Capítulo 3

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Capítulo 3

 

Rio de Janeiro

 

            A noite havia chegado à cidade maravilhosa e a temperatura mostrava-se mais agradável, com o vento soprando do mar.

             Daniel estava sentado junto à escrivaninha do seu quarto, em frente aos livros do colégio, no quinto andar do edifício onde morava. Além de uma cama e guarda-roupa, também havia ali uma estante, cheia de livros e algumas miniaturas, e no alto dela, há muito esquecido, repousava um capacete grande e branco de um soldado Stormtrooper, um presente de uma amiga de seu pai, e que segundo Will, teria o conseguido com um dos membros da equipe de filmagens dos filmes da franquia Star Wars e decido presentear o filho do amigo, na tentativa de amenizar o sofrimento do garoto que tinha acabado de perder a mãe. Nunca conheceu a mulher, mas ficou extremamente feliz com o presente. Em uma das paredes haviam vários desenhos das personagens favoritas de Daniel, feitos por ele mesmo, e que Will mandara emoldurar no intuito de incentivar aquela habilidade do filho. Ao lado dos desenhos estava um pôster grande, em preto e dourado, de Darth Vader apontando para quem o olhava, com a frase que mais parecia um chamado, logo abaixo do Sith: Your empire needs you.

             Por um instante Daniel parou os estudos e reparou o porta retrato com a foto dele e Will na última São Silvestre. Por mais que seu pai lhe negasse alguns pedidos, era um grande companheiro, compartilhavam bons momentos juntos, os quais desfrutavam realizando caminhadas, corridas, trajetos de ciclismo e, aquele do qual Daniel mais gostava, paraquedismo.

             Mas as coisas nem sempre foram tranquilas entre ele e o pai. Houve uma parte da sua adolescência que foi conturbada. Daniel gostava de esportes e poderia ganhar qualquer competição, tinha o que alguns chamariam de habilidades especiais, embora o garoto achasse que aquilo estava mais para uma aberração. Seu pai dizia que essas coisas chamavam atenção demais, e chamariam a atenção das pessoas erradas. Isso, por certo tempo, revoltou o garoto, e as brigas entre pai e filho, inevitavelmente, tornaram-se constantes. Foi somente após a explosão no banheiro da escola que Daniel entendeu o que Will sempre quis fazer. Protegê-lo. A partir daí, as coisas entre eles voltaram ao normal e seu pai tornou-se novamente seu grande companheiro.

             Daniel não deixou de olhar o outro porta retrato sobre a escrivaninha, com a foto da sua mãe. Angelina estava sentada em um balanço, no jardim da casa herdada dos pais, em Long Beach, Califórnia. Era verão. Ela sorria enquanto abraçava Daniel, que se escondia entre as suas pernas. A alegria estampada na face do garoto denunciava como haviam sido bons aqueles anos. Agora, restava apenas a saudade.

             No instante seguinte algo lhe trouxe de volta a realidade.

             Longe, e ainda baixo, ele ouvi um som metálico. O barulho parecia-se com um grande motor trabalhando. Ora mais forte e ora mais fraco. Em alguns momentos tornava-se ainda mais estridente, como uma cadeira sendo arrastada pelo chão. O som era semelhante ao mostrado por Hugo, naquela manhã.

             Foi até a sala querendo saber se seu pai também escutava aquilo.

             Will Baker estava em pé na sacada do apartamento. Ele olhava em direção ao mar, para uma tempestade que se formava não muito longe dali. A cortina junto a porta subia empurrada pelo vento. Pessoas corriam, lá embaixo na rua, buscando abrigo para uma provável chuva. E as ondas na praia estouravam cada vez mais forte.

             — Está escutando isso, pai?

             — Sim – respondeu Will, concentrado.

             A televisão na sala mostrava o noticiário do horário nobre. Will percebeu quando o repórter chamou a mulher do tempo. Ele olhou o monitor e Daniel acompanhou.

             Para o Rio de Janeiro, o tempo ficará aberto e o sol brilhará nos próximos três dias. Chuva e temperatura mais amena, apenas no final de semana – narrou a mulher em frente a um quadro com gráficos.

             Os dois se entreolharam. Ou a mulher do tempo não sabia nada de meteorologia, o que não seria de se espantar, ou algo estava muito errado ali.

             Aquele som metálico ficou mais alto, parecendo estar cada vez mais próximo, assim como a tempestade.

             — Daniel, vá para o seu quarto. Pegue uma mochila e coloque algumas trocas de roupas. Agora!

             O garoto não entendeu, mas cumpriu a ordem imediatamente. A julgar pela atitude ríspida do pai, algo não estava certo. Talvez fosse a iminência de um furacão, uma tsunami ou outro cataclismo. Mas ali? No Brasil? No Rio de Janeiro? Era pouco provável. Ele não tinha ideia do que fosse, mas imaginou que seu pai soubesse.

             Enquanto Daniel socava algumas roupas na sua mochila, Will correu para o seu quarto, pegou uma pistola Glock sob o colchão da cama e a colocou na cintura. Abriu o armário e, de um compartimento falso, retirou alguns pentes de munição, duas granadas de efeito moral e uma chave. Em seguida, pegou uma bolsa que sempre guardava pronta para uma emergência. Aquela era uma emergência.

             Voltou para a sala e viu que Daniel já estava pronto.

             Antes que saíssem, Will foi até um quadro que ficava pendurado na parede oposta à porta de entrada do apartamento. Era uma pintura de Angelina, ainda jovem, do tempo em que ela tinha toda a vida pela frente. Pegou-o em suas mãos. Sabia que não tinha muito tempo. Na verdade, estava errado. Não tinha tempo algum.

             Virou-se para a entrada do apartamento.

            Era tarde demais, alguém ou alguma coisa já estava à porta.

O Explorador de Mundos - A Esfera de CristalWhere stories live. Discover now