VII

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Vinte e sete de abril de 1920

Belfort, França.

Nunca ficamos na posição pela qual estamos agora.

Nunca estivemos tão afastados um do outro como estamos agora.

Mal posso ver-te durante as últimas horas porque tu, nem sequer faz questão de passar por onde eu fico por pura vergonha, por não querer contemplar-me e não querer que eu te aviste.

Já criei várias imaginações e hipóteses de como viveríamos se um dia Oliver se ausentasse, mas de todos os meus pensamentos, nenhum deles chegava aos pés do que estamos de fato vivenciando.

Eu queria buscar meios de te ver, mas apenas de longe, porque desde o dia em que o velho se foi, meus espinhos nunca mais se esconderam, agora eles estão sempre mirados em direção ao vazio, procurando me proteger.

Nunca mais tive coragem suficiente de escondê-los, como passei toda minha vida fazendo.

Agora eu estava sempre atento, temeroso e medroso de que algo pudesse acontecer a mim enquanto adormecia.

Para falar a verdade, nunca mais consegui dormir, mesmo que minhas pétalas se fizessem mais murchas com a noite, eu ainda não conseguia descansar e estava começando a ficar exausta, assim como estou agora.

Sede, tenho sede, e não há de saciar a minha sede.

Há alguns metros, posso enxergar o regador ao lado da torneira que pinga de gota em gota, molhando e formando uma pequena poça no chão, e ah, como me sinto mais seca apenas de olhar aquela água pingando.

Pingando... Pingando...

Suas lágrimas também pingavam durante a madrugada, às vezes conseguia escutar sua súplica e choro baixo vindo da cozinha ou da janela de seu quarto.

É angustiante querer fazer algo e não conseguir, e eu queria te proteger, mas não podia.

Eu queria te abraçar, mas tinha medo.

A maldita cena daquela lâmina aproximando-se de minha esbelta beleza me atormenta dia e noite, a cada hora, a cada segundo, e não consigo mais afrouxar meus espinhos por conta daquela maldita cena.

Seus olhos carregados de lágrimas, sua mão empunhando aquela tesoura em minha direção, meu corpo a gritar e chorar... Quel terrible cauchemar.

Esquecestes das promessas que tenhas feito para mim de jamais machucar-me e de jamais deixar que ser algum me fizesse mal?

Precious prometer a à ton père em seu leito de morte que jamais ousaria machucar-me novamente, mas oque me garante que não fará novamente?

Vivo meus dias apavorada após aquele assombroso dia e sem nossas conversas e olhares, mon amour.

Meus dias tem se tornado blues.

Tem se tornado seule.

Tem se tornado sozinha como aquela estrela que vive mais afastada das outras no céu, aquela mais brilhante em que admiramos por mais tempo e ficamos encantados com a maneira como ela se destaca, mas permanece só.

RoseOnde histórias criam vida. Descubra agora