Eu tenho que ser o seu tolo

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Estava sendo difícil para Bright tudo aquilo. Toda aquela situação de não ver Win todo santo dia. Era ele quem o fazia feliz, fosse como fosse. Era Win. Era Win o motivo do seu sorriso e da sua risada. Era Win quem fazia o seu peito queimar de forma prazerosa. Era Win e somente ele.

No dia do show, na primeira vez que pôs os olhos nele, não conseguiu parar de observá-lo. Cada detalhe de Win quase fez Bright chorar, e ele era só... uma pessoa normal como todas as outras. De qualquer forma, o que estava sentindo não precisava de muitas explicações. Bright gostava de Win e não sabia dizer quando aconteceu. Talvez quando se encontraram no terraço pela primeira vez. Foi ali que percebeu que Win era igual a si. Bom, mais ou menos. Win era felicidade e Bright desconhecia aquilo, mas eles eram iguais ainda assim. Não tinham o mesmo gosto para músicas, mas gostavam de um tempo sozinhos. E Bright sentia que Win sentia algo por ele, só que, havia o medo, e não conhecer Win por completo deixava Bright frustrado.

Com o fim do ano letivo chegando, Bright soube que precisava tomar uma decisão antes que ele e Win seguissem caminhos diferentes. A primeira coisa que passou pela sua cabeça quando percebeu que se formaria em pouco tempo, foi se deveria convidar Win para o baile. Era estranho ir com outro rapaz para o baile, quando só havia meninas e meninos dançando juntos, mas Bright estava tão louco para ter Win por perto, que não se importou com mais nada.

Quando Bright encontrou Win, no terraço, na penúltima semana de aula, ele recebeu a fita gravada. Não fazia ideia do que esperar, mas se viu ansioso. Tudo envolvendo Win o fazia queimar por completo por dentro. Era mais do que bom.

— Desculpa a demora. — Win se desculpou. — Eu fiquei ocupado estudando para as provas.

— Não tem problema. — Se sentou no muro quando disse, esquecendo-se da aula importante que estava matando. — Eu vou escutar assim que eu chegar em casa.

Mais tarde, Bright soube que Win gostava de Madonna e Cyndi Lauper, mas não conseguiu julgá-lo. Agora que tinha certeza do que sentia, qualquer coisa que viesse de Win faria os seus olhos brilharem.

— Eu ainda não sei o que quero estudar na faculdade. — Disse Win.

Ele puxava assunto com frequência agora, e não fugia como antigamente. Depois de alguns meses ganhando intimidade com Bright, Win soube que não conseguiria fugir dele, mas não se comportava como um louco apaixonado, ainda que por dentro sentisse como se o coração errasse algumas batidas quando estava perto dele.

— Você vai conseguir pensar em algo. No que você é bom?

— Eu não sei, Bright. Eu não pensei nisso durante esses anos na escola. Não deveria existir uma matéria para nos ajudar ou algo assim?

— Eu concordo. Seria tudo mais fácil.

— No fim, acho que vou fazer parte de uma banda junto com o Mike. — Falou, risonho. Estava brincando, mas não descartou a ideia.

— Você será... não sei, um baterista, talvez? O vocalista? Eu vou entrevistar você para o jornal.

— Encontrar você no futuro seria coincidência demais.

Bright quis falar que, na verdade, não queria encontrar Win no futuro. Ele queria chegar lá com ele. Manteve-se de boca fechada, no entanto. Estava íntimo de Win e não iria assustá-lo com assuntos sobre sentimentos agora que eram amigos.

— Win.

— Sim?

— Você quer ir ao baile da escola comigo?

— O quê?

— Por favor, não me faça repetir.

Envergonhado, Bright não fez questão de olhá-lo, ao contrário de Win, próximo ao seu lado, observando cada gesto e detalhe seu.

— Você está ciente de que somos dois rapazes, não está?

— Não me importo com isso. Quero ir com você e dançar com você.

— Eu não sei se vou ao baile.

— Eu acabei de convidá-lo.

— Eu vou pensar sobre isso.

O clima ficou tenso e Win fechou os olhos com força. Aquilo era exatamente o que não podia acontecer. Ser amigo de Bright, tudo bem, mas ir ao baile com ele, como um casal, era um absurdo. Às vezes, se odiava por dar tanta atenção para opinião alheia.

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Win acreditava que as pessoas nasciam com certas habilidades, e ele com certeza não tinha nascido com o dom de socializar. Era sábado à noite, o dia do baile, e por mais que Mike, Bright, e os amigos de Bright e os seus pares estivessem ali, Win preferia mil vezes estar dormindo do que estar entrando naquela festa. Aquele ambiente não tinha nada a ver com a sua personalidade. A música, ao menos, era agradável. Algumas agitadas, outras mais calmas.

— A decoração está bonita, não está? — Bright puxou assunto quando ficou sozinho com Win, para descontrair.

Ninguém estava animado. Talvez porque era só o começo da festa.

Win não pôde controlar o sorriso, muito menos evitar de notar o quão bonito Bright estava naquela noite, com um smoking preto e uma gravata borboleta da mesma cor. Não havia gel no cabelo, só estava natural, e ainda parecia macio como todas as outras vezes. O perfume dele entrava pelo nariz de Win e parecia grudar no cérebro, e pior, no seu smoking branco também.

— Você é sempre assim?

— Assim como? — Win perguntou, juntando as sobrancelhas, confuso.

— Quieto.

— Na maioria das vezes.

Uma música mais agitada começou e mais do que rápido os alunos começaram a se animar. Distraídos, Bright aproveitou para elogiar Win.

— Não que seja necessário dizer, mas... você está bonito.

Surpreso, Win virou o rosto na direção de Bright.

— Obrigado.

— Deveria dizer que eu estou bonito também.

— E quando é que você não está bonito, Bright?

Win o observou abrir e fechar a boca várias vezes, surpreso com a confissão.

— Quando eu estou chorando, provavelmente.

— É cansativo, não é? Fingir ser feliz o tempo todo.

— Aparentar ser fraco é ainda pior.

— Mostrar que não está bem não é um sinal de fraqueza, Bright. Você é humano e é natural que se sinta mal.

— Por que você se importa tanto com isso?

— Porque eu já vi as consequências de quando alguém guarda tudo para si. Deve existir pelo menos uma razão para você continuar seguindo em frente.

Bright entendia o que ele estava querendo dizer. Ele tinha uma razão, e ela era Win. Cansado da própria vida, dos problemas intermináveis, do inferno pessoal que passava sempre que retornava para casa, ele encontrou em Win a razão para pensar no futuro. Estava tão farto. Não queria mais acordar todas as manhãs ouvindo os gritos e discussões dos pais, não queria mais se sentir culpado por não conseguir ajudá-los, não queria mais ver a própria família decair cada vez mais sem poder mover um dedo para melhorar a situação, não queria mais se sentir insuficiente para tudo. Ele estava sempre prestes a explodir e Win sempre aparecia para controlar a situação.

Ele sorriu verdadeiramente. Não aquele gesto forçado, não sendo parte de uma atuação. Estava contente por encontrar alguém compreensivo e atencioso. Win transmitia uma sensação acolhedora e Bright temeu viciar-se ainda mais naquilo.

— É você, Win.

— Eu o quê? — Perguntou, distraído, observando o local, ao contrário de Bright, que parecia muito concentrado com os olhos presos em si.

— Você é a minha razão para seguir em frente.

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