Alguém, por favor, me traga de volta

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As bochechas de Bright doíam. Ele gargalhava como se o mundo ao seu redor fosse perfeito, o que não era verdade. Não quando a própria vida não era um mar de rosas. Ele estava cansado de procurar a felicidade por todos os cantos. Talvez a tivesse encontrado. O problema era que a felicidade era um menino que fugia de si.

Ali, na arquibancada da quadra da escola, a roda de amigos reunidos conversava sobre algo que parecia ser interessante e hilário. Ainda que sorrisse, Bright não estava feliz.

— De verdade, Khaotung, um dia eu quero ser tão engraçado com piadas igual a você. — Disse, para mostrar que estava prestando atenção, antes que os amigos começassem a enchê-lo de perguntas que não saberia responder.

— Não sou tão bom quanto o Nani.

— Aliás, onde ele está? — Bright questionou, olhando em volta.

— Provavelmente beijando o Dew em algum lugar escondido e escuro.

Não era segredo para o grupo que Nani e Dew estavam namorando. Bright gostava de vê-los juntos, mas detestava como Khaotung e os outros ficavam sem jeito com o assunto. A homossexualidade ainda, era quase como um tabu.

— Espero que isso não acabe na boca dos alunos. — Frank se intrometeu, preocupado, não olhando nenhum dos meninos ali. Já havia deixado claro muitas vezes que não concordava com o namoro entre dois meninos.

— E você não tem nada a ver com isso. — Bright rebateu, pela milésima vez, quem sabe. Estava cansado de tentar fazê-los entender que amor era igual, em qualquer relação. — Você está no meio da relação deles? Eu não sabia.

— Credo, Bright! É claro que não. Eu só tenho medo que sobre para a gente. Nós andamos com eles.

— Fica caladinho que é o melhor que você faz, Frank.

Ninguém disse mais nada, e o assunto morreu. Bright pegou o fichário com raiva e saiu de perto deles, descendo os degraus da arquibancada. Como as aulas já haviam acabado, Bright resolveu ir para casa, ou qualquer outro lugar longe dos amigos. Era contraditório fazer amizade com pessoas diferentes de si, mas Bright não tinha escolha, no fim. Era melhor tê-los do que ficar sozinho e mais solitário do que já era. Tudo estava indo de mal a pior para ele, e a vontade que tinha de se deitar no ombro de alguém para chorar e desabafar só o sufocava, porque não havia ninguém para ouvi-lo. No fim, guardava tudo para si, como sempre fazia.

Na calçada, Bright ouviu a voz de Nani, de longe. Ele parou e esperou o outro se aproximar. Pelas bochechas avermelhadas, ele estava tendo um bom momento.

— Vamos jogar RPG na casa do Khaotung, você vem?

Bright negou com a cabeça, sem precisar pensar.

— Quem sabe outro dia.

Nani deu de ombros, se afastando, e Bright decidiu ir embora. Ele tirou o walkman da mochila e deu play na fita do Led Zeppelin. I'm Gonna Crawl começou a tocar, e, de repente, ele se esqueceu do mundo real. Nem mesmo pensou em Win. Às vezes, os problemas que tinha pareciam maior do que qualquer coisa.

Dentro do ônibus, no caminho para casa, Bright finalmente relaxou do dia cheio. A cabeça pesada quase o fez chorar, mas ele esperou que chegasse em casa. Respirando fundo, se acalmou. Foi então que Win apareceu em sua mente. Caramba, era assustadora a forma como queria ser amigo dele.

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Era um novo dia em alguma semana nova. Win acordou diferente naquela manhã. Às vezes, sonhava com os pais e abria os olhos com saudade. Ele contava para Love sobre os pesadelos e a irmã o confortava afirmando que eles estavam bem e curados. Win forçava um sorriso e tomava o seu café da manhã, tentando ficar tranquilo, até, pelo menos, ficar sozinho. Por sorte, Mike estava sempre por perto.

Amor ArdenteOù les histoires vivent. Découvrez maintenant