• CARTA PARA MINHA DOR. •

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Se eu pudesse descrever tudo que estava sentindo, a palavra perfeita seria desistência. Eu não sabia mais o que estava acontecendo comigo, a poucos dias eu até poderia saber, mas hoje, já não sabia mais. Eu chorava a maior parte do tempo, os dias estavam carregados com uma energia bizarra que fazia meu corpo fraquejar. Obviamente eu não estava sozinha, tanto Sebastian quanto minha mãe e srta. Smith me viam todos os dias quase o dia todo, exceto quando implorava para ficar sozinha. As coisas tinham ficado frias e estranhas entre mim e Sebastian, já não conseguia olha-lo sem sentir vergonha de tudo que fiz e falei jurando para mim mesma estar sozinha mas ter ele ali do meu lado, não conseguia imaginar o que ele estava pensando de mim. Não transávamos mais, nem beijávamos sem ser selinhos antes de dormir e ao acordar, tudo, tudo, absolutamente tudo tinha mudado de uma hora para outra depois de meu surto.

Naquela tarde eu preferi ficar sozinha, no meu quarto, lendo alguma coisa, vendo alguma série, tentando fugir o máximo possível da minha realidade, mas o meu medo era... Será que de fato eu estava sozinha? Será que tudo a minha volta naquele quarto não passava de imaginação e que na verdade eu estava internada em uma clínica psiquiátrica sendo medicada bruscamente porque a cada cinco minutos eu quebrava alguma coisa contra a parede ou xingava despretensiosamente alguma enfermeira?

Tantos questionamentos que talvez se eu ainda não estivesse louca, de fato ficaria.

Ouço alguns passos no corredor, indo e voltando a cada meia hora, mas nada de baterem na minha porta, quando o silêncio se instalava, eu podia ouvir algumas pessoas conversando, mas não conseguia identificar.

Oh Emma, que falta você me faz, todos os dias meu amor, eu preciso tanto de você aqui hoje, essa dor não está me deixando prosseguir, as vezes sinto que ela vai durar para sempre, as vezes sinto que preferia ter ido junto de você, que meu lugar não é aqui, que a Lea pós acidente não existe. Peter, como eu queria dizer o tanto que eu te amava, quando você dançava, nada mais prendia minha atenção, eu não tinha dúvida de que você era o dono do meu coração, você me tinha toda para si. Nick, o que seria de mim sem você durante o ensino médio? O meu protetor, meu defensor, certa vez Nick bateu em alguns garotos por terem feito piadas sexuais sobre os meus peitos na aula de educação física. O que vai ser de mim sem vocês? A vida nem faz mais sentido, eu não sei porque estou tentando, eu estou me enganando, talvez não queira dar continuidade a toda essa dor, nada disso está facilitando as coisas, está tornando o processo mais doloroso, e como dói.

Eu estava sobrecarregada, mas senti em meu coração que deveria me dar só mais uma chance.

Coloquei minha pantufa que era tão zoada por Sebastian, todas as vezes em que eu a usava, Sebastian me dava beijos pelo rosto e pescoço soltando risadas, dizia que eu ficava parecendo uma criancinha e que aquilo me deixava o oposto que meu rosto transparecia.

- Mamãe?

Digo insegura, encostada a parede no corredor que dava até seu quarto.

- Oi meu amor, como você está?

- Eu estou mesmo falando com você, né?

Mamãe solta um risinho desconfortável e acolhedor.

- Sim minha filha, estou aqui.

- Quero conversar com você sobre Sebastian.

Mamãe se dirige até meu quarto onde nós duas ficamos sentadas na cama uma de frente a outra. Mamãe leva sua mão até meu peito e me olha com um olhar cansado, como quem não estava mais vivendo pra si a muito tempo, e sim para mim, não lembro a última vez que vi mamãe arrumada, se sentindo bem consigo mesma, saindo para dançar ou chegando bêbada como fazia antes de nos mudarmos para Seattle. Sua aparência tinha envelhecido alguns anos mesmo nenhum tendo passado, estava abatida, olheiras escuras preenchiam seu olhar, mamãe estava cansada de ser apenas mãe, eu sentia que ela tinha saudade de também ser dona de si.

85 ∂ıαs cσм ѵσcє. Where stories live. Discover now