Capítulo 5
O garoto fugia.
Collins precisava agir rápido. Enquanto os soldados prendiam Will Baker, o agente voltou para a frente do edifício, onde o diretor Ed Smith acabava de chegar com um Chevrolet Malibu preto.
— Pegamos Baker, mas o garoto fugiu – disse o agente ao superior.
— Que incompetência, Collins. Não é capaz de capturar um moleque – disse o diretor destilando toda sua raiva. — Pegue o carro e vá atrás dele – concluiu indicando o Malibu.
Em disparada para o Leste, pela avenida que se prolongava pela orla da praia de São Conrado, Daniel tinha apenas uma noção para onde estava indo. Bem mais a frente, era possível ver as luzes da cidade onde o pulso eletromagnético não havia chegado. O reflexo delas nas nuvens baixas permitia que ele visse, um pouco melhor, tudo que fosse branco, como as ondas do mar que quebravam a sua direita. Mas não lhe permitiu ver o veículo escuro parado no meio da via. Chocou-se com toda a força contra o automóvel e caiu ao chão, junto com o vidro traseiro todo estilhaçado. Esperou o alarme tocar e denunciá-lo. Nada aconteceu. Apenas silêncio.
Quando ainda se levantava, outro carro apontou longe na avenida. Vinha com os faróis acesos. Rapidamente Daniel voltou a correr. As luzes do veículo ainda eram débeis, mas clarearam o suficiente para que ele visse, ao seu lado esquerdo, os troncos de alguns coqueiros que se projetavam detrás de um muro de pedra.
O campo de golf, deduziu.
Era um bom lugar para se esconder naquela escuridão. Aumentou as passadas rumo à parede e saltou alcançando o alto do alambrado de quatro metros de altura. Jogou seu corpo para o outro lado e com um rodopio caiu em pé, dentro do campo de golf.
O Malibu preto, que vinha pela avenida, parou mirando os faróis no veículo amassado e com o vidro esparramado pelo chão. O agente avaliou o local, soube que estava no caminho certo e seguiu em frente.
Enquanto isso, Daniel atravessou todo o descampado até chegar na outra extremidade do campo de golf. Uma barreira de árvores, que se antepunha a uma grade, o separava da Autoestrada Lagoa-Barra. Com um pouco de esforço rompeu os obstáculos e ganhou a rua.
Vários carros estavam parados na via, todos sem vida, com exceção de um fusquinha, com os faróis acesos e o motor tossindo baixo, impedido de andar em meio aos mortos. Motoristas, passageiros e pedestres encontravam-se por ali, aturdidos pelo apagão. Um homem tentava em vão usar seu celular. Algumas crianças choravam e uma mulher parecia desesperada com a possibilidade de serem assaltados. Outros abandonaram seus automóveis e começaram a caminhar. Percebendo a oportunidade de se esconder, Daniel passou a andar entre eles.
Algumas dezenas de metros à frente as luzes não haviam se apagado. Ao se aproximar da parte iluminada da cidade, teve certeza de onde estava. Caminhava em direção ao Túnel Zuzu Angel e a Favela da Rocinha.
Enquanto se misturava entre as pessoas, olhou por sobre o ombro e viu dois faróis que vinham lentos.
E agora. Daniel esperou que não fosse um dos agentes. Acelerou os passos.
Por azar do garoto, Collins trazia consigo um identificador de ondas ELF, capaz de identificar emissões de baixa frequência. O monitor do aparelho mostrava, em uma tela monocromática, o vulto de várias pessoas caminhando pela calçada, apenas uma delas brilhava destoando das demais. Collins não teve dúvidas.
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O Explorador de Mundos - A Esfera de Cristal
Science FictionDaniel mudou-se para o Rio de Janeiro com o pai, há alguns anos, após a morte de sua mãe. Sempre escondeu de todos o seu segredo, até mesmo dos amigos Hugo e Elisa, e por causa dele, acreditava ser uma aberração, ao menos até o ocorrido no colégio...