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Quinze de abril de 1920

Belfort, França.

Olha só para você... Tão gracioso és tu, mon amour!

Suas belas chamas fervorecentes que se tornam alaranjadas a luz do sol chegam a fazer minhas folhas se arrepiarem.

O vento balança e sopra seus fios tão belos e tenros e, à medida que balança, cai em seus olhos, de tal forma que precisa parar de saciar minha sede para passar o antebraço por sua testa e, além de tirar o que empatava sua visão, limpar também uma carreira de suor.

"Deixe que moi ajudê-o, basta tocar-te e ajudar-te-ei"

— Tome — Oliver, o criador, entrega a ti um pequeno elástico de cabelo — Quando vai cortar este cabelo, huh?

"Tu es si belle..."

Je suis tão belle desta maneira... Não pretendo cortar — respondes com tua doce voz, largando o regador de lado para dedicar-se a amarrar as madeixas encaracoladas tomadas pelas ondas naturais de seus fios.

Tens braços tão fortes, mon amour, mas se tornam tão leves e carinhosos quando tocam-me que sinto como se minhas próprias pétales estivessem acariciando-me.

Cada movimento seu é notado detalhadamente por mim. Minha atenção sempre está sempre em ti, então é fácil de ler, entender o que sentes, o que queres, e até mesmo dar-me tempo de distrair-me com sua graciosidade e com sua beleza hipnotizante e completamente apaixonante.

Se moi tivesse pulmões, estaria suspirando profundamente agora, assim como você faz quando me olha por muito tempo.

Me encara por tanto tempo que às vezes fico intimidada. Chego a pensar se minhas pétales alvas como a neve podem se tornar como um rosa pêssego ou um vermelho intenso.

Sinto-me fever d'amour pour toi.

Tu estás rindo agora e aos meus olhos consigo te ler.

Você está feliz.

Está sobre minha companhia, não há como estar triste quando está tão próximo de mim como está agora.

— Mas estão tão longos teus cabelos que posso vê-los caindo sobre seus olhos boa parte do tempo — o criador respondeu ríspido sentando-se no balanço construído por si mesmo tendo uma xícara de chá em uma mão, e um livro em outra.

Homem vezes sábio, vezes estúpido.

— Mas eu gosto — deu de ombros sorridente e bobalhão, encarando as mãos pálidas que me tocam e me incendeiam como fogo.

Tu me queimas como a chama ardente do fogo.

— Flora também gosta, não é, Lora? — olhou para mim com aqueles olhos doces e aquele sorriso espontâneo e livre.

Oui! Oui!

Respondi sabendo que não ouvia minha voz mas tinha a sensação de minhas respostas na maioria das vezes, quando eram elas coisas mais simples e diretas.

Conhecia-me muito bem, mas eu te conheço mais.

Dói estar presa a essas trepadeiras de madeira quando tudo que eu queria era ter um par de braços e pernas para me mover de onde estou para te dar um abraço agora mesmo.

Estou sempre querendo abraçar-te, mon amour. Tocar-te, beijar-te...

Mas não posso, porque estou imóvel, plantado, parado, parado a admirar-te.

— Mas eu acho que Flora deveria concordar comigo que está começando a ficar muito grand — o criador nos olhou por cima de seus óculos frágeis e pequenos com sua armação em um formato circular e pequeno.

Attache juste!

— Basta prender — isso, mon amour!

Sempre interligados.

Sempre conectados.

E uma palavra não é dita.

Posso te ouvir, mas não posso falar.

Eu quero falar, quero que me ouça, mas posso apenas ouvir-te.

Falar é como espetar-se no espinho sem saber que fura.

Cutucar, cutucar, cutucar, furar, furar, furar, sangrar, sangrar, sangrar, doer, doer, doer.

Ouça-me, mon amour.

RoseOnde histórias criam vida. Descubra agora