XII

111 23 12
                                    

Foi na melhor tarde da minha vida que você saiu de seus aposentos para vir ao jardim e como sempre, passar horas e horas ali, vegetando e deixando o sol da tarde aquecer sua pele,  permanecendo com o olhar vago e vazio.

O semblante indecifrável e as mãos agarrando aquela bengala.

Isabel havia feito algumas reformas no jardim e havia mudado a mesa de chá de lugar, queria deixá-la em um lugar que tivesse sombra e que você não ficasse vermelho ao voltar para casa, com a pele assada e ardida, com isso, ela arrastou aquele móvel para um lugar mais próximo de mim.

Sabe, Isabel... Me pergunto eu, se algum dia, eu fiz alguma maldade a tua pessoa. Quer dizer... Desejar a morte de uma humana é fazer mal?

Queria saber porque tanto me odeia.

Ciúmes?

Não gostava da maneira que Jeongguk falava de mim para você?

Como era mesmo a palavra que você usou em um dia?

Hm... Ah! É verdade...

Amour inspirant.

Deve estar feliz, sentindo-se realizada ao saber que conseguiu cortar meu laço com Jeongguk, que no caso, já não estava para lá dos melhores.

Te vi, há poucos metros de mim, tateando o banco e procurando por sua bengala mas graças a um movimento errado dos dedos e da mão, ela caiu e rolou... rolou... rolou...

Ele parou diante de mim.

Estava ali tão perto. Bem na minha frente.

Ali tão próximo eu podia sentir que se tivesse um coração, ele extrapolaria por bater tão rápido.

Depois de tantos anos, eu pude ter certeza que estava um pouco vivo ao sentir minhas raízes estremecerem me causando uma sensação nostálgica que há muito tempo não sentia.

Ora, finalmente... Seria agora o grande momento em que poderia, ao menos, ver-te e sentir-te próximo a mim novamente?

Ou vai ignorar-me como tem feito nos últimos anos?

Ao calcular a distância ainda um pouco afastada do objeto, tirei esforço de onde não tinha para agarrar aquele pedaço de madeira entre meus ramos e folhas e puxá-lo para ainda mais perto de mim, ansiando ser finalmente notada.

Podia ficar ainda um pouco chocada e inerte por estar movendo-me mas não havia tempo para surpresas.

Não sabia quando haveria uma oportunidade como aquela novamente.

Acho que desejei com tanta força, com tanta vontade, que eu simplesmente fluí e me movi.

Quase senti a mesma dor que você deve ter sentido quando, ao procurar pelo objeto, não o encontrar e de tanto inclinar o corpo para o lado, cair.

Era triste e horrível te ver naquele estado tão sofrido e tremendamente ruim mas sem aceitar a derrota, te vi, se pôr de joelhos no chão e tatear aquele asfalto com as pupilas movendo-se de maneira tão agitada que eu podia chegar a acreditar que estava enxergando alguma coisa.

Ao engatinhar na direção, senti uma parte de mim se contrair quando sua mão alcançou a outra ponta da bengala e suspirou aliviado ao encontrá-la.

Tentou puxá-la para a agarrar com mais precisão mas eu não soltei.

Agarrei com mais força e com a ajuda de mais ramos, entranhei aquele pedaço de madeira em minhas folhas como se minha vida estivesse dependendo daquilo.

Te vi franzir o cenho e usar uma força mais abrupta para puxar mas estávamos em um cabo de guerra interminável.

Bastou que sua mão subisse mais alguns centímetros pelo comprimento do objeto para que você pudesse sentir a minha textura e como de imediato, senti uma sensação de alívio e fogo percorrer toda minha estrutura, como um inspirar profundo.

RoseDonde viven las historias. Descúbrelo ahora