Capítulo 14

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   Quando Daniel e Hugo saíram do banco, o sol estava alto o bastante para indicar a hora do almoço. Muitas das lojas no entorno serviam algum tipo de comida ou bebida. Restaurantes, cafés, uma casa de caldo de cana, e lojas de chocolates. O cheiro no local era instigante para alguém com o estômago vazio.

    Hugo não aguentou.

    — Ei, Dan. Preciso comer, cara.

    O amigo concordou e pararam em um café, mas não antes de Daniel lembrar o gordinho de que não tinham muito tempo.

    Enquanto Hugo enchia a barriga, Daniel não parava de pensar em seu pai e nas garotas. Estava preocupado demais e aquilo atrapalhava seu apetite. O outro, também estava preocupado, mas naquele momento, nada era mais prioridade que sua fome.

    O televisor fixado na parede mostrava o jornal do meio-dia. Daniel acompanhava as notícias enquanto os dois conversavam. Parou o refrigerante pela metade, quando viu as fotos do seu rosto e do seu pai estampadas no monitor. No rodapé da tela, a chamada indicava que eram sequestradores procurados pela polícia do Rio de Janeiro e autoridades internacionais. A repórter dizia algo sobre atos terroristas praticados nos Estados Unidos.

    — Mas que merda é essa agora?

    Hugo acompanhou os olhos de Daniel e virou-se para olhar o televisor.

    — Caraca! – soltou, ao mesmo tempo em que voltou-se para o amigo. — E agora, Dan?

    — Não sei. Acho que a primeira coisa a se fazer é sair daqui.

    Por sorte, o estabelecimento só lotaria em vinte minutos, e as poucas pessoas no local estavam preocupados demais com seus próprios problemas para dar atenção às notícias num televisor.

    Hugo pagou a conta e mais que depressa eles deixaram o café.

    Daniel precisava decidir o que fazer. Ligar ou não para o número que encontrou no cofre? Os fatos aconteciam rápidos demais e ele já não sabia em quem confiar. De qualquer forma, para saber quem estaria do outro lado da linha, precisava fazer a ligação... e de um telefone público.

    — Cara, já pensou quando o Roni ver essa notícia? – disse Hugo, enquanto caminhavam pela calçada.

    O outro não respondeu. Só pensou.

    — Daniel! – alguém gritou seu nome.

    Eles reconheceram a voz, e Hugo congelou. Viraram-se e avistaram, ao longe, um rapaz alto e forte, acompanhado por outros dois. Era Roni.

    Após a notícia do sequestro das garotas correr entre os alunos da escola, Roni foi até a casa de Hugo, afinal ele quase sempre estava com Daniel. Acreditou que poderia encontrar o seu adversário lá. Mas se deparou apenas com a mãe do gordinho, a qual lhe informou que seu filho havia deixado um bilhete informando ter ido até um banco, no centro da cidade, com o amigo. Roni e seus companheiros se dirigiram imediatamente para o local e, contando com a sorte, acabaram encontrando os dois.

    Roni estava furioso, e a julgar por sua fisionomia, também estava decidido sobre o que faria. Isso não pareceu boa coisa para Daniel. Pelo visto, as notícias haviam se espalhado rápido demais.

   É verdade que, durante um bom tempo, Roni parecia ter se esquecido de Daniel. Não o perturbava mais no colégio. Daniel sabia o porquê, Hugo ainda não. Mas com os boatos de que Will Baker e seu filho sequestraram Carol, a namora de Roni, este parecia não se importar mais com o que havia acontecido dois anos antes, no banheiro da escola.

    Roni levantou levemente a sua camiseta preta, deixando que Daniel visse o brilho do revólver preso na cintura.

    — Hugo, lembra-se da catedral perto de onde descemos do ônibus? – disse Daniel, e o amigo confirmou com a cabeça. — Vá pra lá, agora.

O Explorador de Mundos - A Esfera de CristalWhere stories live. Discover now