CAPÍTULO QUATORZE.

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GATILHO:
Surto Psicótico. Síndrome do Pânico.

O primeiro suspiro em uma manhã de inverno, meu último mês havia sido consideravelmente bom graças a Sebastian, eu não estava mais sentindo tanta necessidade de pensar no meu acidente ou me sentir culpada pelo mesmo. Eu sempre fui uma garota mega intuitiva, e naquela manhã estava me sentindo mal, eu não sabia bem o que poderia ser, acordei enjoada, com algumas dores pelo meu corpo, como se alguém houvesse me batido a noite toda. Me dirijo até o quarto de minha mãe e a procuro, ela não estava, apenas o seu namorado.

- Desculpa. Pensei que minha mãe estivesse aqui.

- Ah, tudo bem querida, ela saiu para comprar algumas coisas, você precisa de algo?

- Não. Estou bem, queria falar com ela apenas, obrigada.

Me retiro de seu quarto e vou até a cozinha no andar de baixo, para pegar um copo de água. Me deparo com algumas cartas com o envio antigo, de meses e meses atrás, parecia algo que minha mãe estivesse evitando. Não entendo bem o que poderia ser e prefiro esperá-la chegar para então abrir ou questionar.

Subo novamente até meu quarto onde pego meu celular e vejo se tem alguma mensagem dela. Nada. Não havia nada. Tento me virar em uma posição confortável para aquela dor passar, mas quando é algo intuitivo, geralmente minha dor física só é aliviada depois que a merda já está feita. Encontro uma posição que faz com que minha dor amenize e tento voltar a dormir. Tenho alguns delírios durante o sono e acordo novamente no susto, depois de algumas horas.

- Mas que droga! O que está havendo comigo?

Me dirijo novamente até o quarto de minha mãe e questiono meu padrasto.

- Você não faz ideia de onde ela possa ter ido?

- Eu.. Não faço não Lea. Eu.. Não sei mesmo.. - Diz ele um tanto confuso e olhando para os lados.

- Que estranho... Mamãe nunca faz isso. - Digo mordendo os lábios em sinal de preocupação.

- Tentei ligar várias vezes mas preferi parar, ela pode me achar controlador. - Diz ele com um tom ainda confuso.

- Vou tentar ir atrás dela, vou anotar meu telefone, caso eu encontre, eu te ligo, pode ser? - Digo para ele.

- Pode sim querida, ótimo.

Coloco uma calça jeans e um moletom bem quente, aquele dia, estava absurdamente frio.

Chego até a farmácia mais próxima de casa e onde minha mãe tinha desconto nos meus medicamentos, as pessoas que trabalhavam nela sabiam quem eu era então me olharam assustados, pensando que eu poderia estar em meio a um surto.

- Bom dia, vocês sabem se minha mãe esteve aqui essa manhã?

- Bom dia Lea. Na verdade, a vimos mas faz algum tempo, ela comprou alguns medicamentos e saiu acompanhada de uma amiga. - Disse a farmacêutica.

- Ah... Ótimo, obrigada.

Me senti totalmente aliviada, mas aquele sentimento de angústia ainda continuava em mim, eu não conseguia explicar para qualquer pessoa que me perguntasse, ele invadia meu sistema nervoso como um tiro, atacava meu estômago e me deixava toda arrepiada.

Pego novamente o carro e dirijo sem muito rumo, apenas passando devagar pelas ruas em busca de alguma resposta para aquele sentimento. A última vez que senti algo parecido foi no dia da morte dos meus amigos, a do meu acidente, também conhecido como o pior dia da minha vida. Mas que merda poderia acontecer mais? Eu estava vivendo o último dia da minha vida? Qual foi? A vida já não tinha sido muito cruel pra mim? O que ela queria me dizer afinal? Onde estou errando tanto para acordar mais um dia com esse sentimento maldito invadindo meu corpo? Eu não sabia, eu realmente não tinha respostas.

Vou até o hospital mais próximo ver se poderiam me dar algum medicamento para a ansiedade ou pânico o mais rápido possível.

- Olá, como posso ajudar?

- Eu estou em meio a uma crise forte de ansiedade, vocês tem algum psiquiatra por aqui?

- Oh, sinto muito querida, se sente que eu vou informar a central psiquiátrica, só um momento. - Disse a atendente ao me olhar preocupada, mas assim como Mark, ela também olhava para os lados enquanto falava comigo.

- Obrigada. Muito obrigada. - Digo.

Me sento e espero ser atendida o mais rápido possível. Talvez realmente aquele sentimento não passasse de um delírio forte ou uma onda de adrenalina desnecessária no meu corpo.

Em questão de minutos me encontro no chão, tendo uma crise convulsiva, me desligo totalmente após ela. Quando retomo a consciência aos poucos vejo luzes fortes em meu rosto como se eu estivesse em uma sala de cirurgia ou sendo carregada por um corredor, pessoas falando alto e me olhando com olhar de apavoro, eu apenas tento lembrar de coisas boas, talvez aquilo fosse uma resposta do meu corpo de que eu estava sofrendo muito e do nada comecei a ignorar toda a dor, ou tentando enganar, EU NÃO SABIA. Não sabia o que pensar e me entreguei. Me entreguei a sentir aquilo, apenas fechei meus olhos novamente e apaguei.

Sabe aquela teoria bizarra de que nossa alma sai do corpo enquanto dormimos, eu comecei a acreditar nisso aquela manhã. Eu estava em um parque, sentada e sentindo a brisa das árvores batendo em meu rosto, em volta de mim duas crianças corriam, em círculos, iam até o escorregador e voltavam, tentavam brincar de lutinha mas eram derrotadas pelas risadas. Em questão de segundos aquelas crianças já eram pessoas adultas e brigavam, gritavam uma com a outra, parecia guerra de orgulho ou algo parecido, eu as observava, a menina chorava em desespero enquanto o garoto tentava acalmá-la. Depois, aqueles dois adultos tornaram duas pessoas velhas que não se conheciam mais, passavam ao lado sem se cumprimentar. E depois, aquela ela estava lá, ele havia partido.

Senti um toque forte em minha mão e acordei daquele coma, que havia durado o dia todo.

- Ei.. Oi.. - Era Sebastian, com seus olhos vermelhos como quem havia chorado muito.

- Oi.. - Digo fraca. - O que aconteceu?

- Você teve um episódio psicótico, meu amor.

- O que é isso?

- Bom... Você delirou e acabou se machucando ao chegar no hospital, teve uma convulsão e apagou. - Diz ele baixo, tentando parecer calmo.

- Como isso é possível? E-eu cheguei no-normal ao hospital. - Digo o olhando e gaguejando.

- Não, linda.. Quem te trouxe foi eu. - Diz Sebastian totalmente calmo tentando me acalmar também.

Eu entrei em choque, afastei minha mão da mão de Sebastian e senti meu corpo enfraquecer, o que era isso? Eu estava ficando louca? Comecei a ficar doente da cabeça? Que porra era essa?

- Não me diz isso. - Digo em meio a uma crise nervosa e contendo o choro.

- Eu sinto muito meu amor, eu sinto muito. Eu vou descobrir o que desencadeou isso, eu não vou desistir de te ajudar, eu te prometo. - Diz Sebastian apertando forte em minha mão.

- Mas, mas, minha mãe, ela tinha sumido, eu fui atrás dela, pessoas falaram comigo, Sebastian por favor não me diz que estou ficando louca. - Digo em meio a um choro de revolta e medo.

- Você não está. Você ainda é uma paciente de choque pós traumático, delírios e surtos são comuns, principalmente agora que seu corpo está se adaptando a outra rotina, precisa confiar que eu vou te ajudar. - Diz Sebastian enquanto acaricia minha mão docemente.

- Eu confi-confio em você. - Gaguejo.

- E sobre sua mãe... Ela estava no quarto o tempo todo, ao lado de Mark. Mas por favor, agora tente descansar. - Diz Sebastian se levantando e beijando minha testa enquanto eu tenho uma crise nervosa de choro e desespero.

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