satisfeita com aquela resposta, e pelo sorriso Bellamy também.

      A nave não havia pousado no Shallow Valley, mas sim no deserto. Não que estivesse longe, mas isso poderia ser uma coisa boa. Assim nenhuma parte daquele lugar seria danificada.

     Ao verem a fumaça Bellamy parou o Rover, olhou para Clarke e em seguida para Madi. Ele não queria que elas vissem nada de ruim, então desceu primeiro e seguiu sozinho até a nave, sumindo em meio a fumaça.

— Devemos ir atrás dele? —

— Ainda não, querida. Ele virá até nós. — E no meio de toda aquela fumaça elas puderam ver Bellamy carregando uma pessoa nos braços enquanto algumas outras vinham atrás dele. Nesse momento Clarke não hesitou em sair e correr até eles.

— Traga meu quite de primeiros socorros. — Grita e Madi logo obedece.

     Era incrível ver todos aqueles rostos familiares, mas havia alguém ferido e não havia tempo para apresentações.

— Caramba, vocês não morrem nunca. Depois eu que sou a barata. — Murphy fala meio grogue enquanto Clarke fazia pressão em seu ferimento, seu sangue estava diferente o que a deixou intrigada, mas faria perguntas mais tarde. Todos riem aliviados por ele está consciente.

— Também estamos felizes em ver você, Murphy. — Bellamy fala e em seguida olha para os demais. — Todos vocês. 

In Another Life - The 100 [REVISÃO]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora