Capítulo 1

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Sarah Durand

     Suspirei cansada ao chegar ao interior, a placa de "bem vindo" foi como colírio para meus olhos, no relógio marcava 00:00, a viagem longa serviu para colocar meus pensamentos no lugar, eu admito que não sou muito acostumada com mudanças desse nível, o que é irônico já que minha vida em si é uma tremenda montanha russa. 

    Acabei de estacionar minha caminhonete em frente a casinha azul que eu sempre amei, é uma casa simples e antiga, não deve ter manutenção a uns anos e não é nada moderna, e eu confesso que eu amo, me sinto nos filmes em preto e branco que minha avó Amélia colocava para vermos.

    Desci da caminhonete vermelha já sentindo meus olhos se fechando, porém ainda tinha caixas e caixas para descarregar, eu achava que tinha pouca coisa até ter que tirar tudo do meu pequeno apartamento. Em um pouco mais de meia noite eu havia terminado de carregar as coisas para dentro, o cheiro de lavanda pela casa me lembrava tanto minha avó, a decoração me lembrava casinha de boneca e eu sempre fui apaixonada pelas flores que tem ao redor. 

    Sorri sentindo meus olhos marejarem assim que os mesmos pousaram em um porta retrato com uma foto minha e da minha avó, eu deveria ter uns 12 anos nessa época, foi no aniversário da minha avó, ela pegou folga nesse dia e o orfanato me liberou para ir darmos um passeio, comemos bastante sorvete, é até por isso que meu rosto estava todo lambuzado na foto.

— Como a senhora faz falta, vózinha- sorri nostálgica e passei a mão pelo rosto, limpando a lágrima solitária. 

   Fazia muito tempo que eu não vinha aqui então decidi, antes de tomar um banho mesmo, dar uma olhada na casa. A cozinha e a sala são como eu me lembrava, já o banheiro e o quarto parecem ter passado por uma reforma, ficou ainda mais perfeito. As coisas da minha avó, a maioria já tinham sido doadas, só ficou algumas que eu tinha um apego sentimental, como um casaco de lã que ela fez, era o meu preferido de todos, lembro de quando eu era pequena, sempre pegava escondido para me vestir dela, típica brincadeira de criança.

    Deitei na cama sentindo o cheirinho da vovó, ela vai fazer falta em todos os sentidos. Depois que a coragem de levantar veio, levantei abrindo uma das caixas que continham minhas roupas, peguei um pijama quentinho, pelo o que eu me lembre, a maioria das noites aqui eram frias e com ventos, algumas vezes chuvosas, mas durante o dia, nossa, é um calor do caramba. Hoje não está chovendo mas o vento gelado se fazia presente.

    Tomei um banho bem gostoso de banheira, relaxando e deixando de lado tudo que aconteceu e vem acontecendo ultimamente, é cansativo não ter amigos nem família para pelo menos conversar sobre a novela que acabou, ou sobre o clima, conversas bestas mesmo. Logo me vesti e deitei para dormir, como eu estava bem cansada, não demorou muito para que isso acontecesse.

[...]
07:00

— Oh de casa, tem alguém acordado? - remexi na cama querendo que fosse só um sonho - Eiiii, tem alguém aí, eu estou vendo o carro na garagem - pelo visto não é sonho mesmo.

    Respirei fundo passando a mão no rosto e me estiquei toda para ver se acordava mais, antes claro, passei no banheiro para fazer minhas coisas, eu que não iria atender ninguém do jeito que eu estava, prendi meu cabelo em um coque e fui em direção a porta, abri a mesma devagar e encontrei uma sombra enorme me encarando, esse homem deveria ter quase dois metros, ele tinha os cabelos castanhos um pouco abaixo da orelha e ondulados, seus olhos eram um castanho quase preto e a pele bronzeada.

— Sim? - perguntei meio apreensiva, poderia ser um morador, como também poderia não ser, eu nunca tinha visto ele por aqui, bom o que não muda muita coisa porque convenhamos que eu não conheço quase ninguém nessa cidade.

Na noite em que eu te encontreiWhere stories live. Discover now