IV

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Vinte e dois de abril de 1920

Belfort, França.

Estás sentado na mesa de thé próximo ao canteiro de flores, um pouco mais distante do meu. Suas pernas cobertas por um tecido surrado de uma calça de um tom marrom opaco cobrem sua pele esclera, sobre a mesa há um pequeno pires que acolhe uma xícara de porcelana delicada que lhe serve um délicieuse chá de pêssego.

Estás belle, como sempre foi, com seus cabelos soltos e castanhos pairando delicadamente sobre seus cílios curtos que torneiam seus olhos tão brilhantes e vivos. Posso ver detalhadamente sua pupila se movendo devagar à medida que seus olhos passam pelas palavras do livro que está lendo.

É como se meus olhos fossem uma lupa quando te vejo, consigo ver detalhes pelos quais ninguém se dá ao trabalho de perceber, nos seus detalhes mais ocultos.

Desde uma gota de suor que escorre, a um cílio que caiu e se perdeu em sua bochecha.

A forma como o vent sopra seu rosto e como o sol da manhã beija seu rosto, parece que faz você resplandecer para mim e triplicar a sua formosura diante de minha presença.

Não tenho um coração, mas posso senti-lo batendo intensamente agora.

Tu es magnifique, mon amour.

Pergunto-me quando terei oportunidade de beijar-lhe os lábios, quando poderei tocar sua face e limpar suas lágrimas, quando poderei dizer em seu ouvido o quanto que je t'aime.

Queria ter uma boca para gritar isto, gritar o meu amor por ti, gritar a razão pelo qual estou entranhado a estes pedaços de madeira e o motivo pelo qual minhas pétalas desabrocham pela manhã.

Tudo isso só para você, mon amour, tudo para escutar o tremor das ondas da sua voz, para ver suas lágrimas se misturarem a um sorriso quando vem desabafar e se sente melhor.

Je vivo pour toi.

Tu e seu père se resolveram e chegaram em um acordo, até deram um aperto de mão, mesmo que tímidos e com os corações ainda minimamente orgulhosos.

Jeongguk vois aime, Oliver, et tu es ingrat! Bâtard!

Dentre todos os amores e esforços de teu filho para cuidar de ti, tu nunca valorizaste teu carinho e sua carência de afeto, nunca tiveras coragem suficiente para dar um abraço em ton propre fils?

Nunca reconheceu, e por isso apodreceu.

Seu coração tornara-se mais frio a cada dia que se passava.

Me pergunto como não via o desespero e carência nos olhos de seu filho, implorando por um "Je vous aime" ou um simples abraço, que para tu, como dizias, seria uma perda de tempo pois vivia trancado na casinha do quintal trabalhando em novos feitiços e descobertas.

Tornou-se um grande homem que foi reconhecido e glorificado por muitos bruxos que te admiravam, mas dentro de sua própria casa, não fazia boa vontade alguma.

Quando me deste de presente para seu filho, não queria que ele tivesse uma companhia, não o desejara o bem, querias alguém que ocupasse a cabeça fértil de sua criança para que ela não precisasse perturbar enquanto trabalhava.

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RoseOnde histórias criam vida. Descubra agora