III

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Vinte de abril de 1920

Belfort, França.

Suas lágrimas jorram.

Nos ladrilhos choram.

Minha terra molha.

O sol nasce e ainda estás a chorar.

Escuto seus soluços e gemidos e recolho-os para mim, tomando sua dor e levando a ti novas energias, dando-lhe forças para lutar.

Sua cabeça permaneceu por muito tempo abaixada e seu corpo debruçado sobre a trepadeira onde me deposito.

Quando pude ver teus olhos, ó, mon amour, enxerguei neles a minha necessidade, necessidade de te fazer feliz.

Não quero que sintas dor.

Você chora.

Quero colhê-las para mim, eu aguento, eu suporto, eu consigo.

Eu choro. Eu choro por você. Permita-me cuidar-te.

Não desperdices suas lágrimas, ó, mon amour.

Eu cuidarei de você, guardarei suas lágrimas e chorarei por você.

Deposite em mim. Libere.

Me deixe renovar suas forças. Me deixe cuidar de você.

Seus olhos molhados e marejados piscam devagar e tocam o meu verde com carinho e ternura.

Seu olhar emotivo carregado de sentimentos quando toca em mim me faz sentir mais ligado a ti. Sua temperatura quente me aquece na brisa fria da nuit.

Suas pupilas se movem lentas por minha estatura, por minhas petáles, por minhas folhas, por meu solo molhado, por meus sépalos, por meus espinhos, por meu talo que se expande por toda parede para me manter firme e vivo.

Os dedos escorrem.

Os olhos dizem.

A temperatura aquece.

A presença acolhe.

O amor abraça.

E lá está seu singelo sorriso ao reparar em minhas alvas pétalas.

Je suis un homme... Sortudo — seus lábios estavam tão próximos de meus cantos que conseguia sentir minhas raízes tremerem entrafiadas no solo — Amo-te, Flora — seu sotaque francês proferindo aquilo deixou as coisas ainda mais românticas e emotivas.

Porque eu amo sua voz.

Amo seu sotaque.

Amo o jeito que enrola a língua no céu da boca para falar.

Amo você.

O meu maior prazer aquela noite foi ver-te dormir agarrado a uma de minhas pontas, como muito acontecia quando você era apenas um petit garçon e lhe acontecia um pesadelo e, temendo dormir perdido em solidão, procurava por mim em meio a madrugada e passávamos a noite inteira acordados conversando sobre bobagens até que, de repente, você dormisse sem nenhum aviso prévio. E no fim das contas o criador te levava para cama de manhã.

Esta noite você dormiu agarrado a mim, como nos velhos tempos.

Mas ao contrário do que era, você não teve pesadelos enquanto dormia, você estava começando a viver um pesadelo com seu pai, dentro de casa.

Mas eu, jamais te machucaria, mon amour.

Eu te prometo uma de minhas preciosas pétales, ou melhor, minha própria vida.

— Estamos ligados agora e sempre! — te ouvir falar é ainda melhor do que apenas te sentir. Sua voz é tão incrível quanto você pensa — Eu prometo que jamais te machucaria, mon belle Lora — ao chamar-me pelo apelido senti um sentimento agradável se expandir.

Naquela noite descansei em paz sabendo que eu tinha feito a minha parte, e que você estava dormindo em frente a mim, estável, bem e longe do criador por algumas horas.

Provavelmente se acertariam no amanhecer do sol. Você me contaria como estava sentindo-se melhor e em questão de alguns dias, ele gritava com você de novo e todo aquele mesmo carrossel continuaria girando e girando, sem parar.

Mas enquanto eu estiver vivo, respirando, cuidarei de ti, e amar-te-ei por toda minha vida, independente do que aconteça ou do que tu me faças, eu estarei aqui, mon amour, mon petit, mon Jeongguk.

RoseOnde histórias criam vida. Descubra agora