Manchester By The Heart

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O vento sopra e assanha seus fios louros, assim que a miro vejo-me refletido em seu Ray-Ban escuro, tenho as mãos no volante e esta estrada de paralelepípedos parece até bem plana do que costumava ser. Taylor tem os pés sobre o porta-luvas e quando não me observa, seus olhos se aventuram pelas planícies alternadas entre verde e marrom do campo; neste momento a vida é boa, quero salvá-lo para visitar sempre que puder.

Arranco a Polaroid da valise no banco de trás, ainda com os olhos na estrada improviso um enquadramento na musa e pressiono o botão, o ruído da impressão a traz de volta ao carro e a fotografia sai da câmera aos seus dedos.

— Que bela! — quando espio o retrato vejo-a tão tranquila, tão alegre e contemplativa. Desejo dentro de mim mantê-la assim para sempre. — Minha vez!

Entrego-lhe a máquina, tento não parecer superficial — acredite, não é lá muito fácil, anos e anos de prática inversa. O botão desce, um segundo ruído sucede-se, ela sacode a fotografia e diminuo a velocidade para analisar com mais calma o Harry de segundos atrás, pareço confiante e pareço feliz!, talvez essa fora tão má ideia e mal creio tê-la sugerido.

— Cuidado... — diz-me. — Não queremos outra cicatriz.

— O sujo falando do mal lavado!

— Ei!

Sopro-lhe um beijo no ar e o possível bate-boca se dissolve.

Veja, me diga você, não seria lindo um casamento aqui? Bem no coração de Manchester, onde voam os pássaros solfejando harmonias de amor e onde paparazzo algum se intrometeria? Ah, sim, decerto seria, só os amigos e a família. Quando amigos são família e a família também é amizade. Eu nos quero isso.

Toco o painel do carro, atendendo uma chamada. — Fala!

— Harry? Onde está? — indaga Paul.

— De volta ao lar!

— Com a banda?

— Não, não... — noto Taylor meneando um não com a cabeça. — Estou só.

— Vai ver a família?

— Provavelmente!

— Ótimo, ótimo! Quando tiver tempo, me dá um toque, tive uma conversa com Liam e Niall, precisamos falar sobre a banda.

Meu coração acelera, o carro perde velocidade outra vez, respiro fundo. — É urgente?

— Bom, não exatamente. Mas uma decisão precisa ser tomada, garoto.

— Nos falamos depois!

Ele assente e eu encerro de imediato a chamada.

Sinto a mão dela eclipsando a minha sobre a haste da marcha, quero fechar os olhos, quero estacionar e gritar ao nada. Estou cansado...

— Hoje não — ouço-a e meus olhos reencontram a fotografia recente, já estou tão distante daquele momento, embora tê-lo ao alcance âncora-me a ele.

— É mais fácil contigo aqui — retruco.

Ela passa o indicador pelo Spotify, a canção Patience, de Guns N' Roses, cresce nas caixas de som. Lembro de nossas conversas e sinto-me hipócrita quando não atendo à canção que tanto parafraseio.

— De vez em quando você me lembra ele — confessa-me.

— Quem? O Axl?!

— Uhum!

— Não! Por favor, ele é muito...

— Calma, Styles, não a pessoa, mas às vezes o jeito que você sorri, o jeito que você se move no palco e principalmente a bandana! — ela ri e posso concordar sem tanto medo da sombra de Rose. — E não duvido que o Axl tenha uma cicatriz de briga parecida. Alguns agudos seus são bem a cara dele, nos velhos tempos que o rock conseguia ser trend topic, você não tem o gingado dele, o que é uma pena!

— Ei!

— Tudo bem, eu sei que é pedir demais de um inglês.

— Eeeei!!

— Mas a outra metade que não é Axl, é Jagger e isso equilibra.

— São bons exemplos, mas gosto de evitar.

— Comparações nem sempre funcionam bem.

— Não...

— Você está ótimo como você mesmo!

Pelo menos é tudo o que me resta à essa altura.

"Said, sugar, take the time
'Cause the lights are shining bright
You and I've got what it takes to make it..."

I Knew You Were TroubleOnde histórias criam vida. Descubra agora