Epílogo

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Não foi surpresa nenhuma o fato de que a noite foi perfeita. Bright começou a adorar o jeito do novo Win em algum momento que ele não soube identificar. Ele estava sempre disposto a falar sobre tudo e nada ao mesmo tempo e aquilo era adorável aos seus olhos.

Apesar do namoro, a amizade ainda vivia ali. Não faltava assunto. A conversa surgia naturalmente. O encanto estava maior do que nunca. O passado foi esquecido e era o momento de olhar para o futuro.

Bright ainda estava no jornal e trabalhou mais do que o normal para que o seu setor conseguisse um aumento. O chefe não tinha lá muito senso e organizou algum tipo de concurso. O setor que mais se esforçasse no mês, ganharia um aumento. Bright escreveu até que fosse necessário que Win pedisse para ele parar, para não continuar sentindo dor na mão. Ele escrevia no papel e o lápis já estava gasto. Tontawan também se esforçou e com o tempo conheceu Win melhor. Não havia mais ciúmes da parte dele, mas ele ficava mais pegajoso com Bright quando ela estava por perto. Bright não entendia o motivo do ciúme, já que ele só se interessava por homens, ao contrário de Win, que já havia namorado com meninas na época da escola. Mas, ele não reclamava. Receber carinho de Win era sempre bom.

Eles estavam saindo do cinema depois de assistirem Uma Noite Alucinante 2, mas Bright mal conseguia tocar na comida do restaurante.

— Eu ainda estou com repulsa de todas aquelas coisas.

— É um filme de terror, o que você esperava? E melhor, teve cenas engraçadas também.

Win havia ficado animado demais com o filme. Ele adorava terror e de repente Bright se perdeu nele. Na boca vermelha, nos olhos animados e brilhantes.

— Você não acha?

Distraído, Bright foi tirado dos seus devaneios pela pergunta. Ele piscou, tentando lembrar do que falavam.

— Acho o que, Win?

Win estreitou os olhos para ele.

— Onde está com a cabeça?

— Na sua beleza, talvez?

As palavras dele demonstraram sinceridade. Win sempre seria lindo. Na época da escola, o menino magricela e retraído, na adolescência, o garoto de cropped que malhava, e agora, adulto, com jeans rasgados e blusas de banda. Sorte a dele ter conseguido um emprego em uma locadora com aquele visual rebelde.

Ainda sob o olhar perdido de Bright, Win esticou o braço sobre a mesa, alcançando a mão do namorado, descansando sobre a madeira. Sem pressa que alguém os visse, ele fez carinho na mão de Bright e deu um sorriso gentil que quase sempre aparecia, se Win não tivesse se tornado tão sério com tudo o que aconteceu no passado. Ele ainda tinha medo de perder alguém importante e de tomar escolhas erradas, mas Bright sempre o dizia que fazer escolhas erradas fazia parte da vida.

De volta para casa, eles andaram um ao lado do outro e Bright não fez questão de segurar a mão de Win, já que sabia como ele ainda era retraído sobre aquele assunto. Às vezes tinha pesadelo com a surra da noite do baile e Bright não o julgava por querer distância enquanto estavam fora do apartamento. Eles eram um do outro entre quatro paredes.

No lar que agora dividiam, Win entrou primeiro e deixou os coturnos na porta. Ele andou de meias, direto até a estante perto da janela e tocou na polaroid de Mike, colada bem ali, junto com tantas outras fotos. Todas elas havia datas e legendas. De vez em quando, a saudade que sentia de Mike fazia o coração ficar pequeno e dolorido, e Bright sempre o abraçava para que ele não se sentisse sozinho.

Logo ao lado da polaroid de Mike, estava Love, sentada no birô da sala de aula, de cabeça inclinada e sorrindo sem mostrar os dentes, meio envergonhada por Win tê-la pegado de surpresa. Win gostava de tirar fotos na máquina. Bright sabia muito bem daquilo.

Carente, de repente, Win puxou Bright pelo braço, andando por perto, e fez ele ficar consigo olhando as fotos. Não demorou muito para que Win virasse o rosto e mostrasse que precisava de um beijo. Eles se entendiam, então Bright não demorou em segurá-lo pelo rosto gelado pelo frio do lado de fora, encostando os lábios nos dele.

Lar parecia ter muitas definições. Para Bright, lar era o seu apartamento, e Win. Win com calças rasgadas e blusas de bandas da época, ou revirando os olhos quando atendia clientes chatos na locadora, ou simplesmente o abraço de Win. Lar, para Win, era muito mais do que ter um teto para morar. Era ter alguém ao lado com um ombro de apoio. Eram as polaroids coladas na estante perto da janela com neblina. Era Bright também. Mas Bright era muito mais do que um lar, ele era a pessoa que o fazia se sentir vivo todos os dias.

Em 1983, se alguém os dissessem que uma pessoa poderia salvar outra, Win agiria racionalmente e explicaria sobre pessoas profissionais dispostas a ajudar. Bright não escutaria, preso na própria mente e na própria depressão. Em 1985, se a mesma frase fosse dita, Win debocharia e Bright juntaria as sobrancelhas, confuso. Em 1987, a frase poderia ser dita novamente, e eles concordariam, dizendo como não só uma pessoa poderia salvar a outra, mas o que elas carregavam também. Bagagens carregadas de fitas gravadas, jogos preferidos do fliperama, filmes de terror favoritos, roupas nada compostas, e tantas outras coisas desconhecidas que seriam aceitas de bom grado, porque, era como Bright leu uma vez, em uma coluna em um jornal impresso, preso no seu All Star, quando ainda era uma criança:

"O amor não vê com os olhos, vê com a mente; por isso é alado, é cego e tão potente."

— William Shakespeare

Amor ArdenteWhere stories live. Discover now