𝐋𝐮𝐱𝐮𝐫𝐲 → ᴛᴀᴇᴋᴏᴏᴋ '

Glass

Vídeo quebrado machuca, machuca p'ra valer!

Dói tanto que um simples remédio não tem o poder de curar sua ferida ou sumir completamente com a dor — no máximo te deixaria anestesiado, mas a dor voltaria cedo ou tarde. E mesmo que a dor suma algum dia, sempre vai ter alguma cicatriz que te lembrará das seus traumas — trazendo assim seu tormento emocional.

Você é cheio de cicatrizes como eu né Jungkook? Eu só tenho cicatrizes emocionais, mas você ainda sente dor, muita dor! Tanta dor que usa o mesmo caco de vidro que te feriu para ferir as outras malditas pessoas, na esperança que elas entendam que um simples remédio não vai funcionar.

Vidro! A janela no final do corredor é de vidro! Eu estava cara a cara com o meu pior e mais recente pesadelo, conhecido como o meu sequestrador — mas minha única possível saída estava á metros de nós.

Sem esperar nem um segundo em desviei do garoto e corri na direção da janela, e num impulso rápido me atirei sobre ela. Eu nem acredito que atravessei uma janela de vidro por puro e espontâneo desespero! Eu caí com tudo no chão e como o esperado, me cortei com vários resquícios do vidro da janela.

Os cortes estavam ardendo, mas a brisa razoavelmente gelada do vento aliviou as coisas um pouco. Eu até ficaria agonizando por um tempo mas escutei os passos rápidos do garoto vindo na minha direção, então em um impulso dolorido eu me obriguei a ficar de pé.

Nessas circunstâncias, correr sem nem olhar para trás com certeza é a coisa mais sensata a se fazer — no caso foi exatamente o que eu fiz. Eu estava acabado, porém eufórico em finalmente está livre daquela fábrica. Sei que ainda tenho que despistar o garoto é dar um jeito de fugir dalí, mas essa vitória já me deixou com mais esperanças do que antes!

Eu conseguia escutar seus passos pesados correndo atrás de mim e mesmo com a vantagem de alguns metros, eu sabia que ele é bem rápido, muito rápido mesmo!

Você amava brincar de pega-pega, no caso eu sempre perdia — nunca ví alguém correr tão rápido quanto uma lebre, bem... tirando o Jeon.

Estava de noite, a única coisa que iluminava aquele lugar era a luz da lua cheia — eu sempre amei a lua por ela ser o maior reservatório de segredos de todos. Ela está sempre lá escutando nossos segredos, apreciando o amor dos jovens e consolando toda a nossa tristeza com a sua beleza exuberante.

— NÃO CORRE TETE! VOCÊ SABE QUE EU VOU TE ALCANÇAR! — Jeon berrou em fúria enquanto acelerava os passos atrás de mim, parecia que a força de vontade dele era infinita.

Percebo que tinha uma coisa nas redondezas que poderia salvar minha vida, uma floresta! Sei que vocês devem estar achando que eu sou louco por entrar logo no meio do mato com um psicopata me perseguindo, porém na realidade eu me dou bem com florestas. Desde que eu consigo me lembrar sobre o meu passado, eu sempre fui em acampamentos e/ou trilhas na floresta — então eu sei me virar melhor do que ninguém nessas condições!

Realmente! Todas as aventuras no acampamento de verão que eu considerava serem chatas, acabaram salvando a minha vida!

Quando me dei conta já estava me esgueirando no meio das árvores enquanto corria com tudo, eu ainda sentia a dor dos cortes — contudo, minha vontade de sobreviver é bem maior. Eu consegui ficar um pouco mais distante dele por tomar uma direção contrária, descendo a mil por um barranco íngreme.

— Sinto lhe dizer Jungkook, mas esse é meu território — falo vendo que cheguei ao final da floresta, ele estava perto da cidade.

Corro na direção dos prédios é casas da pequena cidade como se minha vida dependesse disso, no caso realmente dependia. As ruas estavam vazias, totalmente solitárias, tinham decorações estranhas nas casas, bom foi nesse momento que eu caí na realidade.

Estamos no Halloween! Normalmente nessa época de noite todos os moradores da cidade se reúnem no colégio da cidade, para comemorar o dia das bruxas juntos. O lugar era muito longe, eu não tinha muito tempo e só me lembrava de uma pessoa que poderia me ajudar nessa situação!

O namorado da minha irmã também tem um irmão, que por sinal é polícial. Ele odeia o Halloween, então sempre passa sozinho em casa maratonando algo na televisão — por sorte a casa dele é daqui uns dez minutos a pé.

Escuto um alarme de carro numa rua próxima, coisa que me faz apavorar pois eu sabia o que aquilo significa — ele estava perto, muito perto.

Vejo um skate jogado no quintal de uma casa qualquer e então suspiro aliviado, pego o objeto já não me importando se àquilo era um furto ou não. Subo em cima do skate decorado com grafite e então começo a passar rápido pelas ruas desérticas do bairro, pedindo a Deus para que eu não desse de cara com àquele maníaco.

Sobre o skate, a viagem que antes demoraria dez minutos reduziu o tempo pela metade. Minha adolescência se resumiu a pistas de skate, bibliotecas é fumar com alguns amigos na parte de trás da escola. Ainda bem que eu parei com o cigarro, ou então minha bronquite asmática poderia estar bem pior.

Por falar nela, eu estou sentindo meu pulmão arder como um corte quando se encontra com álcool puro. Sabe o mais engraçado disso tudo? A lua está linda, a noite está fresca, as estrelas brilhavam sem parar no céu — porém eu não estava achando a noite bonita como sempre achei.

Pelo contrário, eu sentia algo parecido com o medo, uma sensação que eu nunca experimentei antes, um sentimento tão confuso que me dava vontade de chorar.

Hoje em dia eu sei muito bem o que era, a sensação era um misto de alívio, nostalgia e arrependimento. Foi naquele momento que eu senti a pior dor de cabeça da minha vida, quando recuperei uma lembrança.