Noite estrelada

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  A noite estava chegando e após aquele momento no rio, Bellamy e Clarke vão em busca de um lugar para dormir. Eles acabam encontrando o que um dia já foi a vila dos louwoda kilron kru.

— Esse cheiro. — Clarke fica enjoada ao ver tal cena. Corpos espalhados por todo canto da vila, trazendo um ar mórbido para aquele simples e delicado lugar. Bellamy a encara e mesmo sem falar nada, ambos começam a juntar os corpos fora das casas e um pouco distante da floresta. Os terrestres queimavam seus mortos e eles honram aqueles que morreram com a radiação e assim uma grande fogueira se forma iluminando a noite escura e aquecendo-os do frio iminente.

— Yu gonplei ste odon. — dizem e continuam a olhar os corpos queimarem. Bellamy se aproxima de Clarke e passa seu braço esquerdo em volta dela para lembra-la de que apesar de todo o sofrimento que acabaram de ver ela não estava sozinha e que juntos superariam aquilo.

— Tá tudo bem, eu sei. — ela fala e o abraça de volta.

Aquela não havia sido sua pior noite, mesmo com toda aquela desgraça que viram eles estão convictos de que tudo ficará bem ao amanhecer. Os dois até tentam dormir em uma daquelas confortáveis casas, mas o cheiro e a lembrança ainda eram fortes demais, então resolveram sair e dormir mais uma vez sob as estrelas.

— Sabe de uma coisa? — Bellamy começa ao sentar em frente a fogueira que acabaram de fazer. Diferente da outra de mais cedo, era menor e não tinha função de queimar corpos, apenas aquecer dois jovens cansados. Clarke o olha pensativa enquanto se une a ele. — Não quero que a gente esqueça de tudo aquilo que enfrentamos.

— Eu daria tudo pra esquecer cada momento de dor. — Bellamy vira seu rosto na tentativa de encara os olhos azuis de Clarke. Ele sentiu toda a angústia que sua voz transparece e admira cada detalhe do rosto dela realçado pela luz das chamas enquanto esperava que ela retribuísse o olhar e quando ela assim o fez ele continuou:

— Ainda sim, mesmo com tanta dor e sofrimento nós chegamos aqui. Olha a nossa volta, é vida, Clarke. Tudo aqui é vivo. Quero dar valor a cada centímetro desse lugar, mesmo que pra isso eu tenha que deixar acesa as memórias de dor que passamos no deserto.

Clarke pareceu surpresa com a resposta, não sabia o que dizer. Achou bonito a forma de Bellamy pensar, mas não estava pronta para seguir tal filosofia.

Com os lençóis forrados no chão, Bellamy foi o primeiro a se deitar. Clarke ficou observando a sua volta, cada árvore, flor, folha, parou para ouvir a correnteza do rio passar e por fim encarou as estrelas no céu. Por muito tempo era a única coisa bonita que eles viam em uma imensidão de areia, cercados pela fome e pela sede. As estrelas lhe davam conforto e as faziam lembrar de sua primeira casa: A Arca. Ainda que lembranças boas tentassem lhe dominar, como quando assistia jogos antigos de futebol com seu pai, Wells e Jaha, ou quando sua mãe lhe preparava algo delicioso e em seguida lhe contava histórias para dormir, ela é puxada para a cena de seu pai sendo flutuado, Wells no chão sem vida, Jaha enlouquecido, e sua mãe soterrada em um bunker que deveria poupá-la da morte. Lembranças que mancham sua alma. Seus pensamentos são interrompidos por Bellamy, que segurou em seu braço a chamando para deitar, ainda que sem falar nada. Clarke sorri agradecida, mesmo sabendo que ele não fez na intensão de salvá-la de sua própria mente. Ela encara as estrelas mais uma vez e em seguida deita ao lado dele que logo a envolve em seus braços.

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Ao acordar Clarke procura Bellamy a seu lado e quase se desespera por não o encontrar, mas antes que isso aconteça ela o vê saindo do rio com um sorriso animador.

— Dormiu bem princesa?

— Com toda a certeza. E você?

— Acho que foi a melhor noite de sono que já tive na vida.

In Another Life - The 100 [REVISÃO]Where stories live. Discover now