58 dias desde a Praimfaya...

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      Clarke abre seus olhos calmamente mas um desespero corre por seu corpo ao perceber que Bellamy não estava ao seu lado. Ela respira fundo e se levanta. Ao sair do rover ela se depara com Bellamy cortando um tronco meio seco.

— Oi. — Diz Bellamy ao vê-la em pé do lado de fora do Rover encarando ele.

— O que está fazendo? — Ela tenta parecer o mais calma possível, mas por dentro ela não parava de se perguntar o porquê dele não estar deitado descansando. A perna de Bellamy ainda não estava totalmente recuperada.

— Depois das tempestades de areia de ontem as placas solares já eram. Você não vai poder me carregar, nem me arrastar. — Uma culpa imensa invade Clarke.

     No dia anterior ela havia surtado após uma tempestade feroz ter passado pelo rover e destruído tudo. Bellamy não havia deixado ela sair para resgatar as placas e isso fez com que ela o culpasse pelo que aconteceu e para piorar ela jogou na cara dele que sua perna estava machucada. Clarke sabia que aquela onda de areia e vidro teria deixado ela de cama por vários dias, mas na hora aquilo não tinha importância, e apesar de não ser de seu feitio culpar ninguém ela culpou Bellamy.

— Podemos esperar um pouco mais. — Bellamy volta sua atenção para o que estava fazendo, sem sequer ouvir o que Clarke acabara de dizer.

     Ele havia cortado a madeira em dois pedaços grandes e relativamente finos, mas capazes de suportar seu peso. Bellamy apoia os pedaços embaixo de seus braços, mas o incômodo é grande, ele então enrola um pano em cada extremidade daquelas muletas improvisadas e volta a se apoiar nelas. Clarke percebe a dor que Bellamy sente, mas naquele momento ele falava com o olhar e dizia: "Não diga nada, eu consigo sozinho" o que fez Clarke permanecer onde estava ficando calada. Bellamy, com dificuldade, caminha até Clarke, a dor que ele sentia era nítida mas ele não assumiria facilmente. Ela sabia que aquilo não ia adiantar, ele só estava forçando seus braços, e de qualquer forma ele andaria com dificuldade e seria muito lento. Mas ela se negava a falar tal coisa depois da noite passada.

— Não podemos ficar aqui. Iremos até o campo de placas solares e pegamos o suficiente para mover o rover. Se dermos sorte acharemos água e comida. — fala seco e então passa por Clarke que ainda está parada pensando no que fez.

     Ele estava certo, não podiam ficar ali. Haviam três dias que eles ainda não tinham bebido uma gota de água e o mais próximo de uma refeição que eles chegaram foi alguns insetos que haviam ficado presos no rover. Não estava sendo fácil e depois da discussão do dia anterior as coisas pareciam piores.

     Clarke o segue de volta para o rover, mas antes que chegassem lá puderam ouvir aquele barulho fino e traumático se aproximando... Clarke olha para trás e lá está ela, a grande onda cinza que causou toda aquela briga.

— Entra no rover. Vamos! — Eles correm e ao entrarem fecham cada brecha visível para que nada entre.

— Tem algo errado. — Clarke fala chamando a atenção de Bellamy que olhava fixamente para o que parecia um grande muro cinza escuro. — As ondas de areia não vêm uma atrás da outra, elas demoram no mínimo dois dias para aparecer de novo, e depois da onda de ontem... — Ela para ao lembrar todo o horror que sentiu. Aquela havia sido a pior onda de areia desde a praimfaya, mas essa.. essa que ela encarava ao lado de Bellamy estava prestes a superaŕ a onda da noite anterior.

— Não podemos mais contar com isso. A natureza está descontrolada. — Eles se olham e dão as mãos sem ao menos notarem, ou lembrarem que estavam brigados. No momento suas mentes estão repletas de pensamentos, mas nenhum deles inclui a briga da noite passada.

     O som que a onda fazia era de uma fúria surreal. Clarke lembra de cada detalhe do dia em que achou que morreria. Na praimfaya não havia apenas areia cortante, como naquela que passava por eles, havia também cinzas radioativas e isso a fez sufocar por longos minutos, se não fosse o corpo de Bellamy sobre o seu talvez ela tivesse morrido. Ela não sabia como, mas eles sobreviveram aquele horror, sobreviveram a toda aquela "fúria" de radiação. Clarke lembra até mesmo do cheiro de seus corpos queimando, lembra das mãos de Bellamy protegendo sua cabeça e seus olhos cheios de lágrimas. Ela lembra do desespero que sentiu, da angústia de não poder tirá-los de lá. Ela não entendia de onde havia saído toda aquela força que os fizeram suportar e sobreviver.

     A onde havia passado. Clarke e Bellamy estavam dormindo, ja era noite, aquela tempestade de areia demorou um dia inteiro. Clarke acorda ao ouvir um barulho estranhamente familiar, ela cora ao perceber que estava abraçada a Bellamy, mas sua atenção logo volta para o barulho que ouvira.

— Impossível. — sussurra ao perceber que realmente conhecia aquele barulho, que naquela altura do campeonato era música ao seus ouvidos. Ela levanta, abre a porta traseira do rover e sorri ao constatar que estava certa, estava chovendo, depois de 58 dias a chuva apareceu. Uma onda de alegria e emoção toma o corpo de Clarke e ela se volta para Bellamy. — Bellamy, acorda! Bellamy, ta chovendo! — Ela fala quase gritando em meio às lágrimas e a um sorriso fabuloso. Bellamy ergue seu corpo rapidamente ao ouvir tais palavras e olha para fora. Clarke sai do rover e abre os braços enquanto a chuva cai sobre seu corpo. Ela sorri e olha para ele. — Veja. É chuva. — Bellamy sorri e vai até ela. Parecia ser algo impossível, mas estava chovendo e os dois estavam ali, brincando e sorrindo em meio a chuva.

     Bellamy vai até o banco da frente do rover e pega uma garrafa e algo para aparar a água que caia. Ele apoia sobre o rover e enche a garrafa.

— Venha, beba. — Ele chama após ter tomado um pouco. Aquela havia sido a água mais gostosa que Clarke já tinha tomado em toda sua vida. Eles riem. — Temos água! — Ao ver aquele sorriso radiante, cheio de leveza e alegria, Clarke lembra mais uma vez da discussão que tiveram.

— Sinto muito, por tudo aquilo. — Ela começa a falar, mas antes que possa continuar Bellamy a surpreende a puxando pela cintura para unir seus corpos em um abraço. Clarke envolve suas mãos no pescoço de Bellamy. Ela só queria ficar ali, debaixo da chuva agarrada a ele, isso a trazia conforto e alegria. — Desculpa.

— Tá tudo bem. — diz encostando sua testa na de Clarke fazendo ela suspirar. Seu coração doía sempre que ela pedia desculpas, doía porque ele se culpava por tudo de ruim que ela sentia.

      Então, novamente ali, entre olhares que diziam tanto. Sem entender onde seus desejos podiam lhes levar, Clarke tinha certeza de que Bellamy mexia com ela. Seus olhos castanhos diziam tanto, ela podia ouvi-los dizer o que queriam, mas tinha medo de corresponder. Sua mente mandava ela recuar, mas seu coração dizia o contrário.

     O desejo de Bellamy é mantê-la em seus braços para sempre, é beijar seus lábios e a aconchegar enquanto dormem, é protegê-la até mesmo de si mesmo. Mas como ele poderia fazer aquilo se ela não permitisse? Como ele poderia amá-la se ela não sabia se o amava? Ele só via confusão em seus profundos olhos azuis. Então mais uma vez ele reprime seu desejo, afasta sua testa da dela e beija o alto de sua cabeça.

A chuva cai sobre eles e eles são gratos a isso. Gratos por estarem juntos. 

In Another Life - The 100 [REVISÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora